domingo, 17 de janeiro de 2016

Kid Rock – First Kiss (2015):

A equipe do blog Riff Virtual se encontra de férias. Retomaremos nossas atividades no dia 20 de Janeiro. Enquanto essa data não chega, trazemos para vocês alguns de nossos melhores posts. Recordar é viver. Confira!



Por Davi Pascale

Kid Rock chega à seu décimo-segundo álbum de inéditas. Cada vez mais afastado da linguagem rap rock que o consagrou, o rapaz se destaca por linhas vocais fortes e canções cativantes. Prova, mais uma vez, ser um dos nomes mais interessantes da cena contemporânea.

O rapaz atingiu o estrelato em 1998 com seu quarto trabalho, Devil Without a Cause e foi acusado pela mídia de ser um branquelo metido à rapper. Na época, apostava em uma sonoridade que estava em bastante evidência: o flerte do rap com o rock n roll. Comecei a acompanhá-lo nesse período. Por mais que não costumasse lançar obras-primas, seus discos sempre traziam momentos interessantes. Mas, quando ele começou a me chamar a atenção mesmo foi em 2003 quando lançou um CD auto-intitulado flertando com o southern rock. A partir dele, seu trabalho veio amadurecendo cada vez mais.

Algo que sempre teve a seu favor foi a voz. Se você pegar uma banda como o Limp Bizkit, por exemplo (que estava em bastante evidência quando ele atingiu as rádios), você notará que Fred Durst é um cantor extremamente limitado. Kid Rock, de outro lado, tem uma voz forte, com um excelente timbre, que o permite se arriscar em novos caminhos. A primeira vez que notei que ele realmente sabia cantar foi em uma dessas premiações transmitidas pela TV, onde fez um dueto com o trio ZZ Top.

Kid Rock continua se utilizando de influências country

First Kiss está sendo vendido como um disco de heartland rock, assim como aconteceu com seus dois trabalhos anteriores: Born Free e Rebel Soul. Talvez, para muitos aqui no Brasil, esse seja um termo estranho. Não se preocupe se nunca ouviu falar disso. O termo é muito popular nos Estados Unidos. Há bastante similaridades com o southern rock. Trata-se de uma sonoridade mesclando country e rock, incluindo elementos de americana (termo que utilizam para se referir à música de raiz). A diferença é que aquele lado blues bastante presente na linguagem southern não aparece aqui.

Ou seja, a influência country continua a toda. Baladas como “Drinkin´ Beer With Dad” e “Say Goodbye” deixam escancarado sua preferência pelo gênero. Essa última, uma parceria com o músico Bob Seger. Kid Rock compôs 90% do disco, mas talvez muitos não tenham reparado, já que ele optou por assinar a produção do disco como Kid Rock e as composições por seu nome de batismo: Robert James Ritchie.

Dentro desse universo conhecido como heartland rock é permitido uma aproximação com elementos modernos, desde que sua sonoridade não seja descaracterizada. Desde os anos 80, vários artistas do gênero têm incorporado sintetizadores em sua música. Aqui, aparecem algumas baterias eletrônicas em faixas como “Good Times, Cheap Wine” e “Good Time Lookin´For Me”, mas sem perder aquela vibe roots. Essas batidas não são o elemento principal das canções, como acontece em boa parte das músicas pop atuais, são apenas um detalhe a mais. E, muitas vezes, são misturadas com o som de bateria acústica.

Seus últimos álbuns em nada lembram seus momentos de rapper

As letras dessa vertente costumam girar em cima de desilusões, nostalgia, oportunidades limitadas, em tom de narrativa e contando com uma linguagem mais ríspida. O cantor mantém o clima. O elemento nostalgia aparece já na faixa título (“Agora nesses dias em que eu dirijo nas pequenas cidades. Ligo meu rádio, desço a janela. Porque me recorda de meu primeiro beijo e daqueles dias que tanto sinto falta”). Não falta uma homenagem à um de seus grandes ídolos, Johnny Cash, em uma faixa que leva o nome do artista. A parte de desilusão aparece como uma crítica política em “Ain´t Enough Whiskey” (“Eles falam sobre o pobre, sobre enviar minha filha à guerra. Macacos de terno, escrevendo leis e regras. Parece não ter fim. Não ouvirei aqueles palhaços. Eu sei o que é certo).

Se você já ouviu seus discos mais recentes, já sabe mais ou menos o que esperar. Se você não conhece nada além dos hits “Cowboy”, “American Bad Ass” e “Bawitdaba” vale dar uma nova chance ao garoto. Kid Rock de hoje não tem nada a ver com o Kid Rock do final dos anos 90. Belo álbum!

Nota: 8,5 / 10,0
Status: Excelente!

Faixas:
      01)   First Kiss
      02)   Good Times, Cheap Wine
      03)   Johnny Cash
      04)   Ain´t Enough Whiskey
      05)   Drinkin´ Beer With Dad
      06)   Good Time Lookin´ For Me
      07)   Best Of Me
      08)   One More Song
      09)   Jesus and Bocephus
      10)   Say Goodbye (Bonus Track)