Por Davi Pascale
Fotos: Camila Cara/Monsters of Rock
Monsters of Rock fecha sua sexta edição com os mascarados do Kiss.
Em torno de 40.000 pessoas compareceram e curtiram uma bonita noite com
atrações para ninguém botar defeito.
Estive na primeira edição do Monsters of Rock, realizada no Estádio
do Pacaembu em 1994, justamente para assistir ao Kiss. Naquela primeira edição,
o cast era bem dividido: 4 atrações nacionais, 4 internacionais. Provavelmente
faltou cash para trazer mais gringos na primeira vez, mas é fato que poderiam
ter dado mais espaço para artistas brasileiros na nova edição. Pelo menos, uns
2 por noite. Ontem, tivemos apenas 1 brasileiro se apresentando: o fraco Dr.
Pheabes.
Iniciando sua apresentação em
torno de 12:15, em um dia ensolarado, bem que os caras tentaram, mas não
conseguiram convencer. A qualidade do som não estava ruim, estava até mais alto
do que a banda seguinte, mas as composições são muuuuito fracas. Não via a hora
do show acabar. Ainda bem que não demorou para acontecer. O único momento que
levantaram a galera foi quando entrou uma loira no palco para ficar fazendo
danças sensuais. Quando uma dançarina convidada arranca mais aplausos do que a
banda em toda sua apresentação, é hora de repensar a carreira. Na sequência,
tivemos a apresentação do satírico Steel Panther. A banda está na ativa desde
2000, mas seus músicos já estão na estrada desde muito antes. O ótimo vocalista
Michael Starr, por exemplo, se chama Ralph Saenz e fez parte de uma das
inúmeras formações do L.A. Guns. O guitarrista Satchel é o Russ Parrish que fez
parte do projeto War & Peace de Jeff Pilson (Dokken) e do Fight de Rob
Halford (Judas Priest). Tarimbados, os músicos fizeram um show redondo e
ganharam a platéia com seu deboche e suas ótimas composições. Apresentação
divertida e muito bacana.
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Steel Panther empolgou o publico, mesmo sem ter hits no país |
O egocêntrico e talentoso Yngwie
Malmsteen veio a seguir. Verdade seja dita, o cara é dono de uma ótima
trajetória, com vários discos considerados clássicos, além de ter lançado um
novo estilo de tocar guitarra. Não tenho a menor duvida que, sem Yngwie, vocês
jamais teriam ouvido falar de um cara como Timo Tolkki, por exemplo.
Infelizmente, o rapaz não atravessa uma fase maravilhosa. Conhecido por seu
perfeccionismo, decepcionou ao subir ao palco com um som extremamente mal
equalizado (o pior do festival), poucos clássicos e a ausência de um vocalista
de frente. Conhecido por ter popularizado grandes nomes do seguimento como Jeff
Scott Soto e Michael Vescera, dessa vez quem ficou responsável pelos vocais foi
o tecladista Nick Marino, que não frustrou, mas também não brilhou. Apenas
cumpriu seu papel. Muito pouco para um artista da magnitude de Malmsteen.
Aqueles que, como eu, tiveram a oportunidade de conferir suas duas primeiras passagens
no país, ambas no extinto Olympia, sabe que ele é capaz de mais, muito mais...
O próximo a se apresentar foi o
Unisonic. O grupo ficou famoso por reunir novamente a dupla Kiske/Hansen. Estava
com uma grande expectativa, afinal sou um grande fã de Helloween, Gamma Ray e
gostei muito dos discos do conjunto. Consegui ver o Helloween de perto algumas
vezes (a primeira, aliás, no Monsters
de 1996), mas sempre com Andi Deris nos vocais. Não consegui comparecer quando
o novo grupo veio ao Brasil 3 anos atrás, portanto minha expectativa era a
alta. E foi correspondida. Os rapazes deram uma aula de heavy metal com um show
extremamente profissional. Michael Kiske provou que a idade não fez mal às
cordas vocais. Pelo contrário, o cara roubou a cena em diversos momentos com
seu enorme alcance e seu incrível carisma. Se Andre Matos assistisse esse show
se aposentaria no dia seguinte. A platéia recebeu bem as composições de seu
novo álbum, Light of Dawn, e foram ao delírio nas (poucas) canções
do Helloween. Em especial, no clássico “I Want Out”.
Accept veio a seguir e não deixou
pedra sobre pedra. Sem duvidas, um dos melhores shows da noite. Com uma
formação extremamente afiada, o que chega a ser impressionante já que o
guitarrista Uwe Lulis e o baterista Christopher Williams chegaram há
pouquíssimos meses, os caras levaram a galera ao delírio. Os lendários Wolf
Hoffman e Peter Baltes continuam extremamente precisos em suas performances. Mark
Tornillo provou ser a escolha correta na difícil tarefa de substituir o não
menos lendário Udo Dirskschneider. No set, apresentaram canções de sua nova
fase, além de inúmeros clássicos como “Fast As a Shark”, “Restless & Wild”,
“Princess Of The Dawn”, “Metal Heart” e “Balls To The Wall”. Mortal!
