Por Davi
Pascale
Publicado originalmente no site Consultoria do Rock
Comecei a me ligar em rock n roll nos anos 80. Do
lado internacional, além daquela onda de NWOBHM e thrash metal, uma leva que
sempre me chamou a atenção foi a da tão odiada febre de hair bands que, no
Brasil, os críticos mauricinhos e intelectualóides gostavam de chamar de rock
farofa. Um dos ícones dessa cena foi o Cinderella, a banda de Tom Keifer. E é
justamente sobre o álbum dele que trataremos hoje.
Sempre gostei dessas bandas por uma simples
razão: os caras eram a perfeita tradução do rock n roll. Vinham com um som
simples, contagiante, com letras versando sobre festas e garotas. A mensagem
era uma só: diversão. E uma das bandas que sempre me chamou bastante a atenção
foi justamente o Cinderella. Existia um diferencial em relação aos outros
grupos do gênero. Sim, eles tinham aquelas cabelos volumosos, usavam aquelas
roupas espalhafatosas. Sim, eles bebiam na fonte do hard rock dos anos 70, como
Kiss e Aerosmith (como vários grupos da época), mas também tinham uma forte
veia vinda do blues. Todas essas influências permanecem em The Way Life
Goes, primeiro álbum solo de Tom Keifer.
Esse não apenas é seu primeiro disco solo, como é
o primeiro álbum de inéditas desde Still Climbing (1994).
Nesse meio tempo, muita coisa rolou. A cena musical mudou. As gravadoras
perderam a força. O modo de se consumir música mudou. O modo de se divulgar
música mudou. O músico enfrentou sérios problemas com suas cordas vocais. O
rapaz se viu diante de uma nova situação. E soube contornar como poucos.
O álbum não soa datado, mas também não traz o
músico apostando em modernismos. O rapaz manteve sua identidade. A pegada hard
rock com blues continua impregnada em seu trabalho, perceptível em faixas como
“Ain´t That a Bitch” e “The Way Life Goes”. A influência de rock n´ roll dos
anos 70 segue intacta e é perceptível em diversos momentos. “Mood Elevator” é
um hard rock fervoroso com uma sonoridade bem Aerosmith, enquanto a balada
“Thick In Thin” nos remete à Rod Stewart. “Cold Day In Hell” é
outro dos grandes destaques. Arranjo bem rock n roll com uma vibe bem
Stones.
Como todo bom músico dos anos 80, não esconde sua
admiração pelas baladas. Temos algumas aqui. “A Different Light” traz uma
influencia country, enquanto “The Flower Song” nos remete ao Cinderella fase Heartbreak
Station (1990). Outra que merece destaque é a lindíssima “You
Showed Me”. Em outros tempos, seria hit de FM.
O musico teve um sério problema nas cordas vocais
nos anos 90. Teve que ficar afastado da cena um tempo. E mais tenso do que
isso, teve que reaprender a cantar. Realmente, seu trabalho vocal está mais
contido. Sim, está mandando muito bem. O cara é bom, mas está menos gritado,
está rasgando menos. “It´s Not Enough” e “Solid Ground” são as duas onde ele
mais se aproxima do seu velho estilo.
The Way Life Goes é um
álbum honesto e cativante. Embora não soe uma continuação do Cinderella, suas
principais referências se fazem presentes. O disco é bem variado e mistura
elementos de hard rock, blues e country. A qualidade das composições é alta.
Quem gosta do cara, vale dar uma checada. Ótimo retorno!
Faixas:
01) Solid Ground
02) A Different Light
03) It´s Not Enough
04) Cold Day In Hell
05) Thick And Thin
06) Ask Me Yesterday
07) Fools Paradise
08) The Flower Song
09) Mood Elevator
10) Welcome To My Mind
11) You Showed Me
12) Ain´t That a Bitch
13) The Way Life Goes
14) Babylon