Por Davi Pascale
Em 2007, João Luiz Woerdenbag Filho, finalmente se rendeu ao formato mais
popular da MTV. Mesmo tendo realizado um dos melhores shows da série, a crítica
torceu o nariz. Insistiam em ficar citando a incoerência artística, no lugar de
analisar a qualidade do produto. Para quem não se recorda do fato, Lobão chegou a afirmar que achava o formato degradante e que não toparia participar da série.
Os jornalistas acharam sua posição contraditória e passaram 90 % do tempo
discutindo esse fato, no lugar de discutir a música apresentada. O cantor
tentou se defender dizendo que a história é mutável e o que o formato havia
mudado. Uma de suas principais criticas era de que os artistas, até então, da nova cena não participavam da serie. E também reclamava dos álbuns serem meramente releitura de hits. Nesse sentido, realmente havia mudado.
De todo modo, não estou dizendo que a mudança de postura não devesse ser discutida. Acho até justo uma vez que ele utilizou a expressão 'nunca' na época da declaração. Estou dizendo que terem se focado apenas nisso é sacanagem. Sem contar que quando os artistas que são protegidos da mídia fazem cagada, ninguém fala nada. Por exemplo, quando o Roberto Carlos gravou o mesmo programa e proibiu a MTV de transmiti-lo. Vários jornalistas passaram a mão na cabeça. Roberto realmente é um grande artista. Tenho enorme respeito, mas achei a atitude lamentável. Ele já conhecia o contrato que tinha com a Globo há décadas, por que topou?
De todo modo, não estou dizendo que a mudança de postura não devesse ser discutida. Acho até justo uma vez que ele utilizou a expressão 'nunca' na época da declaração. Estou dizendo que terem se focado apenas nisso é sacanagem. Sem contar que quando os artistas que são protegidos da mídia fazem cagada, ninguém fala nada. Por exemplo, quando o Roberto Carlos gravou o mesmo programa e proibiu a MTV de transmiti-lo. Vários jornalistas passaram a mão na cabeça. Roberto realmente é um grande artista. Tenho enorme respeito, mas achei a atitude lamentável. Ele já conhecia o contrato que tinha com a Globo há décadas, por que topou?
Há alguns pontos para serem analisados. O cara realmente lutou
muito para que ocorressem mudanças na indústria fonográfica brasileira. Começou
com a onda de lançar CD em banca de jornal (estratégia que depois foi imitada
por Blitz, Supla e Titãs), conseguiu a numeração de discos (o que possibilita
que o artista tenho um controle maior do quanto precisa receber por vendas,
além de dificultar que as gravadoras enganem o público) e esteve por tras da
Revista OutraCoisa que ajudou a chamar a atenção de artistas como Vanguart e
Cachorro Grande, além de terem lançados trabalhos de artistas renegados pelas
gravadoras como o mutante Arnaldo Baptista e o grupo baiano Cascadura. Tentou
derrubar os jabás nas rádios (ainda presentes). Pode parecer pouco, mas não é.
Ainda mais quando se está praticamente sozinho na luta...
Sua carreira foi marcada por polêmicas. Não apenas nas palavras, mas
também nas atitudes. Lobão largou a Blitz no auge do sucesso por não concordar
com o rumo das coisas (talvez esse seja um dos poucos casos onde o termo ‘divergência’ não seja utilizado com o intuito de esconder a sujeira) e provocou a fúria
de milhares de fãs do heavy metal ao subir ao palco do lado de uma escola de
samba durante o Rock In Rio 1991, onde foi escalado para tocar na noite do
heavy metal depois do Sepultura. O cantor pretendia demonstrar que o peso da
percussão dos sambistas poderia ser maior do que dos ícones do metal. A galera
não deu nem chance. Atacaram tudo que tinham direito na cabeça do musico, que
interrompeu a apresentação na terceira faixa. Parece que Lobão está certo
quando diz que a história é mutável. Atualmente vários artistas de heavy metal
utilizam instrumentos percussivos e os headbangers acham o máximo! Qual a
diferença entre tocar com a Bateria da Mangueira e o Tambour Du Bronx?
Trabalho vencedor do Grammy Latino foi ofuscado pelo ataque da imprensa |
As críticas negativas prejudicaram o desempenho do programa. Se o especial não serviu para leva-lo de volta às paradas (como aconteceu com os Titãs e o Capital Inicial), ao menos serviu para mostrar à nova geração que Lobão é muito mais do que um rapaz de opiniões fortes, muitos mais do que um cara sem papas na língua.
Lobão optou por dar ênfase à canções que acreditava que mereceria maior destaque.
Das 18 faixas, apenas 7 eram grandes sucessos. Poderia muito bem ter feito um
álbum com os hits, assim como fez seu ex-companheiro do Vimana, Lulu Santos. Tem
material para isso. Vários de seus grandes sucessos ficaram de fora. Alguns
exemplos? “O Rock Errou”, “Vida Bandida”, “Panamericana”, “Vida Louca Vida”,
Chorando no Campo”, “Cenas de Cinema”, somente para citar alguns. E, o pior de
tudo, é que funcionou. E incrivelmente bem. Para mim, é um dos melhores acústicos
da série. A apresentação é inspirada e os arranjos são
fantásticos. Mesmo!
Podem até discutir suas atitudes, mas há duas características do artista
que ninguém pode negar: ele realmente é um bom músico e é inteligente pra
caralho. Essa inteligência fica explicita nas letras de várias de suas canções.
Como exemplo poderia citar “El Desdichado II” (onde a versão acústica consegue
superar a versão original) e “A Vida É Doce”. O lado bom músico? Basta analisar
seu trabalho com um pouquinho de calma. Seja seu trabalho como baterista da
Blitz, seja no seu lado hitmaker ou ainda na segurança com a qual toca sua
guitarra nas apresentações.
A única coisa que me deixa chateado é perceber como ele fala com desdém de
sua obra dos anos 80. Nesse show, deixar as músicas de lado realmente foi uma opção. Já tive a
oportunidade de assisti-lo ao vivo e no dia ele tocou tudo que eu esperava
ouvir, mas nas entrevistas ele tende a criticar o seu período de maior
popularidade e inclusive a cena da época. Cena que ajudou a desenhar, seja
tocando bateria com a Blitz ou com a Gang 90, seja ouvindo músicas suas nas
vozes de outros artistas (como Marina Lima e Cazuza), seja ouvindo sua própria voz
nas rádios. Parece que a raiva que ele tem do sistema fez com que ele pegasse
raiva do que produziu quando esteve dentro do sistema. Tudo bem... Concordo que tinha bastante artista de segunda linha nas rádios, mas qual geração não teve isso? Tirando esse fato, minha única reclamação é que ele tem lançados poucos discos. Lobão, estamos à espera
de novo material brother!
Faixas:
01)
El
Desdichado II
02)
Essa
Noite, Não
03)
Decadence
Avec Elegance
04)
Bambina
05)
Vou Te
Levar
06)
Quente
07)
Por Tudo
Que For
08)
Noite e
Dia
09)
Me Chama
10)
Você e a
Noite Escura
11)
A Queda
12)
A Vida é
Doce
13)
Pra Onde
Voce Vai
14)
O Misterio
15)
Canos
Silenciosos
16)
Blá Blá
Blá ... Eu Te Amo
17)
Corações
Psicodélicos
18)
A Gente
Vai Se Amar