Por Davi Pascale
Nota: 7,0 / 10,0
O músico Marcelo Rossi, do
extinto grupo Exxótica, acaba de lançar um documentário contando a trajetória do
rock em nosso país. Em um filme que dura mais de 4 horas, tenta explicar a
evolução (ou retrocesso, depende do seu ponto de vista) a partir de depoimentos
de músicos, jornalistas, produtores e lojistas que de alguma forma contribuíram
para o crescimento do gênero em nosso país. Uma boa porta de entrada,
entretanto, na minha visão, peca em alguns momentos.
O longa trata o tema de maneira
cronológica e é dividido em 4 fases: 1) o rock dos anos 50 e 60, 2) o rock dos
anos 70, 3) o rock dos anos 80 e 4) o rock dos anos 90 e 00. O filme começa
bem. Muitos jovens acreditam erroneamente que o rock nacional teve inicio na
década de 80. Outros acreditam também erroneamente que o início foi o movimento
da Jovem Guarda. Na verdade, o estilo surge em nosso país ainda na década de 50
com artistas que não pertenciam ao gênero e que resolveram gravar algumas
canções de rock em seus discos. Nora Ney e Cauby Peixoto são os primeiros
cantores a gravarem rock n roll em nosso país. Para explicar essa primeira
etapa, convidaram gente do calibre de Tony Campello, Albert Pavão e Antonio
Aguillar que deram um bom panorama do que acontecia na época.
Ainda no primeiro capítulo,
entram nos anos 60 quando acontece o primeiro boom do rock brasileiro com a
explosão da Jovem Guarda. Essa segunda parte, embora conte com artistas de
respeito como Netinho (Os Incríveis) e Ronnie Von, deixa a desejar. Não há
informações erradas, mas há informações faltando. Pouco se comenta do impacto
do lado comercial. Falam das audiências, mas não falam das gírias lançadas no
período, do merchandising (artistas como Ronnie Von e Roberto Carlos tiveram
brinquedos comercializados nessa época), da influencia do rock na Tropicalia
(falam bastante dos Mutantes – merecidamente, por sinal – mas não explicam o
que foi o movimento e nem a influencia do rock dentro do gênero. Tanto no lado
visual, como nas influencias psicodélicas nos arranjos) e também não falam
sobre a passeata contra a guitarra elétrica, que foi algo marcante nesse
período.
O mãe de gravata Ronnie Von aparece no filme |
A segunda parte é voltada ao rock
dos anos 70. Entre as personalidades que aparecem aqui estão gente do calibre
de Luiz Carlini (Tutti-Frutti), Oswaldo Vecchione (Made In Brazil), Gerson
Conrad (Secos & Molhados), Sylvio Passos (presidente do fã-clube do Raul
Seixas) somente para citar alguns. Acredito que seja a etapa que esteja melhor
contada. Bastante informação, histórias curiosas. Uma geração que lançou músicos
e discos brilhantes, ainda desconhecidos da geração atual. O único lado triste
é reparar que artistas que não tiveram hits (leia, música de sucesso comercial),
ou seja, a grande maioria desse período, tratam com desdém a cena seguinte que
tratou de colocar o rock de volta às paradas.
E eis que chegamos aos anos 80.
Amados por muitos, odiados por muitos. Varias cenas se formaram nessa época.
Tivemos aquela cena que é vendida até hoje como BRock (dividida principalmente
pelas cenas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasilia e Porto Alegre), o inicio da
cena punk e o início da cena heavy metal. Apesar de conter depoimentos de
personalidades como Marcelo Nova (Camisa de Venus), Fernando Deluqui (RPM), Kiko
Zambianchi, Clemente (Inocentes), Carlos Chiaroni (proprietário da Animal
Records, loja da Galeria do Rock) e Luis Calanca (proprietário da loja e selo
Baratos Afins), esse capitulo deixa a desejar. Fala-se muito da cena underground
e quase nada da cena mainstream que revelou grandes nomes do rock brasileiro.
Pouco fala-se também da primeira edição do Rock In Rio. Citam ele como algo que
despertou o interesse da garotada pelo metal (o que é uma verdade), mas não
citam a importância do festival em relação à popularização de grandes nomes da
cena pop rock como Barão Vermelho e Paralamas do Sucesso. A cena mainstream
entrou como um complemento. E, na minha visão, por se tratar de um documentário,
deveria ter sido o inverso.
Marceleza fala sobre anos 80 e sua admiração por Raul Seixas |
O mesmo acontece nos anos 90 e
00. Fala-se muito da cena underground e quase nada da cena mainstream. Goste ou
não da idéia, artistas como Raimundos, Planet Hemp (que nem sequer é citado no vídeo),
Charlie Brown Jr, Chico Science & Nação Zumbi, Mundo Livre S.A. , Mamonas
Assassinas, CPM 22 e Pitty (outra que nem sequer foi citada) fizeram a cabeça
da garotada e mereceriam não apenas ter uma maior atenção, como mereceriam
terem sido tratados com maior respeito. Falam muito de artistas que, embora
tenham qualidade e tenham feito bons discos, são inexpressivos (no sentido de
influencia). As exceções seriam realmente aquela galera do inicio dos anos 90 –
como Angra e Dr Sin- que tiveram uma enorme influencia na criação de músicos.
50 Anos de Rock Brasileiro é uma
iniciativa muito bacana. Está bem editado, traz vários convidados de peso, tem
historias interessantes. Um filme bacana de se assistir, embora ainda não seja
o guia definitivo para se entender a historia do rock nacional. Dá um bom
panorama, sem duvidas, mas há um ar dor de cotovelo que insiste em rodear o
filme e que não haveria necessidade. Quem se interessar, pode adquirir o DVD duplo no site da loja Die Hard ou conferir no You Tube.