quarta-feira, 14 de março de 2018

Paulo Miklos – A Gente Mora No Agora (2017):




Por Davi Pascale

Paulo Miklos lança seu terceiro álbum solo, o primeiro após sua saída dos Titãs. Novo trabalho traz o musico entrando de cabeça na tão comentada música popular brasileira. O disco tem sido bem recebido, mas não é voltado para todo tipo de fã.

Os Titãs fizeram parte da minha formação musical. Quando comecei a ouvir o conjunto, lá por 1988, 1989, eles eram um dos principais nomes do rock brasileiro. Iam contra tudo e todos. Faziam um som pesado, possuíam uma irreverência fora do comum nos palcos, letras incômodas. Iam contra o sistema. Se essa ainda é sua visão sobre os músicos, cuidado, muito cuidado ao ouvir o disco novo do Paulo Miklos.

Quem acompanha os músicos de perto, não se espanta mais. Já tem anos que eles deixaram claro que eles querem ser populares e já tem um tempo que os músicos deixaram sua admiração explícita pela MPB.

Esse é o melhor termo para definir A Gente Mora No Agora. É um trabalho de MPB. Para criar o repertório, Paulo contou com a ajuda de grandes nomes da cena. Desde os lendários Guilherme Arantes e Erasmo Carlos, passando pela linda e talentosa Céu, até seus ex-companheiros Nando Reis e Arnaldo Antunes. O que predomina, contudo, é a aproximação com a nova geração. Além da Céu, temos o dedo de nomes como Tim Bernardes, Silva, Emicida e até mesmo Mallu Magalhães.

Quando coloquei meu LP para tocar pela primeira vez (sim, comprei o vinilzão), procurei não ficar reparando em quem era o compositor de tal canção para não me deixar influenciar. Entre os parceiros escolhidos pelo artista, há alguns que gosto muito do trabalho que fazem e acompanho de perto e outros que nunca me agradaram. No primeiro lado, as que mais se destacaram foram “A Lei Desse Troço”, “Vigia” e “Vou Te Encontrar”. Curiosamente, são faixas que se ouvirmos isoladas, já temos uma noção do que se trata o disco. Um LP com bastante brasilidade e uma pegada romântica por trás. Curiosamente, duas delas escritas por artistas que não sou fã.



Apesar do grupo paulista ter nos brindado com diversos talentos, em termos de voz, o Paulo Miklos sempre foi quem mais me chamou a atenção. Voz rasgada, forte, afinado. Seu trabalho vocal é bem resolvido, não decepciona. Por ser um trabalho solo, já era esperado que não tivesse uma banda fixa. É exatamente isso o que ocorre aqui. Entre os nomes presentes, contudo, vale citar a participação do lendário Dadi Carvalho (A Cor do Som, Barão Vermelho), Pupillo (Nação Zumbi) e Apollo 9 (Planet Hemp, Bebel Gilberto).

Interessante notar que alguns músicos possuem uma marca tão forte que é difícil não imaginarmos de quem é a autoria, assim que ouvimos a canção. Isso é facilmente notável nas contribuições de Erasmo Carlos (País Elétrico) e Guilherme Arantes (Estou Pronto). É possível sacar que as musicas são deles somente pela divisão métrica. Aliás, a faixa do Guilherme Arantes é super bonita.

O lado B achei um pouco mais irregular do que o lado A, mesmo assim vale destacar a bonita balada “Princípio Ativo” e “Samba Bomba”, que apesar do nome, é a mais roqueira do álbum, com uma pegada quase tropicalista.

No geral, A Gente Mora no Agora é um disco bonito, bem resolvido, mas mais uma vez, se você está comprando por ser ‘o novo disco do ex-cantor dos Titãs’, cuidado. Há quem acuse Nando Reis e Rita Lee de terem se enveredado para a MPB (o que não considero nenhum demérito, aliás), para esses, já aviso que o mergulho de Paulo Miklos na musica popular brasileira foi mais profundo. Por sua conta e risco.

Nota: 7,0 / 10,0

Faixas:
Lado A:
      01)   A Lei Desse Troço
      02)   Vigia
      03)   Risco Azul
      04)   Vou Te Encontrar
      05)   Todo Grande Amor
      06)   País Elétrico
Lado B:
      01)   Estou Pronto
      02)   Não Posso Mais
      03)   Princípio Ativo
      04)   Afeto Manifesto
      05)   Samba Bomba
      06)   Deixa De Ser Alguém
      07)   Eu Vou