sábado, 26 de julho de 2014

Detonator e a Furia dos Headbangers





Por Davi Pascale

Detonator, personagem do Massacration (banda fictícia-humoristica da turma do Hermes e Renato), lançou seu primeiro álbum solo. Quando o Massacration lançou seu debut, Gates of Metal Fried Chicken of Death, vários headbangers ficaram indignados dizendo que aquilo era uma falta de respeito, que era uma vergonha, que tirava o espaço de artistas sérios, etc etc etc. Depois de um tempo, varias dessas pessoas os aceitaram e o grupo passou, inclusive, a dividir palco com atrações internacionais no Brasil. Via-se vários headbangers dando altas risadas e cantando “Metal Bucetation”. E, agora, com a estréia de Detonator, a discussão voltou... Pelo visto, no Brasil, sucesso incomoda.

Gostar ou não do trabalho de alguém é uma coisa. Fazer campanha contra, ficar mandando cartas para revistas especializadas, ficar desmerecendo, ridicularizando ou diminuindo alguém que escute é outra. Um dos comentários que li foi ‘ninguém que goste de heavy/hard de verdade, gosta disso’. Como se a questão de você se identificar com o trabalho de alguém estivesse diretamente ligado à conhecimento musical aprofundado. Para gostar do trabalho de Detonator, do Massacration, do Mamonas Assassinas, do Ultraje a Rigor, é necessário apenas ter bom humor. Esse comentário é tão sem noção que o Ultraje é uma das bandas mais amadas entre os roqueiros e o Mamonas até hoje é lembrado com carinho. E ambos possuem uma forte veia humorística em seu trabalho.

O pessoal do heavy metal tem tanto ódio e tanta falta de compreensão que, sem querer, acabam dando mais apoio ao artista que abomina. Não sei se já pararam para pensar sobre isso. Um ótimo exemplo foi um grupo de pessoas, que provavelmente não tem muito o que fazer, que criou uma petição online exigindo o fim da banda Ghost. Será que eles realmente acham que os músicos do Ghost vão ler aquilo e dizer ‘putz, chegou o nosso fim’? Certamente, não. Mas, certamente, colocou o nome da banda de volta à mídia e fez com que varias pessoas que nunca tinham parado para ouvir seu som, tivesse curiosidade de ir atrás para saber do porque algo ser tão odiável. E, muito provavelmente, algumas dessas pessoas viraram fãs. Ou seja, além de não acabar com o grupo, trouxeram novos admiradores aos rapazes.

Sucesso e humor de Detonator ainda irrita fãs conservadores

Todo esse auê em cima do trabalho do personagem criado pelo Bruno Sutter se deu por algo banal. Foi divulgado no site Whiplash uma nota dizendo que o CD do Detonator era o mais vendido da Die Hard (excelente loja das Grandes Galerias que tem o costume de deixar os 5 álbuns mais vendidos em uma parede). Interessante que essas mesmas pessoas quando querem defender o heavy metal (que é um gênero que aprecio muito, já deixo claro) costumam dizer que venda não quer dizer nada. Se não quer dizer nada, por que a indignação? 

Quanto ao lance de jogar contra a cena também não concordo. Muito garoto que começou ouvindo rock pelo Massacration (sim, essas pessoas existem), acabou se tornando fã de Iron Maiden, Ozzy, etc. Por que? Porque desperta interesse em ir mais à fundo no gênero. Ou seja, a brincadeira dos garotos ajudou a cena criando novos fãs.

Aliás, a brincadeira atual de Sutter traz dois questionamentos sensatos à nossa cena. O rapaz fez um álbum de heavy metal abordando o folclore brasileiro e cantado em português que são dois questionamentos que sempre fiz. Por que pouquíssimas bandas cantam em nosso idioma e porque muito neguinho faz letra escrevendo sobre a cultura norte-americana ou européia se vivemos no Brasil? Ok, vai ter gente dizendo aqui que a escolha da língua é porque visam o mercado internacional. Mas não seria melhor conquistar primeiro o seu país para depois ir ao estrangeiro como um artista já consagrado, como fazem diversos artistas pop? Pelo visto à discussão está indo por caminho errado...