Por Davi Pascale
Trio paulista chega à seu sétimo álbum de
inéditas mantendo sua tradicional mistura de hard/heavy com progressivo. Em Intactus, trio não reinventa a roda,
mas mantém a qualidade de seus trabalhos anteriores.
Dr. Sin é aquela típica banda que tinha de tudo
para acontecer, mas a mídia insiste em fingir que não vê. Com músicos de
primeiro time, ótimas composições, tinham de tudo para estar entre os grandes
vendedores de discos em nosso país. Parte dessa não consagração, acredito ser
por cantarem em inglês. Por conta do modo como ocorreu a explosão do Sepultura,
criou-se um mito de que era possível atingir fama mundial, caso cantassem na
linguagem do Tio Sam. Isso fez com que vários artistas que não tinham domínio do idioma
começassem a gravar em um inglês macarrônico, o que ajudou a afastar ainda mais
os empresários. Se heavy metal já não era bem visto em nosso país, depois dessa
moda (que dura até hoje) então...
Tomei conhecimento do trio por ser, até então,
o novo grupo dos ex-integrantes da banda Taffo. Engraçado que na época do
primeiro disco, tinha certeza que os caras iam arregaçar. Sua apresentação no
Hollywood Rock em 1993 foi considerada um dos grandes destaques do festival
pela imprensa. Os clipes de “Emotional Catastrophe” e “Silent Scream” tiveram um
destaque razoável na MTV. Essa mesma MTV chegou a exibir um programa chamado Peso Local com os melhores momentos dos
shows de 3 grupos brasileiros: Pitbulls On Crack, Angra e o Dr. Sin. Outra
situação que ajudou a abafar o reconhecimento dos meninos foi o fato da Rock
Brigade (até então a principal publicação de rock pesado do país) ter
empresariado o Angra. Esse fato fez com que ficasse cada vez mais raro grupos
nacionais ganharem um grande destaque na publicação (principalmente capa).
Muitos ótimos artistas nacionais passaram despercebidos por seus leitores. A
revista era uma referência para os amantes de hard/heavy em nosso país. Sem
apoio da grande mídia e com descaso da mídia especializada fica difícil dominar
o mercado.
Mesmo assim, conseguiram criar uma base de fãs
incrivelmente fiéis. E, certamente, irão mantê-los com esse lançamento.
“Saturday Night” abre o CD com um tema que é um pouco clichê, mas que os fãs do
movimento amam. Fala sobre curtir o fim-de-semana, esquecendo dos problemas, ao
som do bom e velho rock n´ roll. O arranjo é bem pra cima, um som divertido de
se escutar. “How Long” vem na sequencia trazendo o som tradicional do Dr. Sin. O
grande destaque nessa música é o trabalho vocal de Andria Busic. Após mais de
três décadas esgoelando por aí, o cara encontra-se com as cordas vocais em
perfeitas condições ainda.
Trio se destaca por capacidade técnica e ótimas composições |
“We´re Not Alone” traz aquele som pesado
misturando momentos velozes com momentos arrastados, nos remetendo aos tempos
de Brutal. A primeira balada do
disco é Soul Survivor”, onde os irmãos Busic dividem os vocais. Alguns
elementos de Southern rock aparecem por aqui. Especialmente na linha vocal de
Ivan, que em certos momentos nos remete à Lynyrd Skynyrd. “The Great Houdini”
traz um som mais cadenciado, casando baixo com guitarra. Uma das
características principais do trio, que os acompanha desde seu debut. No meio
dessa música tem uma quebrada de tempo altamente influenciado por Rush. Outra
característica que os acompanha desde sempre.
“This Is The Time” e “Without You” são as baladas
presentes na segunda parte do disco. Dessa vez, com uma cara mais anos 80. “The
Big Screen” deve fazer a cabeça dos fãs de Van Halen. Tanto o trabalho de Edu
Ardanuy quanto o de Ivan Busic nos remetem aos trabalhos do Van Halen fase
David Lee Roth. Andria e Edu roubam a cena na cativante “Set Me Free”. Já a
faixa de encerramento,“Fight The Good Fight”, surpreende ao trazer um arranjo
trincado, com influencias de prog (o inicio me lembrou Dream Theater) em um som
não tão pesado assim. Ficou bacana.
Espero que um dia esses caras consigam atingir
o reconhecimento que merecem. A prova de que não precisa criar novos grupos
para ter uma cena forte de rock na mídia. Os ótimos artistas estão por aí.
Basta investirem. O mais triste de tudo é saber que com bandas desse nível, a
atenção da imprensa está voltada para o disco de rock que o Mr. Catra está gravando. E
mais triste ainda é notar que tem fã de rock apoiando. Hora de acordar...
Nota: 9,0 / 10,0
Status: Excelente
Faixas:
01)
Saturday
Night
02)
How Long
03)
We´re Not Alone
04)
Soul
Survivor
05)
The
Great Houdini
06)
This Is The
Time
07)
The Big
Screen
08)
Set Me
Free
09)
Without You
10)
Fight The
Good Fight