quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Lenny Kravitz – Strut (2014)



Por Davi Pascale


Os anos 90 foram marcados por um retorno às raízes com um som mais cru. Se a galera da cena alternativa buscava referência na poesia de Neil Young, na crueza do punk e no peso do metal, outros artistas buscavam uma sonoridade mais encorpada, porém não menos retrô. Entre esses, destacavam-se o Black Crowes com seu rock n roll à la Stones e o musico Lenny Kravitz que misturava a vibe hard rock do Zeppelin, com a aura flower power e influências da Motown. Essa semana chegou às lojas brasileiras seu décimo álbum, Strut. O que esperar dele?

Lenny é, sem dúvidas, um dos artistas mais completos da sua geração. Multi-instrumentista, compositor, letrista, se envolve em tudo que esteja relacionado à sua música. Da criação à produção. O cara não para e se atira em uma nova empreitada. Depois de se aventurar como ator, volta à investir pesado na área musical criando a Roxie Records. O primeiro lançamento do selo não poderia ser diferente. Seu novo álbum Strut. Difícil imaginar um musico tão habilidoso e ousado, que não se utiliza do sucesso como desculpa para se aquietar. O único artista que me vem à mente com todas essas qualidades é o egocêntrico Prince, que por sinal também está para lançar novo material. Aliás, existem mais algumas coincidências entre os dois. Uma é a fusão do funk e do rock com uma linguagem mais pop. Claro que cada um com suas peculiaridades, com sua marca, mas a essência é parecida. Tem ainda o lance de explorar o lado sex-appeal. Prince sempre foi mais espalhafatoso nesse sentido, mas Kravitz não está longe desse universo. Sempre aparecendo em campanhas de grife, participando de eventos de moda. Parece gostar da brincadeira. A única diferença entre os dois seria uma maior aproximação de Prince com a música dançante. Diferença que não existe mais.

As duas primeiras faixas, "Sex" e "The Chamber", apontam esse caminho. Um Lenny Kravitz pop ao extremo com uma pegada 80´s e uma maior aproximação da disco music. Curiosamente foram escolhidas justamente como as duas primeiras musicas de trabalho. "Sex", embora possa assustar em um primeiro momento, é bacana, divertida. Não está entre as melhores composições do rapaz, mas agrada. Já "The Chamber" é facilmente a pior faixa do trabalho. Pra falar a verdade, é a unica que acho que não deveria ter gravado nesse disco. O lado rock que conhecemos e tanto admiramos em Kravitz não tarda a chegar. A ótima "Dirty White Boots" traz as guitarras falando alto nos remetendo um pouco à "Fly Away". A animada "I´m a Believer" e a empolgante faixa-titulo são duas que certamente agradarão aos fãs mais antigos.

Novo álbum é trabalho de estreia de Roxie Records, selo do cantor


Muitos artistas negam gostarem de baladas e muitos fãs de rock tendem a criticar artistas que exploram as baladas. Utilizando o termo aqui para se referir à musicas romanticas mesmo, não estou falando de musica de pista de dança. Costumam dizer que é musica para garotas e que o musico vai para esse caminho para ganhar dinheiro, já que é mais fácil emplacar uma faixa nesses moldes nas rádios. Mesmo artistas de grande expressão, como Aerosmith e Bon Jovi, são duramente criticados por isso. Lenny nunca deu bola para essas reclamações e sempre explorou bastante em seu trabalho. Do mesmo modo que é lembrado por riffs inesqueciveis como os de "Always On The Run", "Are You Gonna Go My Way" e  "Rock n´ Roll Is Dead", também é bem lembrado por baladas como "Can´t Get You Off My Mind", "Stand By My Woman" e "If Ain´t Over ´Til It´s Over".

Nesse novo trabalho, a situação não é diferente. Várias aparecem por aqui. E muitas estão entre os pontos altos do CD. Entre elas, destacaria "The Pleasure And The Pain", "I Never Want To Let You Down" e a grandiosa "She´s a Beast". Essa última poderia facilmente receber uma regravação do Black Crowes e os fãs dos irmãos Robinson nem notariam que estavam ouvindo uma canção de Lenny Kravitz. Embora não seja de fazer albuns mais do mesmo, o musico sempre manteve suas origens. O lado funk volta a aparecer em faixas como "New York City". Os tempos de Motown aparecem por aqui não mais como uma mera referência, mas sim de maneira direta, com uma ótima releitura de "Ooo Baby Baby" do grupo The Miracles. 

Lenny Kravitz dificilmente lança um disco ruim. O único que realmente não me agrada é o 5. Engraçado que muita gente o cultua, mas nunca morri de amores por esse álbum. Do mais, varia entre bom e ótimo. Strut não é diferente. Pelo contrário, é um dos trabalhos mais inspirados que o músico lançou nos últimos tempos. Sei que as músicas de trabalho podem assustar um pouquinho, mas esqueça o que você tem ouvido por aí nas rádios e dê uma chance ao disco.

Nota: 8,5
Status: Inspirado

Faixas:
01) Sex
02) The Chamber
03) Dirty White Boots
04) New York City
05) The Pleasure And The Pain
06) Strut
07) Frankenstein
08) She´s a Beast
09) I´m a Believer
10) Happy Birthday
11) I Never Want To Let You Down
12) Ooo Baby Baby