sábado, 18 de janeiro de 2014

Badlands : o supergroup que não vingou



Por Davi Pascale

O fato de colecionar discos e de querer me aprofundar o máximo possível na carreira dos artistas que admiro, me levou a descobrir o Badlands muitos anos atrás. Formado por 4 excelentes músicos, o grupo tinha de tudo para ter sido um dos grandes nomes da época. Algo que, infelizmente, não aconteceu. Agora, décadas depois vejo muita gente correndo atrás da banda, mas ainda estão longe de serem um nome reconhecido entre o grande público. Em seu  primeiro disco, formavam o lineup: Ray Gillen, Jake E. Lee, Greg Chaisson e Eric Singer.

Todos eles passaram por grandes bandas. Bem... quase todos. Greg Chaisson vinha do Steeler que é uma banda que também teve excelentes músicos (alguns renomados até como Yngwie Malmsteen, Axel Rudi Pell e Ron Keel), mas que também nunca chegou a acontecer de fato. Aquele famoso grupo que é conhecido entre os amantes do gênero. Não mais do que isso. O vocalista Ray Gillen vinha do Black Sabbath. O rapaz substituiu o Glenn Hughes na turnê do The Seventh Star e chegou a gravar as demos do disco Eternal Idol, que depois foi lançado com o vocal de Tony Martin. Eric Singer, atualmente no Kiss, era o baterista dessa turnê, mas também já tinha tocado com Gary Moore e Lita Ford. Já o guitarrista Jake E Lee tinha atingido a fama após participar da carreira solo de Ozzy Osbourne, tendo gravado os discos Bark At The Moon e The Ultimate Sin. Foi ele, aliás, quem acompanhou o ex-Sabbath na apresentação do Rock In Rio em 1985.

Foto promocional do Black Sabbath com Ray Gillen e Eric Singer

Vários fatores atrapalharam a carreira da banda. A pressão da gravadora por um hit – que nunca aconteceu – e as brigas entre Jake e Gillen, no entanto, acredito que tenham sido os maiores obstáculos. Embora não tenham conseguido musicas de grande destaque na radio, o quarteto chegou a ter 3 videoclipes veiculados na MTV, na época. Dois, “Winter´s Call” e “Dreams In The Dark”, extraídos do álbum de estréia. O outro foi “The Last Time, de seu segundo trabalho Voodoo Highway.

O primeiro a abandonar o barco foi o baterista Eric Singer. Quando lançaram seu segundo CD, já contavam com Jeff Martin assumindo as baquetas. Quando li seu nome no encarte pela primeira vez, me assustei. Jeff era conhecido por seu trabalho vocal no grupo Racer X (por sinal, liderado por outro grande guitarrista: o mr. big Paul Gilbert) e não tinha uma imagem associada enquanto baterista. Mas verdade seja dita, o cara é um bom músico. Ainda prefiro o estilo de Singer, mas realmente não fazia feio.

O debut tinha uma sonoridade que mesclava aquele hard dos anos 80 com influencias de grandes bandas dos anos 70, como o Led Zeppelin, por exemplo, além de uma influencia de blues. Essa veia zeppeliana é facilmente perceptível na faixa de abertura “Highwire”. Aliás, essa foi a primeira canção que ouvi do quarteto. Tinha esse faixa em uma coletânea chamada Comando Metal, mas reconheço que só fui dar valor ao grupo e procurar mais informações depois que peguei emprestado um VHS que um amigo meu tinha com várias gravações de TV e me deparei com o clipe de “Winter´s Call”. De cara, reconheci o baterista Eric Singer que naquela época estava trabalhando com o Kiss. Era a época do Alive III. Ou seja, fase desmascarada ainda. E também fiquei impressionado com o trabalho vocal de Ray Gillen. A influencia blues é mais facilmente percebida em “Rumblin´ Train”.

Capa dos 3 discos lançados pelo grupo

Essas influências setentistas e blueseiras, contudo, apareceriam em maior escala no Voodoo Highway. Trabalho que julgo tão bom quanto seu antecessor. Gillen estava mais confiante nos vocais. Talvez essa seja a razão que a galera que o idolatra prefira esse álbum ao debut. Eu, honestamente, acho os dois pau a pau. O que me frustrou um pouco foi o terceiro – e útlimo disco – Dusk, lançado de maneira póstuma. Já tinha esse material em formato bootleg, antes dele chegar às lojas. Lembro que não fiquei impressionado quando ouvi as demos e também não fiquei impressionado quando ouvi o lançamento oficial. É obvio que o trabalho dos músicos é impecável, mas achei as músicas pouco inspiradas. A que mais gosto é “Ride the Jack”. Não é um álbum ruim, mas acho bem abaixo dos anteriores.


Infelizmente, com a morte de Ray Gillen (vitima da Aids) em 1 de Dezembro de 1993, as chances de um retorno foram por água abaixo. Eu, pelo menos, não consigo imaginar esses caras funcionando com outro vocalista. Entretanto, existe como legado esses 3 discos que certamente merecem serem redescobertos pela nova geração. Os dois primeiros trabalhos foram relançados recentemente e são relativamente fáceis de serem encontrados. O VHS Dag The Giblets, contudo, ainda não foi reeditado em DVD. Ainda bem que tenho minha fita aqui em casa...