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Accept prova estar em grande fase e se destaca no festival |
A próxima atração seria o
polêmico Manowar. Embora contem com uma platéia grande e extremamente fiel,
sempre houve quem torcesse o nariz para os caras, por conta de seu visual e das
brincadeiras que fazem com o público durante o show. Para piorar a situação,
sua ultima passagem ao país havia decepcionado grande parte dos seguidores,
onde eu me incluo. Teriam a difícil tarefa de não apenas convencer os detratores,
mas de reconquistar uma boa parte de seus antigos fãs. Dessa vez, acertaram em
cheio. Diminuíram as brincadeiras, rolou apenas um discurso do baixista Joey De
Maio, e focaram nos clássicos. O vocalista Eric Adams continua com a voz
extremamente potente e os músicos afiados. Até teve um ou outro erro, mas nada que diminuísse a apresentação. O único senão é
essa mania de querer ser a banda mais alta do universo que, em alguns momentos,
joga contra o grupo. O som extremamente alto, por vezes, deixa o som estridente
demais, como se pôde notar em diversos momentos do show. O set foi espetacular e não faltaram canções
como “Metal Daze”, “Hail & Kill”, “Sign Of The Hammer”, “Battle Hymns” e “Black,
Wind, Fire & Steel”. Apagaram a imagem ruim que haviam deixado na
outra vez.
O lendário Judas Priest veio a seguir.
Conhecidos por serem um dos pioneiros daquilo que hoje é conhecido como heavy
metal, os caras possuem musicas suficientes para fazer 2 shows repletos de
clássicos se quiserem, o que levantou a polêmica de repetir o set de uma noite
para outra (eles foram o único a se apresentar nos dois dias de festival).
Polêmicas à parte, o grupo britânico fez um bom show. Rob Halford demonstrou
que continua com o gogó intacto, Richie Faulkner se adaptou bem ao grupo. O set
foi bem cadenciado misturando faixas de seu novo disco, o (razoável) Redeemer of Souls, com canções de sua fase oitentista como “Jawbreaker” e “Turbo
Lover”, sem se esquecer de clássicos atemporais como “Painkiller”, “Breaking
The Law”, “Metal Gods” e “Living After Midnight”.
E eis que finalmente chega a hora
do quarteto mascarado subir ao palco. Com um atraso de pouco mais de meia hora
e com uma produção de palco um pouco mais simples do que o de costume (dessa
vez, não tivemos o palco descendo do teto e também não trouxeram a famosa
aranha), os caras fizeram a espera valer.
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Kiss emocionou os presentes com clássicos e arriscando palavras em português |
A noite se iniciou ao som do hino
“Detroit Rock City”, emendando nos petardos “Creatures Of The Night” e “Psycho
Circus”. Justamente os sons que abriram as apresentações de 2012, 1994 e 1999
(sim, fui em todas elas). Mais nostálgico, impossível! Aqueles que acompanham a
banda de perto, sabem que Paul Stanley sofre de problemas nas cordas vocais
desde 2008, tendo passado por uma cirurgia, inclusive, em 2012. Portanto, já
sabíamos que não deveríamos esperar que estivesse com a mesma força vocal de
seus tempos áureos. Embora venha sofrendo fortes críticas à algum tempo, saí
satisfeito com sua performance. Teve alguns deslizes, mas nada que comprometesse o espetáculo.
Donos de uma trajetória de mais
de 40 anos, os caras sempre souberam conquistar uma platéia e no show de ontem
não foi diferente. Os músicos fizeram suas famosas brincadeiras de disputar
qual lado gritava mais alto, arriscaram algumas palavras em português e
presentearam o publico de SP com uma musica que não foi apresentada nas outras
cidades, “Parasite”. Donos de um carisma incrível,
especialmente a dupla Stanley/Simmons, os músicos fizeram todos os números que
se espera um show do Kiss: Gene Simmons cuspindo fogo, babando sangue e levitando, Tommy
Thayer fazendo um solo disparando fogos de sua guitarra, Paul Stanley voando na
tirolesa e quebrando guitarra no final da apresentação, a famosa chuva de
confetes e explosão de fogos de artifício.
Com um set recheado de clássicos –
onde não faltaram canções como “Shout It Out Loud”, “Do You Love Me”, “Calling
Dr Love” e “I Love It Loud” – e uma banda super bem entrosada, os músicos
fizeram uma apresentação mágica, emocionando os presentes e demonstrando o
porquê de sua musica atravessar décadas, apesar da perseguição da imprensa
durante toda sua trajetória. Que voltem mais vezes.