Por Davi Pascale
A cantora Paula Toller apresentou na última quarta-feira, na Cidade das
Artes (Rio de Janeiro), as faixas de seu próximo trabalho solo que recebe o
nome de Transbordada. O disco que já
está gravado, mas ainda não tem data para ser lançado, traz a cantora mais
próxima da linguagem pop rock e deve agradar aos fãs.
O show, que foi transmitido ao vivo pelo Canal Bis, serviu como uma
previa do novo trabalho. Em entrevista à repórter Dedé Teicher, minutos antes
de subir ao palco, a cantora explicou o projeto. Segundo Paula, o projeto
Inusitado é uma “ideia do Andre Midani para colocar os artistas fora da zona de
conforto, estimulando a criação não só de músicas como de um espetáculo”.
Roberto Frejat já tinha se aventurado por lá fazendo um concerto com apenas voz
e violão. A musa do Kid Abelha resolveu fazer diferente. Trouxe a banda
completa e dividiu o show em 2 atos. O primeiro com o novo álbum na integra e o
segundo relembrando alguns sucessos do Kid e da sua carreira solo. Esse formato, contudo, foi apenas para essa apresentação.
Em seus dois primeiros trabalhos solo, a loirinha fugia da sonoridade do
grupo. Em seu debut de 1998, trazia um álbum com influencias diversas que
passava pelo baião de Dominguinhos, o samba de Noel Rosa e o rock do Guns n´
Roses. No entanto, foram suas duas composições próprias que caíram nas graças
do público: “Derretendo Satélites” e “Oito Anos”. Em Só Nós, de 2007, flertou o
rock com a MPB em um trabalho que realizou com artistas de diferentes partes do
mundo passando por Jesse Harris (conhecido por seu trabalho com a Norah Jones),
Rufus Wainwright e terminando no brasileiro Nenung. Essa aproximação com uma
sonoridade mais próxima do seu trabalho com o trio carioca e a reaproximação do
músico e compositor Liminha (que já havia trabalhado com o conjunto no início
da carreira) fez com que começasse a circular pela internet boatos de que o Kid
Abelha havia encerrado as atividades de vez. Os músicos até agora nada
declararam e no final do ano passado anunciaram esses trabalhos como uma nova
pausa, uma espécie de férias. Algo que já haviam feito anteriormente. Só o
tempo mesmo para dizer...
Novo trabalho resgata os velhos parceiros Liminha e Beni Borja... |
A primeira canção foi “Ohayo”. A letra fala sobre alguém que está
reencontrando a felicidade nas coisas simples. A expressão japonesa significa
bom dia. É como se alguém estivesse acordando, despertando. Não de sua cama,
mas para a realidade. Com um arranjo animado, a música serve como um bom
aquecimento. A faixa-título “Transbordada” é dona de um refrão pegajoso (no bom
sentido da expressão) e tem de tudo para tornar-se o grande hit do disco.
“Calma Aí” entra na sequencia depois de ser anunciada pela artista como o
recado dela para o momento que o Brasil está passando. Na entrevista pouco
antes do espetáculo, deu a entender que ela acredita que o povo está muito
afobado, brigando muito e refletindo pouco. Tem um fundo de verdade. A canção
foi escolhida como faixa de trabalho, talvez por conta da mensagem da letra.
Honestamente? Não a considero uma canção ruim, mas também não considero uma boa
faixa de trabalho. Não acredito que seja a melhor faixa para apresentar o disco
às rádios...
A dançante “Já Chegou a Hora” traz a participação do rapper Flavio
Renegado. Embora considere bacana a tentativa de se aproximar com a nova geração
de artistas (benéfico para os dois lados. Para o novo artista que ganha em
exposição e para o veterano que recicla seu som com uma linguagem mais
moderna), não gostei da participação do rapaz. Acho que a música funcionaria
melhor sem ele. Me soou meio embolado. Pelo menos nessa versão ao vivo. Vamos
ver no estúdio se a parceria funciona (ou não). A bonita balada “O Sol
Desaparece” vem na sequencia, narrando sobre o sofrimento de perder alguém que
se ama.
Antes de apresentar “Ele Oh Ele” a cantora explica a origem da nova
faixa. “Sempre quis fazer uma música homenageando um muso, mas sempre tive
dificuldades de encontrar um nome que fosse sonoro”. Mais uma vez com um
arranjo pra cima, a faixa deve agradar seus fieis seguidores. “Seu nome é Blah”
é talvez a faixa mais rock do projeto com guitarra falando alto, vocal com
efeito distorcido e backing vocals que nos remetem aos quatro rapazes de
Liverpool. A letra foi inspirada nos ‘haters’, aquelas pessoas que ficam
fazendo ataques na internet. Helio Flanders do Vanguart é o segundo convidado
da noite e divide os vocais em “Será Que Vou Me Arrepender?”. Já conheço seu
trabalho desde que sua banda lançou seu álbum de estreia encartado na extinta
OutraCoisa. Embora não me considere um fã do rapaz, a parceria funcionou bem.
... mas também traz novos nomes como Flavio Renegado e Helio Flanders (Vanguart) |
“À Deriva Pela Vida” é uma pareceria entre Paula Toller e Beni Borja.
Para quem não se recorda, ele foi o primeiro baterista do conjunto e chegou a
gravar o compacto de Pintura Intima. É o único lançamento do Kid Abelha onde
eles aparecem na capa como um quinteto. Mais uma que tem chance de se tornar um
hit, embora ainda considere a faixa-título mais forte nesse quesito. A primeira
parte se encerra com “Timidos Romanticos”, mais uma faixa bem dançante
remetendo um pouco à algumas faixas do Kid na fase Surf.
Como já citado no início do texto, a cantora não foi embora sem animar
os presentes com alguns velhos hits. Foram executadas 5 do Kid Abelha (“Nada
Sei”, “Como Eu Quero”, “Fixação”, “Nada Por Mim” e “No Seu Lugar”), 2 de sua
carreira-solo (“Oito Anos” e “Meu Amor Se Mudou Pra Lua”), além de uma
releitura de “Ando Meio Desligado” dos Mutantes.
Com um certo nervosismo (provavelmente, parte pela estreia do novo
material e parte pela transmissão simultânea), Paula Toller agradou seus fiéis
seguidores com uma apresentação bem elaborada e bem ensaiada. Aos 51 anos, a
carioca continua encantando com sua voz delicada e seu charme. Seu trabalho
vocal não foi perfeito, mas foi bom. Houve um ou outro deslize, mas nada que
seja digno de fortes críticas. Depois de mais três décadas de estrada, a artista demonstrou
que tem um repertorio de respeito, mas que não quer viver do passado. Esperando
pelo lançamento do novo material para ver como ficou o resultado final. Liminha,
para quem não se recorda, chegou a produzir diversos álbuns emblemáticos do
rock nacional como “Cabeça Dinossauro” (Titãs), “Selvagem” (Paralamas do
Sucesso), e “Nós Vamos Invadir Sua Praia” (Ultraje a Rigor). Isso para ficar somente em 3. Daria
para citar uns 30. É... Parece que além de ser dona de um estilo particular de
cantar e de ser boa compositora, Paulinha também sabe escolher bem seus
parceiros musicais. O novo trabalho parece ser bacana...