Por Davi Pascale
Santana volta a trabalhar no
formato de banda e lança seu melhor trabalho em décadas. Contando com músicos da
formação original, disco deve agradar seus fãs das antigas.
Já tinha um tempo que o músico
mexicano Carlos Santana vinha trabalhando no formato de parcerias, muitas vezes
com músicos mais jovens. Formato bacana, mas que já estava ficando meio
saturado. Particularmente, gostei de Corazón,
mas era aquele lance de ‘está bacana, mas está longe do que já foi’. Esse
sentimento acaba agora em IV.
Para a criação do novo álbum, que
levou 2 anos para ficar pronto, o músico recrutou seus velhos parceiros. Gregg
Rolie (teclado/voz), Michael Shrieve (bateria), Michael Carabello (percussão) e
Neal Schon (guitarra, Journey). Músicos que haviam trabalhado ao seu lado em
seus três primeiros discos (daí a razão do título) e haviam se apresentado ao
seu lado no histórico Woodstock. Para completar o time, vieram Benny Rietvelo (baixo)
e Karl Perazzo (percussão).
O disco apresenta um trabalho extremamente
honesto. Está tudo aqui. O lado blues, a pegada pop, a levada latina. As
guitarras, as congas, os bongôs. Todos aqueles elementos que ajudaram a definir
sua identidade musical seguem de braços dados.
“Yambu” começa já deixando
estampada sua veia latina. É possível sacar qual foi o artista que o Maná ouviu
à exaustão para escrever suas músicas. Linha vocal bem similar. E, sim, Santana
explora esse universo há décadas. Mas foi em “Shake It”, contudo, que minha
empolgação surgiu. Um blues rock de primeira com uma percussão afro em bastante
evidência. “Anywhere You Want To Go” é uma das melhores do CD. Resgata seus
tempos de Abraxas. O teclado remete
bastante à “Oye Como Vá”. “Fillmore East”, por outro lado, é uma jam
instrumental de 7 minutos, esquecendo completamente a veia pop.
Musico resgata velhos parceiros |
Carlos Santana é um monstro na
guitarra. Além de ter uma timbragem única, o rapaz é um daqueles músicos que
conseguem mesclar como poucos a equação técnica x sentimento. Neal Schon não
fica muito atrás, não. Mesmo em seu trabalho com o Journey, é possível perceber
sua técnica apurada. A dupla funciona muito bem no novo trabalho.
“Love Makes The World Go Round” e
“Freedom In Your Mind” trazem a participação especial de Ronald Isley, do
cultuado grupo The Isley Brothers. Parceria funcionou incrivelmente bem. A balada
instrumental “Sueños” nos leva novamente aos tempos de Abraxas. Uma espécie de nova “Samba Para Ti”. “Caminando” traz um
trabalho de guitarra bem inspirado, embora não esteja entre minhas preferidas.
Carlos Santana sempre teve
cuidado na hora de escolher os músicos que iriam lhe acompanhar, mas ouvir essa
galera junto novamente é mágico. E o mais bacana é que a parceria funcionou
muito bem. Não houve uma tentativa de soar moderninho, apenas de resgatar sua
velha identidade. Nada aqui soa forçado. Pelo contrário, soa bem natural.
Sua veia blues aparece com força em
“Blues Magic” e “Forgiveness”. Enquanto “Echizo” e “Come As You Are” (não, não
é o clássico do Nirvana) trazem mais uma vez sua veia latina, aquela sonoridade
tropical. “Leave Me Alone” é a única que soa como seus trabalhos mais recentes.
Poderia ter sido incluída em Supernatural
ou Shaman. Uma boa faixa para
ser trabalhada nas rádios.
IV traz o Santana com uma inspiração que não via em décadas.
Trabalho com pouquíssimos fillers (tirando “Freedom In Your Mind”, "Caminando" e “Choo Choo”,
o resto é fantástico) e bem fiel aos seus princípios. Não seria nada mal se
resolvesse manter esse lineup por alguns anos. A grande surpresa de 2016 e um
dos melhores do ano. Escute!
Nota: 9,0 / 10,0
Status: Inspirado
Faixas:
01) Yambu
02)
Shake It
03)
Anywhere You Want To Go
04)
Fillmore East
05)
Love Makes The World Go Round (c/ Ronald Isley)
06)
Freedom In Your Mind (c/ Ronald Isley)
07)
Choo Choo
08)
All Aboard
09)
Sueños
10)
Caminando
11)
Blues Magic
12)
Echizo
13)
Leave Me Alone
14)
You And I
15)
Come As You Are
16)
Forgiveness