Por Davi
Pascale
Kid Rock chega à seu décimo-segundo
álbum de inéditas. Cada vez mais afastado da linguagem rap rock que o
consagrou, o rapaz se destaca por linhas vocais fortes e canções cativantes.
Prova, mais uma vez, ser um dos nomes mais interessantes da cena contemporânea.
O rapaz atingiu o estrelato em 1998 com seu
quarto trabalho, Devil Without a Cause e foi acusado pela mídia de ser um
branquelo metido à rapper. Na época, apostava em uma sonoridade que estava em
bastante evidência: o flerte do rap com o rock n roll. Comecei a acompanhá-lo
nesse período. Por mais que não costumasse lançar obras-primas, seus discos
sempre traziam momentos interessantes. Mas, quando ele começou a me chamar a
atenção mesmo foi em 2003 quando lançou um CD auto-intitulado flertando com o
southern rock. A partir dele, seu trabalho veio amadurecendo cada vez mais.
Algo que sempre teve a seu
favor foi a voz. Se você pegar uma banda como o Limp Bizkit, por exemplo (que
estava em bastante evidência quando ele atingiu as rádios), você notará que
Fred Durst é um cantor extremamente limitado. Kid Rock, de outro lado, tem uma
voz forte, com um excelente timbre, que o permite se arriscar em novos
caminhos. A primeira vez que notei que ele realmente sabia cantar foi em uma
dessas premiações transmitidas pela TV, onde fez um dueto com o trio ZZ
Top.
Kid Rock continua se utilizando de influências country |
First Kiss está sendo vendido como um disco de heartland rock,
assim como aconteceu com seus dois trabalhos anteriores: Born Free e Rebel Soul.
Talvez, para muitos aqui no Brasil, esse seja um termo estranho. Não se
preocupe se nunca ouviu falar disso. O termo é muito popular nos Estados
Unidos. Há bastante similaridades com o southern rock. Trata-se de uma
sonoridade mesclando country e rock, incluindo elementos de americana (termo
que utilizam para se referir à música de raiz). A diferença é que aquele
lado blues bastante presente na linguagem southern não aparece aqui.
Ou seja, a influência country
continua a toda. Baladas como “Drinkin´ Beer With Dad” e “Say Goodbye” deixam
escancarado sua preferência pelo gênero. Essa última, uma parceria com o músico
Bob Seger. Kid Rock compôs 90% do disco, mas talvez muitos não tenham reparado,
já que ele optou por assinar a produção do disco como Kid Rock e as composições
por seu nome de batismo: Robert James Ritchie.
Dentro desse universo conhecido
como heartland rock é permitido uma aproximação com elementos modernos, desde
que sua sonoridade não seja descaracterizada. Desde os anos 80, vários
artistas do gênero têm incorporado sintetizadores em sua música. Aqui, aparecem
algumas baterias eletrônicas em faixas como “Good Times, Cheap Wine” e “Good
Time Lookin´For Me”, mas sem perder aquela vibe roots. Essas batidas não são o
elemento principal das canções, como acontece em boa parte das músicas pop
atuais, são apenas um detalhe a mais. E, muitas vezes, são misturadas com o som
de bateria acústica.
Seus últimos álbuns em nada lembram seus momentos de rapper |
As letras dessa vertente costumam
girar em cima de desilusões, nostalgia, oportunidades limitadas, em tom de
narrativa e contando com uma linguagem mais ríspida. O cantor mantém o
clima. O elemento nostalgia aparece já na faixa título (“Agora nesses dias em
que eu dirijo nas pequenas cidades. Ligo meu rádio, desço a janela. Porque me
recorda de meu primeiro beijo e daqueles dias que tanto sinto falta”). Não
falta uma homenagem à um de seus grandes ídolos, Johnny Cash, em uma faixa que
leva o nome do artista. A parte de desilusão aparece como uma crítica política
em “Ain´t Enough Whiskey” (“Eles falam sobre o pobre, sobre enviar minha filha à
guerra. Macacos de terno, escrevendo leis e regras. Parece não ter fim. Não
ouvirei aqueles palhaços. Eu sei o que é certo).
Se você já ouviu seus discos mais
recentes, já sabe mais ou menos o que esperar. Se você não conhece nada além
dos hits “Cowboy”, “American Bad Ass” e “Bawitdaba” vale dar uma nova chance ao
garoto. Kid Rock de hoje não tem nada a ver com o Kid Rock do final dos anos
90. Belo álbum!
Nota: 8,5 / 10,0
Status: Excelente!
Faixas:
01) First
Kiss
02) Good
Times, Cheap Wine
03) Johnny
Cash
04) Ain´t
Enough Whiskey
05) Drinkin´
Beer With Dad
06) Good
Time Lookin´ For Me
07) Best
Of Me
08) One
More Song
09) Jesus
and Bocephus
10) Say
Goodbye (Bonus Track)