Por Davi Pascale
Ontem foi 13 de Julho. Dia da
final da Copa do Mundo. E também o dia do rock. Mas por que comemora-se o dia
do rock? Por que não existe o dia do blues? Do reggae? Do axé? Os roqueiros se
acham superiores? Não, nada disso... Para entender isso, precisamos voltar ao
ano de 1985. Não, não vou falar da primeira edição do Rock in Rio. Houve um
outro evento, muito mais importante, realizado meses depois. E é por conta
desse show que foi criada a data.
Dia 13 de Julho de 1985 é
considerada uma data histórica. Um dia em que a música fez a diferença. Nessa
data ocorreu um espetáculo denominado Live
Aid. O festival aconteceu simultaneamente em dois países:
Inglaterra (Londres) e Estados Unidos (Filadelfia) e foi transmitido – via satélite
– para aproximadamente 1 bilhão e meio de pessoas, arrecadando aproximadamente 100
milhões de dólares. Mas, afinal... Qual era a causa? De onde veio a idéia?
A idéia partiu do cantor irlandês
Bob Geldof (Boomtown Rats) em Novembro de 1984. Geldof estava assistindo o
telejornal da BBC, em sua residência, ao lado de sua esposa e ficou chocado com
as imagens que foram transmitidas em uma reportagem de aproximadamente 5
minutos falando sobre a situação da Etiopia. Não acreditava na situação de fome
e abandono que viviam aquelas pessoas. Nasceu daí a idéia de gravar um
compacto, recrutando alguns amigos de peso, como um projeto de caridade. Não houve
dinheiro envolvido. As gravações no estúdio foram de graça, as lojas não tinham
participação nas vendas. Os musicos não ganhavam para gravar e não tinham lucro com o disco. Todo o dinheiro arrecadado seria
doado. Esse projeto chamava-se Band Aid
e o disquinho com a música “Do They Know
It´s Christmas” finalmente viu a luz do dia em 15 de Dezembro de 1984.
Participaram dessa gravação músicos britânicos e irlandeses. Gente do porte de
Sting, Paul McCartney e Phil Collins, só para citar alguns. A música alcançou o
primeiro lugar das paradas na Inglaterra, vendendo 1.500.000 de cópias e
arrecadando aproximadamente 8 milhões de dólares.
Capa do disco que deu origem à tudo |
O sucesso do disco inspirou Harry
Belafonte a fazer algo parecido nos Estados Unidos. O rapaz pediu ajuda à Bob
Geldof e da parceria nasceu USA For
Africa. A idéia era a mesma. Grandes nomes da musica gravando uma faixa inédita
para tentar combater a fome na Africa, sem visar lucro financeiro. O autor da
canção dessa vez foi o grande artista do momento. Ninguém mais, ninguém menos
do que Michael Jackson que estava no auge do sucesso com o LP Thriller. Além de Michael e Geldof,
outros grandes nomes se uniram. Para ficar somente em alguns, poderia citar
Tina Turner, Bruce Springsteen e Bob Dylan. Mais uma vez, a musica alcançou
numero 1 das paradas, mas dessa vez em escala mundial.
Nesse meio tempo, Bob Geldof
resolveu visitar a Africa. Queria ver com seus próprios olhos toda aquela
tragédia demonstrada no telejornal. Mais uma vez chocado, resolveu levar sua
luta adiante e criou o concerto Live Aid. A idéia do festival nasceu em Março
de 1985. Geldof começou a falar de sua idéia para algumas pessoas que ele sabia
que seriam necessárias para que o projeto saísse do papel. Contrariando suas
expectativas, ninguém se negou. Harvey Goldsmith e Maurice Jones (dois
promotores britânicos) começaram a cuidar dos detalhes da apresentação de
Wembley (Londres), enquanto Bill Graham e Larry Magid fizeram o mesmo pelo
concerto do Estadio JFK (Filadelfia). Milhares de pessoas que faziam parte do
backstage da cena rock n roll se empenharam para que se tornasse realidade.
Musico Bob Geldof foi até a Africa ver a situação de perto |
E não apenas pessoas do
backstage, mas também estrelas da musica pop e do rock. Todos os artistas que
se apresentaram no festival, fizeram de graça. Alguns deles participaram das
duas cidades, inclusive. Megastars que faziam exigências absurdas para fazer um
show qualquer, abriram mão de tudo naquele dia em prol de uma ideologia, da
realização de um sonho. U2, Madonna, Queen, David Bowie entre inúmeros outros
megastars deram o ar da graça, ajudando com que esse evento fosse um sucesso. Inicialmente, Mick Jagger cantaria
com David Bowie o clássico da Motown (gravado inicialmente por Martha & The
Vandellas) “Dancing In The Street”. Mick dos Estados Unidos e Bowie na
Inglaterra, mas a tecnologia da época não ajudava e houve problemas de
sincronização que não puderam ser ajustados. Por conta disso, nasceu o famoso
videoclipe que foi exibido no dia nos telões. Mais uma vez, as gravações –
tanto da musica quanto do vídeo – foram gratuitos.
Na época, o baterista e cantor
Phil Collins citou em uma entrevista que gostaria que aquele dia fosse citado
como o dia do rock. E vários repórteres passaram a fazer desde então, ajudando
a popularizar a data. Infelizmente, as guerras continuam, a miséria continua,
mas um gesto como esse certamente não pode ser ignorado. Sim, meus amigos, o rock n´ roll pode fazer a diferença...