Por Davi Pascale
Paulo Miklos lança seu terceiro álbum solo, o primeiro após sua saída dos Titãs. Novo trabalho traz o musico entrando de cabeça na tão comentada música popular brasileira. O disco tem sido bem recebido, mas não é voltado para todo tipo de fã.
Os Titãs fizeram parte da minha
formação musical. Quando comecei a ouvir o conjunto, lá por 1988, 1989, eles
eram um dos principais nomes do rock brasileiro. Iam contra tudo e todos.
Faziam um som pesado, possuíam uma irreverência fora do comum nos palcos, letras
incômodas. Iam contra o sistema. Se essa ainda é sua visão sobre os músicos,
cuidado, muito cuidado ao ouvir o disco novo do Paulo Miklos.
Quem acompanha os músicos de
perto, não se espanta mais. Já tem anos que eles deixaram claro que eles querem
ser populares e já tem um tempo que os músicos deixaram sua admiração explícita
pela MPB.
Esse é o melhor termo para
definir A Gente Mora No Agora. É um
trabalho de MPB. Para criar o repertório, Paulo contou com a ajuda de grandes
nomes da cena. Desde os lendários Guilherme Arantes e Erasmo Carlos, passando
pela linda e talentosa Céu, até seus ex-companheiros Nando Reis e Arnaldo
Antunes. O que predomina, contudo, é a aproximação com a nova geração. Além da Céu,
temos o dedo de nomes como Tim Bernardes, Silva, Emicida e até mesmo Mallu
Magalhães.
Quando coloquei meu LP para tocar
pela primeira vez (sim, comprei o vinilzão), procurei não ficar reparando em
quem era o compositor de tal canção para não me deixar influenciar. Entre os
parceiros escolhidos pelo artista, há alguns que gosto muito do trabalho que
fazem e acompanho de perto e outros que nunca me agradaram. No primeiro lado,
as que mais se destacaram foram “A Lei Desse Troço”, “Vigia” e “Vou Te
Encontrar”. Curiosamente, são faixas que se ouvirmos isoladas, já temos uma
noção do que se trata o disco. Um LP com bastante brasilidade e uma pegada
romântica por trás. Curiosamente, duas delas escritas por artistas que não sou
fã.
Apesar do grupo paulista ter nos
brindado com diversos talentos, em termos de voz, o Paulo Miklos sempre foi
quem mais me chamou a atenção. Voz rasgada, forte, afinado. Seu trabalho vocal
é bem resolvido, não decepciona. Por ser um trabalho solo, já era esperado que
não tivesse uma banda fixa. É exatamente isso o que ocorre aqui. Entre os nomes
presentes, contudo, vale citar a participação do lendário Dadi Carvalho (A Cor
do Som, Barão Vermelho), Pupillo (Nação Zumbi) e Apollo 9 (Planet Hemp, Bebel
Gilberto).
Interessante notar que alguns músicos
possuem uma marca tão forte que é difícil não imaginarmos de quem é a autoria,
assim que ouvimos a canção. Isso é facilmente notável nas contribuições de
Erasmo Carlos (País Elétrico) e Guilherme Arantes (Estou Pronto). É possível
sacar que as musicas são deles somente pela divisão métrica. Aliás, a faixa do
Guilherme Arantes é super bonita.
O lado B achei um pouco mais
irregular do que o lado A, mesmo assim vale destacar a bonita balada “Princípio
Ativo” e “Samba Bomba”, que apesar do nome, é a mais roqueira do álbum, com uma
pegada quase tropicalista.
No geral, A Gente Mora no Agora é um disco bonito, bem resolvido, mas mais
uma vez, se você está comprando por ser ‘o novo disco do ex-cantor dos Titãs’,
cuidado. Há quem acuse Nando Reis e Rita Lee de terem se enveredado para a MPB
(o que não considero nenhum demérito, aliás), para esses, já aviso que o mergulho de Paulo
Miklos na musica popular brasileira foi mais profundo. Por sua conta e risco.
Nota: 7,0 / 10,0
Faixas:
Lado A:
01)
A Lei Desse Troço
02)
Vigia
03)
Risco Azul
04)
Vou Te Encontrar
05)
Todo Grande Amor
06)
País Elétrico
Lado B:
01)
Estou Pronto
02)
Não Posso Mais
03)
Princípio Ativo
04)
Afeto Manifesto
05)
Samba Bomba
06)
Deixa De Ser Alguém
07)
Eu Vou