quarta-feira, 17 de maio de 2017

EST – EST (2016):



Por Davi Pascale

Edgard Scandurra ficou marcado na memória dos roqueiros como o guitarrista do Ira! e assim será por um bom tempo. Contudo, a história de Scandurra vai muito mais além. Passou pelo Smack, pelo Ultraje a Rigor, leva em paralelo o projeto infantil Pequeno Cidadão, o projeto eletrônico Benzina. Em um passado distante já chegou a ser baterista das Mercenárias. Silvia Tape faz parte da nova formação do grupo punk e a ideia de fazer algo juntos surgiu por terem um gosto musical similar.

Agora... Cuidado! Se você está esperando algo com a atitude das Mercenárias ou com a pegada mod do Ira! é interessante que você escute algo antes de sair comprando o disco. Essa é uma das vantagens da era digital. Então, use a seu favor. Não temos aqui as guitarras distorcidas influenciadas pelo The Who e nem a pegada suja dos Sex Pistols. É justamente o contrário.

Com bases eletrônicas e voz suave, o álbum abre com “Sua Intuição”. Os elementos eletrônicos são bem mais sutis do que no Benzina, mas eles vem e vão na audição do álbum. A faixa de abertura é onde são explorados de maneira mais escancarada.

O grande destaque do disco são realmente as guitarras de Scandurra. Bem criativas, bem costuradas e, claro, muito bem tocadas. “Num Instante Qualquer”, a mais agitada do disco, traz o musico se soltando nas seis cordas e revivendo sua pegada mais rocker. Também é a única desse CD que traz o rapaz se aventurando enquanto cantor, o que é uma pena. Sua voz é mais agradável do que a de Silvia Tape.

EST aposta em uma pegada mais low-fi, mais viajada, mais climática. Quem curte o trabalho de artistas como Portishead, certamente irá se identificar com a sonoridade explorada nesse álbum. Silvia demonstra fragilidade na voz, mas se destaca como letrista. Edgard se destaca como multi-instrumentista. Arrisca-se nas guitarras, na bateria, nos violões, no baixo, nos teclados... Entre os convidados, temos alguns nomes conhecidos na cena como Curumim e Kuaker. Quem acompanhou as aventuras de Dinho Ouro Preto na fase eletrônica (lá pelos anos 90), irá se lembrar desse último...

“Hoje o Tempo” e “Eu Acho Que Posso Esperar” trazem um sentimento de melancolia, enquanto “Bolhas de Sabão” e “Meu Lamento” apostam em arranjos mais delicados. Os experimentos, que não são poucos, chegam ao seu ápice no numero instrumental “Rio Rastro”, trazendo um Scandurra bem confortável.

EST é um disco que trará muitas estranhezas para os fãs de Ira! e muitas alegrias para os fãs da carreira solo de Edgard Scandurra. Aqueles que decidirem mergulhar no disco com uma mente mais aberta encontrarão vários pontos positivos. Quem estiver em busca de guitarras ásperas ou novos hits, irá se decepcionar. Vai de como você encara música. Eu arriscaria...

Nota: 7,5 / 10,0
Status: Calmo e experimental

Faixas:
      01)   A Sua Intuição
      02)   Asas Irreais
      03)   Num Instante Qualquer
      04)   Hoje o Tempo
      05)   Bolhas de Sabão
      06)   Meu Lamento (Instrumental)
      07)   Concha
      08)   Rio Rastro (Instrumental)
      09)   Eu Acho Que Posso Esperar
 10)   Meu Lamento