terça-feira, 24 de junho de 2014

50 Anos Do Rock Brasileiro DVD (2014)





Por Davi Pascale

Nota: 7,0 / 10,0

O músico Marcelo Rossi, do extinto grupo Exxótica, acaba de lançar um documentário contando a trajetória do rock em nosso país. Em um filme que dura mais de 4 horas, tenta explicar a evolução (ou retrocesso, depende do seu ponto de vista) a partir de depoimentos de músicos, jornalistas, produtores e lojistas que de alguma forma contribuíram para o crescimento do gênero em nosso país. Uma boa porta de entrada, entretanto, na minha visão, peca em alguns momentos.

O longa trata o tema de maneira cronológica e é dividido em 4 fases: 1) o rock dos anos 50 e 60, 2) o rock dos anos 70, 3) o rock dos anos 80 e 4) o rock dos anos 90 e 00. O filme começa bem. Muitos jovens acreditam erroneamente que o rock nacional teve inicio na década de 80. Outros acreditam também erroneamente que o início foi o movimento da Jovem Guarda. Na verdade, o estilo surge em nosso país ainda na década de 50 com artistas que não pertenciam ao gênero e que resolveram gravar algumas canções de rock em seus discos. Nora Ney e Cauby Peixoto são os primeiros cantores a gravarem rock n roll em nosso país. Para explicar essa primeira etapa, convidaram gente do calibre de Tony Campello, Albert Pavão e Antonio Aguillar que deram um bom panorama do que acontecia na época. 

Ainda no primeiro capítulo, entram nos anos 60 quando acontece o primeiro boom do rock brasileiro com a explosão da Jovem Guarda. Essa segunda parte, embora conte com artistas de respeito como Netinho (Os Incríveis) e Ronnie Von, deixa a desejar. Não há informações erradas, mas há informações faltando. Pouco se comenta do impacto do lado comercial. Falam das audiências, mas não falam das gírias lançadas no período, do merchandising (artistas como Ronnie Von e Roberto Carlos tiveram brinquedos comercializados nessa época), da influencia do rock na Tropicalia (falam bastante dos Mutantes – merecidamente, por sinal – mas não explicam o que foi o movimento e nem a influencia do rock dentro do gênero. Tanto no lado visual, como nas influencias psicodélicas nos arranjos) e também não falam sobre a passeata contra a guitarra elétrica, que foi algo marcante nesse período.

O mãe de gravata Ronnie Von aparece no filme

A segunda parte é voltada ao rock dos anos 70. Entre as personalidades que aparecem aqui estão gente do calibre de Luiz Carlini (Tutti-Frutti), Oswaldo Vecchione (Made In Brazil), Gerson Conrad (Secos & Molhados), Sylvio Passos (presidente do fã-clube do Raul Seixas) somente para citar alguns. Acredito que seja a etapa que esteja melhor contada. Bastante informação, histórias curiosas. Uma geração que lançou músicos e discos brilhantes, ainda desconhecidos da geração atual. O único lado triste é reparar que artistas que não tiveram hits (leia, música de sucesso comercial), ou seja, a grande maioria desse período, tratam com desdém a cena seguinte que tratou de colocar o rock de volta às paradas.

E eis que chegamos aos anos 80. Amados por muitos, odiados por muitos. Varias cenas se formaram nessa época. Tivemos aquela cena que é vendida até hoje como BRock (dividida principalmente pelas cenas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasilia e Porto Alegre), o inicio da cena punk e o início da cena heavy metal. Apesar de conter depoimentos de personalidades como Marcelo Nova (Camisa de Venus), Fernando Deluqui (RPM), Kiko Zambianchi, Clemente (Inocentes), Carlos Chiaroni (proprietário da Animal Records, loja da Galeria do Rock) e Luis Calanca (proprietário da loja e selo Baratos Afins), esse capitulo deixa a desejar. Fala-se muito da cena underground e quase nada da cena mainstream que revelou grandes nomes do rock brasileiro. Pouco fala-se também da primeira edição do Rock In Rio. Citam ele como algo que despertou o interesse da garotada pelo metal (o que é uma verdade), mas não citam a importância do festival em relação à popularização de grandes nomes da cena pop rock como Barão Vermelho e Paralamas do Sucesso. A cena mainstream entrou como um complemento. E, na minha visão, por se tratar de um documentário, deveria ter sido o inverso.

Marceleza fala sobre anos 80 e sua admiração por Raul Seixas

O mesmo acontece nos anos 90 e 00. Fala-se muito da cena underground e quase nada da cena mainstream. Goste ou não da idéia, artistas como Raimundos, Planet Hemp (que nem sequer é citado no vídeo), Charlie Brown Jr, Chico Science & Nação Zumbi, Mundo Livre S.A. , Mamonas Assassinas, CPM 22 e Pitty (outra que nem sequer foi citada) fizeram a cabeça da garotada e mereceriam não apenas ter uma maior atenção, como mereceriam terem sido tratados com maior respeito. Falam muito de artistas que, embora tenham qualidade e tenham feito bons discos, são inexpressivos (no sentido de influencia). As exceções seriam realmente aquela galera do inicio dos anos 90 – como Angra e Dr Sin- que tiveram uma enorme influencia na criação de músicos.

50 Anos de Rock Brasileiro é uma iniciativa muito bacana. Está bem editado, traz vários convidados de peso, tem historias interessantes. Um filme bacana de se assistir, embora ainda não seja o guia definitivo para se entender a historia do rock nacional. Dá um bom panorama, sem duvidas, mas há um ar dor de cotovelo que insiste em rodear o filme e que não haveria necessidade. Quem se interessar, pode adquirir o DVD duplo no site da loja Die Hard ou conferir no You Tube.