sexta-feira, 6 de junho de 2014

Paula Toller – Projeto Inusitado





Por Davi Pascale

A cantora Paula Toller apresentou na última quarta-feira, na Cidade das Artes (Rio de Janeiro), as faixas de seu próximo trabalho solo que recebe o nome de Transbordada. O disco que já está gravado, mas ainda não tem data para ser lançado, traz a cantora mais próxima da linguagem pop rock e deve agradar aos fãs.

O show, que foi transmitido ao vivo pelo Canal Bis, serviu como uma previa do novo trabalho. Em entrevista à repórter Dedé Teicher, minutos antes de subir ao palco, a cantora explicou o projeto. Segundo Paula, o projeto Inusitado é uma “ideia do Andre Midani para colocar os artistas fora da zona de conforto, estimulando a criação não só de músicas como de um espetáculo”. Roberto Frejat já tinha se aventurado por lá fazendo um concerto com apenas voz e violão. A musa do Kid Abelha resolveu fazer diferente. Trouxe a banda completa e dividiu o show em 2 atos. O primeiro com o novo álbum na integra e o segundo relembrando alguns sucessos do Kid e da sua carreira solo. Esse formato, contudo, foi apenas para essa apresentação.

Em seus dois primeiros trabalhos solo, a loirinha fugia da sonoridade do grupo. Em seu debut de 1998, trazia um álbum com influencias diversas que passava pelo baião de Dominguinhos, o samba de Noel Rosa e o rock do Guns n´ Roses. No entanto, foram suas duas composições próprias que caíram nas graças do público: “Derretendo Satélites” e “Oito Anos”. Em Só Nós, de 2007,  flertou o rock com a MPB em um trabalho que realizou com artistas de diferentes partes do mundo passando por Jesse Harris (conhecido por seu trabalho com a Norah Jones), Rufus Wainwright e terminando no brasileiro Nenung. Essa aproximação com uma sonoridade mais próxima do seu trabalho com o trio carioca e a reaproximação do músico e compositor Liminha (que já havia trabalhado com o conjunto no início da carreira) fez com que começasse a circular pela internet boatos de que o Kid Abelha havia encerrado as atividades de vez. Os músicos até agora nada declararam e no final do ano passado anunciaram esses trabalhos como uma nova pausa, uma espécie de férias. Algo que já haviam feito anteriormente. Só o tempo mesmo para dizer...

Novo trabalho resgata os velhos parceiros Liminha e Beni Borja...


A primeira canção foi “Ohayo”. A letra fala sobre alguém que está reencontrando a felicidade nas coisas simples. A expressão japonesa significa bom dia. É como se alguém estivesse acordando, despertando. Não de sua cama, mas para a realidade. Com um arranjo animado, a música serve como um bom aquecimento. A faixa-título “Transbordada” é dona de um refrão pegajoso (no bom sentido da expressão) e tem de tudo para tornar-se o grande hit do disco. “Calma Aí” entra na sequencia depois de ser anunciada pela artista como o recado dela para o momento que o Brasil está passando. Na entrevista pouco antes do espetáculo, deu a entender que ela acredita que o povo está muito afobado, brigando muito e refletindo pouco. Tem um fundo de verdade. A canção foi escolhida como faixa de trabalho, talvez por conta da mensagem da letra. Honestamente? Não a considero uma canção ruim, mas também não considero uma boa faixa de trabalho. Não acredito que seja a melhor faixa para apresentar o disco às rádios...

A dançante “Já Chegou a Hora” traz a participação do rapper Flavio Renegado. Embora considere bacana a tentativa de se aproximar com a nova geração de artistas (benéfico para os dois lados. Para o novo artista que ganha em exposição e para o veterano que recicla seu som com uma linguagem mais moderna), não gostei da participação do rapaz. Acho que a música funcionaria melhor sem ele. Me soou meio embolado. Pelo menos nessa versão ao vivo. Vamos ver no estúdio se a parceria funciona (ou não). A bonita balada “O Sol Desaparece” vem na sequencia, narrando sobre o sofrimento de perder alguém que se ama.

Antes de apresentar “Ele Oh Ele” a cantora explica a origem da nova faixa. “Sempre quis fazer uma música homenageando um muso, mas sempre tive dificuldades de encontrar um nome que fosse sonoro”. Mais uma vez com um arranjo pra cima, a faixa deve agradar seus fieis seguidores. “Seu nome é Blah” é talvez a faixa mais rock do projeto com guitarra falando alto, vocal com efeito distorcido e backing vocals que nos remetem aos quatro rapazes de Liverpool. A letra foi inspirada nos ‘haters’, aquelas pessoas que ficam fazendo ataques na internet. Helio Flanders do Vanguart é o segundo convidado da noite e divide os vocais em “Será Que Vou Me Arrepender?”. Já conheço seu trabalho desde que sua banda lançou seu álbum de estreia encartado na extinta OutraCoisa. Embora não me considere um fã do rapaz, a parceria funcionou bem.

... mas também traz novos nomes como Flavio Renegado e Helio Flanders (Vanguart)

“À Deriva Pela Vida” é uma pareceria entre Paula Toller e Beni Borja. Para quem não se recorda, ele foi o primeiro baterista do conjunto e chegou a gravar o compacto de Pintura Intima. É o único lançamento do Kid Abelha onde eles aparecem na capa como um quinteto. Mais uma que tem chance de se tornar um hit, embora ainda considere a faixa-título mais forte nesse quesito. A primeira parte se encerra com “Timidos Romanticos”, mais uma faixa bem dançante remetendo um pouco à algumas faixas do Kid na fase Surf.

Como já citado no início do texto, a cantora não foi embora sem animar os presentes com alguns velhos hits. Foram executadas 5 do Kid Abelha (“Nada Sei”, “Como Eu Quero”, “Fixação”, “Nada Por Mim” e “No Seu Lugar”), 2 de sua carreira-solo (“Oito Anos” e “Meu Amor Se Mudou Pra Lua”), além de uma releitura de “Ando Meio Desligado” dos Mutantes.

Com um certo nervosismo (provavelmente, parte pela estreia do novo material e parte pela transmissão simultânea), Paula Toller agradou seus fiéis seguidores com uma apresentação bem elaborada e bem ensaiada. Aos 51 anos, a carioca continua encantando com sua voz delicada e seu charme. Seu trabalho vocal não foi perfeito, mas foi bom. Houve um ou outro deslize, mas nada que seja digno de fortes críticas. Depois de mais três décadas de estrada, a artista demonstrou que tem um repertorio de respeito, mas que não quer viver do passado. Esperando pelo lançamento do novo material para ver como ficou o resultado final. Liminha, para quem não se recorda, chegou a produzir diversos álbuns emblemáticos do rock nacional como “Cabeça Dinossauro” (Titãs), “Selvagem” (Paralamas do Sucesso), e “Nós Vamos Invadir Sua Praia” (Ultraje a Rigor). Isso para ficar somente em 3. Daria para citar uns 30. É... Parece que além de ser dona de um estilo particular de cantar e de ser boa compositora, Paulinha também sabe escolher bem seus parceiros musicais. O novo trabalho parece ser bacana...