segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Raimundos: Duas décadas de rock, maconha e sacanagem.



Por Davi Pascale

Agora, em 2014, completam-se 20 anos que o álbum de estréia dos Raimundos chegou às lojas. Durante muitos anos, foram porta-vozes de uma geração. Os garotos se vestiam igual à eles, utilizavam as mesmas gírias, usavam camiseta do grupo etc etc etc. Atualmente os caras vivem uma etapa bem diferente. Sem o carismático vocalista Rodolfo, se viram em 500 para se manterem na ativa e, principalmente, para não cair no esquecimento.

Como todo bom grupo de rock deve ser, foram incômodos. Suas letras, que falavam de putaria e maconha, incomodavam muita gente. O pessoal das gerações anteriores não compreendia o que era o Raimundos e os acusavam de ser um conjunto que não tinha nada a dizer e de ser uma má influencia para a juventude.

É claro que essas pessoas não sacaram qual era a dos meninos de Brasilia. Ao contrário do grande expoente brasiliense da década de 80, os Raimundos não tinham pretensão de passar mensagem para as pessoas e, ao contrario dos pagodeiros e sertanejos xexelentos que dominavam as rádios na época, não tinham a pretensão de conquistar o coração das meninas com poesia barata. A proposta deles era meramente de diversão. É óbvio que a juventude adorou. Qual adolescente que não gosta de encher os pulmões e gritar um palavrão do nada? Imagina você ter uma banda que te dá liberdade de fazer isso durante um show inteiro...

A saída de Rodolfo fez com que o grupo perdesse parte dos seguidores

E sejamos honestos. O que os meninos cantavam não está muito distante daquilo que o Camisa de Vênus cantava em músicas como “Silvia” e “My Way”, nem era tão cabeludo quanto algumas letras do Velhas Virgens, que soltaria seu debut pouco tempo depois. O lance da maconha parece ser símbolo daquela geração. 9 entre 10 bandas, tinham alguma musica que falava de marijuana. Isso sem contar o Planet Hemp que praticamente construiu sua carreira em cima do tema.

Digão foi o Tony Belotto dos anos 90. Era um guitarrista não mais do que mediano, mesmo assim 9 entre 10 jovens queriam aprender seus riffs, seus solos e o tinham como ídolo. O impacto que o titã causou nos anos 80, o rapaz causou na década seguinte. Rodolfo nunca teve uma grande voz, mas era bem carismático. Tinha boa presença de palco e tinha o publico na palma de suas mãos durante as apresentações. A fórmula funcionava perfeitamente. Eram os caras certos para aquele projeto.

A carreira deles foi recheada de polêmicas. Desde o forrocore do debut, passando pela performance no programa da Xuxa na época de Lavô Tá Novo, na capa em que posaram de pagodeiros (Só no Forevis) até chegar à versão de “20 e Poucos Anos”, hit de Fábio Jr., gravada para um programa da MTV que tinha o mesmo nome.

A polêmica capa de Só no Forévis

Dessas, vale a pena explicar a arte de Só no Forevis. Lembro até hoje de quando estava andando na Galeria do Rock e vi dois rapazes comentando em frente à uma vitrine. O primeiro mandou “Olha lá, o novo do Raimundos. Agora eles estão cantando pagode”. O outro emendou “Putz, que pena. Era uma banda legal”. Isso porque já tinha musica rolando nas rádios. Como podem ver, muita gente não se dava ao trabalho de ouvir o CD por conta da arte escolhida para a capa. Na verdade, era uma brincadeira. Era uma critica à invasão do gênero nas rádios e na TV. Era como se eles dissessem “se precisamos posar de pagodeiros para aparecer na TV, aqui estamos”. Demorou um pouco para que a galera entendesse a jogada...

Demorou, mas funcionou. Várias faixas invadiram as estações de rádio. “Me Lambe”, “Mulher de Fases”, “A Mais Pedida”... Os caras lotavam tudo quanto é show. As apresentações duravam 3 horas. Pareciam imbatíveis. Tudo ia bem até que Rodolfo Abrantes resolveu abandonar o grupo, declarando estar vivendo uma outra realidade e dizendo que queria se dedicar à religião. Quando ouvi isso pela primeira vez, achei que era gozação do cara. Quando saquei que era verdade, imaginei o fim do conjunto.

Como disse anteriormente, ele era extremamente carismático e os fãs o adoravam. Imaginava que seria difícil substituí-lo. Não por técnica ou alcance. Longe disso. Por esse ângulo, seria fácil. O problema era a identificação que o publico tinha com ele. O grupo optou por colocar Digão nos vocais e trouxe um novo guitarrista, o ex-Peter Perfeito, Marquinhos. Foi bom por um lado, ruim por outro. Digão tem um timbre de voz muito mais legal do que Rodolfo. Pelo menos, eu acho. Por outro lado, a mesma identificação que a garotada tinha com Rodolfo correndo e pulando de um lado para o outro, seus fãs tinham pelo Digão enquanto guitarrista. Lembra que eu disse que a molecada ficava tentando aprender seus riffs e seus solos? Então... Seus seguidores ficaram sem uma coisa, nem outra. As letras também perderam um pouquinho da irreverência, do deboche, que era outra marca registrada dos Raimundos.

Grupo planeja novo álbum de inéditas

Os trabalhos lançados com Digão nos vocais são bons discos (Kavookavala e O Embate do Século são divertidíssimos), mas não tem aquele brilho de outrora. Durante esse tempo, houve algumas mudanças na formação. Apenas Digão permaneceu em todas. Fiquei sabendo que os rapazes finalmente estão preparando um CD de inéditas e que pretendem lança-lo esse ano. Torço para que venham com um puta disco e reconquistem seu espaço. Depois de tanto tempo de batalha sem abaixar a cabeça, eles merecem!