segunda-feira, 14 de julho de 2014

O Dia do Rock





Por Davi Pascale
Ontem foi 13 de Julho. Dia da final da Copa do Mundo. E também o dia do rock. Mas por que comemora-se o dia do rock? Por que não existe o dia do blues? Do reggae? Do axé? Os roqueiros se acham superiores? Não, nada disso... Para entender isso, precisamos voltar ao ano de 1985. Não, não vou falar da primeira edição do Rock in Rio. Houve um outro evento, muito mais importante, realizado meses depois. E é por conta desse show que foi criada a data.

Dia 13 de Julho de 1985 é considerada uma data histórica. Um dia em que a música fez a diferença. Nessa data ocorreu um espetáculo denominado Live Aid. O festival aconteceu simultaneamente em dois países: Inglaterra (Londres) e Estados Unidos (Filadelfia) e foi transmitido – via satélite – para aproximadamente 1 bilhão e meio de pessoas, arrecadando aproximadamente 100 milhões de dólares. Mas, afinal... Qual era a causa? De onde veio a idéia?

A idéia partiu do cantor irlandês Bob Geldof (Boomtown Rats) em Novembro de 1984. Geldof estava assistindo o telejornal da BBC, em sua residência, ao lado de sua esposa e ficou chocado com as imagens que foram transmitidas em uma reportagem de aproximadamente 5 minutos falando sobre a situação da Etiopia. Não acreditava na situação de fome e abandono que viviam aquelas pessoas. Nasceu daí a idéia de gravar um compacto, recrutando alguns amigos de peso, como um projeto de caridade. Não houve dinheiro envolvido. As gravações no estúdio foram de graça, as lojas não tinham participação nas vendas. Os musicos não ganhavam para gravar e não tinham lucro com o disco. Todo o dinheiro arrecadado seria doado. Esse projeto chamava-se Band Aid  e o disquinho com a música “Do They Know It´s Christmas” finalmente viu a luz do dia em 15 de Dezembro de 1984. Participaram dessa gravação músicos britânicos e irlandeses. Gente do porte de Sting, Paul McCartney e Phil Collins, só para citar alguns. A música alcançou o primeiro lugar das paradas na Inglaterra, vendendo 1.500.000 de cópias e arrecadando aproximadamente 8 milhões de dólares.

Capa do disco que deu origem à tudo

O sucesso do disco inspirou Harry Belafonte a fazer algo parecido nos Estados Unidos. O rapaz pediu ajuda à Bob Geldof e da parceria nasceu USA For Africa. A idéia era a mesma. Grandes nomes da musica gravando uma faixa inédita para tentar combater a fome na Africa, sem visar lucro financeiro. O autor da canção dessa vez foi o grande artista do momento. Ninguém mais, ninguém menos do que Michael Jackson que estava no auge do sucesso com o LP Thriller. Além de Michael e Geldof, outros grandes nomes se uniram. Para ficar somente em alguns, poderia citar Tina Turner, Bruce Springsteen e Bob Dylan. Mais uma vez, a musica alcançou numero 1 das paradas, mas dessa vez em escala mundial.

Nesse meio tempo, Bob Geldof resolveu visitar a Africa. Queria ver com seus próprios olhos toda aquela tragédia demonstrada no telejornal. Mais uma vez chocado, resolveu levar sua luta adiante e criou o concerto Live Aid. A idéia do festival nasceu em Março de 1985. Geldof começou a falar de sua idéia para algumas pessoas que ele sabia que seriam necessárias para que o projeto saísse do papel. Contrariando suas expectativas, ninguém se negou. Harvey Goldsmith e Maurice Jones (dois promotores britânicos) começaram a cuidar dos detalhes da apresentação de Wembley (Londres), enquanto Bill Graham e Larry Magid fizeram o mesmo pelo concerto do Estadio JFK (Filadelfia). Milhares de pessoas que faziam parte do backstage da cena rock n roll se empenharam para que se tornasse realidade.

Musico Bob Geldof foi até a Africa ver a situação de perto
 
E não apenas pessoas do backstage, mas também estrelas da musica pop e do rock. Todos os artistas que se apresentaram no festival, fizeram de graça. Alguns deles participaram das duas cidades, inclusive. Megastars que faziam exigências absurdas para fazer um show qualquer, abriram mão de tudo naquele dia em prol de uma ideologia, da realização de um sonho. U2, Madonna, Queen, David Bowie entre inúmeros outros megastars deram o ar da graça, ajudando com que esse evento fosse um sucesso. Inicialmente, Mick Jagger cantaria com David Bowie o clássico da Motown (gravado inicialmente por Martha & The Vandellas) “Dancing In The Street”. Mick dos Estados Unidos e Bowie na Inglaterra, mas a tecnologia da época não ajudava e houve problemas de sincronização que não puderam ser ajustados. Por conta disso, nasceu o famoso videoclipe que foi exibido no dia nos telões. Mais uma vez, as gravações – tanto da musica quanto do vídeo – foram gratuitos.

Na época, o baterista e cantor Phil Collins citou em uma entrevista que gostaria que aquele dia fosse citado como o dia do rock. E vários repórteres passaram a fazer desde então, ajudando a popularizar a data. Infelizmente, as guerras continuam, a miséria continua, mas um gesto como esse certamente não pode ser ignorado. Sim, meus amigos, o rock n´ roll pode fazer a diferença...