domingo, 7 de setembro de 2014

O rock e a relação com a depressão

Por Rafael Menegueti

Considerada o mal do século XXI, a depressão é uma doença que atinge muitas pessoas ao redor do mundo. Por incrível que possa parecer, no entanto, ela também teve um grande impacto na historia da arte. A arte, por ser uma das formas de expressão dos sentimentos, acabou por se tornar um perfeito meio de expressar a depressão de alguns, uma vez que ela é basicamente uma doença emocional. E a música é uma das formas mais claras e diretas de conseguir transmitir tais sentimentos. Inúmeros artistas e bandas de rock usaram e ainda usam esse artificio, essa relação entre os problemas sentimentais (deles próprios ou de outros), para criar seus trabalhos, e acabam gerando uma identificação enorme com seus fãs e outras pessoas que também passam por tais problemas.

Uma das vertentes que mais explorava essa faceta do comportamento humano era o grunge. Quase todas as bandas tratavam em suas músicas de temas relacionados aos problemas sentimentais de quem as compôs. O Nirvana construiu toda a sua obra com composições que mostravam o universo interno perturbado da mente de Kurt Cobain. Seus problemas familiares, com as drogas, com o sucesso, renderam trabalhos que marcaram uma geração, com jovens que se identificaram automaticamente com os problemas de Cobain, e tornaram a banda o maior expoente do rock na década de 90.

Kurt Cobain
No mundo mais alternativo existem inúmeros ídolos que tornaram sua relação com a depressão a sua marca registrada. Thom Yorke, do Radiohead, criou algumas das faixas mais depressivas da historia do rock. Basta ouvir a melodia de faixas como “Creep” e “Fake Plastic Trees” para notar o quanto a depressão de Thom é fundamental no trabalho da banda. Praticamente todo o trabalho do grupo inglês é carregado desse ar melancólico e depressivo.

Foi pelos idos dos anos 80 que essa característica começou a ganhar aparência e força em alguns generos do rock. Até então existia uma ar festeiro, de alto estima e alegria em determinados momentos. Aqueles que faziam música mais sentimental ou melancólica, dificilmente o fazia com aspectos depressivos. Quando muito, era algo mais romântico ou crítico. Nomes como os Beatles, The Doors, Led Zeppelin e Pink Floyd tinham muita melancolia em alguns momentos, e chegaram a criar faixas conhecidas por soarem tristes. No entanto, não era música que chegava a soar depressiva. Essa intensidade viria a ser muito maior, como dito, na década de 80.

Thom Yorke
O que dizer do Joy Division, ou de nomes como R.E.M., The Smiths e The Cure. Essas bandas tiveram compositores que passaram por esses problemas e demostraram isso em seu trabalho, cada vez mais introspectivo. No rock gótico, as faixas depressivas eram quase obrigatórias, e inspiravam novos artistas a desenvolverem música com essas características. Só prestar atenção a nomes como Anathema, Paradise Lost, Sisters of Mercy, além de Theatre of Tragedy, Tristania, Sirenia ou Type O´Negative, pelos lados do metal.


E para concluir, creio que o mais importante nessa historia seja observar como essas bandas e esses compositores conseguem passar suas experiências e superações através de seu trabalho. Mesmo que em alguns momentos essa relação entre a depressão e os músicos não termine bem, casos de Kurt Cobain, Layne Staley e Ian Curtis, em outros inúmeros momentos podemos ver como a superação pode resultar em trabalhos ainda melhores. Exemplos de Daniel Johns (Silverchair), Robet Smith (The Cure) ou o próprio Thom Yorke, entre outros, que passaram por essas dificuldade e seguem na ativa até hoje.