Por Davi Pascale
Recentemente o Rafael criou um
post para comentar sobre os fãs do Eluveitie que estavam acusando a banda de
terem se vendido, por terem realizado um comercial para a Honda. Esse é um
assunto que já me deparei trocentas vezes no decorrer da vida. Seja ouvindo
mimimis de fãs mimizentos ao conversar sobre música com alguém, seja lendo
artigos escritos por críticos que tomam Toddynho e arrotam cerveja Kaiser, seja
entrevistando músicos nacionais e internacionais. Mas afinal, o que é se
vender?
Se vender nada mais é do que você
fazer algo que você sempre se posicionou contra porque aquilo te trará mais
dinheiro. Se é algo que você nunca se posicionou contra, ou não fere seus
princípios, então você não se está se vendendo. A mesma coisa em relação à
música. “Ah... o cara mudou o som dele, vendido”. Extremamente discutível. Ele
mudou para que? Para uma sonoridade que está tão fora da mídia quanto? Então
ele não se vendeu porque a chance de tomar na cabeça é grande. O cara cantava black
metal e está cantando Luan Santana? Sem duvida, é um vendido, visto que o tal
sertanejo universitário está na moda e são universos opostos.
Infelizmente, muitas dessas
críticas dos fãs nascem, tenho que admitir isso, por influencia de críticos que
trabalham em veículos especializados. 90% dessas publicações tendem a enaltecer
alguns gêneros e acabar com outros. Só que essa história de acabar com um
gênero é um desserviço à música. Por que? Porque na tentativa de pagar de
mauzão, de polêmico, de dono da verdade (como se isso existisse), criam-se
essas brigas estúpidas e intermináveis que jogam contra a música e, por conseqüência,
contra o rock n´ roll. Em que sentido? No sentido de que a força de um
movimento, seja ele qual for, está na união. E essa atitude cria separações
dentro do próprio movimento. Ou seja, algo inútil.
Banda foi tachada de vendida porque parou de gravar fitas cassetes |
E o mais engraçado de tudo são os
motivos apresentados. Lembro quando entrevistei o grupo Dead Fish, no
lançamento de Um Homem Só e o cantor
Rodrigo comentou que nem dava mais bola para esse lance de vendido porque ouvia
isso desde sempre. Quando questionei ‘como assim’, o cara me respondeu: “A
primeira vez que fomos tachados de vendidos foi quando paramos de gravar nossas
demos em K7 e começamos à gravá-las em CD”. E aí? Isso é ser vendido?
Esse lance de comercial de
televisão e merchandising é bacana. Ajuda a fortalecer a imagem do artista. É
claro que tem que haver certos cuidados. Não dá para fazer que nem o Roberto Carlos.
Se declarar vegetariano e ir vender carne da Friboi. Aí é sacanagem, mas se for
para explorar algo que esteja relacionado à sua imagem, não vejo problemas. Inclusive, é bem comum fora do Brasil.
“Ah... Então não existem artistas
vendidos”. Certeza que sim, mas não na proporção em que acusam. Um exemplo
clássico é o João Gordo. Ele mesmo já declarou em entrevistas: “me vendi,
foda-se”. Enquanto cantor, diria que não. Ratos de Porão sempre continuou com a
porradaria de sempre e com letras ferozes. Enquanto figura publica, sim. O cara
que cantava “Igreja Universal” ir trabalhar com Marcos Mion na Rede Record
sempre será algo questionável. Para quem não está por dentro. O dono da
emissora é o bispo Edir Macedo, fundador da tal Igreja Universal. Lembram-se sobre
o que disse de ir contra seus princípios? Pois é...
Comercial de TV com rockstars é comum |
Agora uma coisa é fato: a galera
precisa parar de levar atitudes de artistas tão a serio. Mesmo questionando
algumas atitudes do João Gordo, por exemplo (assim como também questiono
atitudes de outros artistas), não deixei de respeitá-lo. O que o cara fez com o
Ratos foi forte. Embora ele não seja o cantor original, eu sei, foi com ele que
o grupo decolou. Quanto suas participações na TV, tem coisas que acho bacana,
coisas que acho totalmente equivocadas. Por exemplo, sempre apareceu na TV como
um cara desbocado, polêmico, irreverente. O que um cara desses foi fazer
trabalhando de jurado no Idolos Kids? Nada contra o programa, mas não tem nada
a ver com ele. Seria a mesma coisa que colocar o Zé do Caixão para apresentar
TV Globinho. Ou o Luciano Huck para apresentar Cine Trash.
É claro que ver um artista que
você admira se vender, é chato. Afinal, um cantor não vende apenas uma canção,
vende uma ideologia e a gente se identifica com aquilo. Entendo isso. O
problema é que enquanto vocês estão se descabelando, os caras estão curtindo a
grana deles e rindo da sua cara. Então deixo duas reflexões aqui: 1) Será que o
cara se vendeu ou minha visão é muito fechada? 2) Se o cara se vendeu, até onde
afetará minha vida? Reflita!