quinta-feira, 28 de abril de 2016

Ana Cañas – Tô Na Vida (2015):



Por Davi Pascale

Ana Cañas durante muito tempo foi vendida como uma artista de MPB. A primeira vez que ouvi falar dela foi totalmente por acaso. Tinha ido assistir uma apresentação do músico George Israel (Kid Abelha) no Club A em São Paulo e lembro que ela cantou algumas músicas no dia. Com boa presença de palco e ótimo domínio vocal, a moça encantou os presentes.

Recentemente, assisti novamente Ana ao vivo. Dessa vez, em um show no Sesc Santo André. Um show só seu, focando sua nova fase. Mais uma vez, o público saiu encantado. Cheia de atitude, irreverente, com garra, voz incrivelmente forte, mostrou em primeira mão o repertório de seu até então recém-lançado Tô Na Vida. Na época, escrevi sobre o show. Agora que o disco está retornando ao mercado no formato de vinil, resolvi escrever sobre o disco.

Em seu quinto álbum, a cantora foca no rock. O som não é tão pesado quanto seu show. Se nas suas apresentações, a guitarra distorcida de Lucio Maia chama a atenção junto com seu vocal rasgado, aqui as distorções são bem mais sutis e em muitos momentos temos o violão falando mais alto do que tudo. Traz uma sonoridade mais clean. Seu trabalho vocal também é mais tranquilo, mais suave.

Algumas mudanças marcam esse trabalho. Primeiro de tudo, o lado interprete ficou para trás. Ana Cañas assina sozinha 9 das 14 faixas do disco. As outras são parcerias com Arnaldo Antunes, Dadi e Pedro Luis. Com isso, o disco ganhou uma unidade maior. Eu particularmente sempre gostei de seus discos. Sempre fez um trabalho com qualidade lá em cima. Mas em seus primeiros discos, atirava para diferentes territórios. Você poderia encontrar um rock e um jazz no mesmo trabalho. Isso não acontece aqui. A sonoridade pop/rock segue por todo o álbum.

A influência da MPB permanece. Isso não é ruim e nem faz com que seu rock seja questionável. Apenas, mais brasileiro. Existem algumas artistas que são difíceis de rotular. Se você chamar de rock, estará certo. Se chamar de pop, estará certo. Se chamar de MPB, também estará certo. Rita Lee é um grande exemplo disso, Marina Lima é outro exemplo, Cássia Eller era outro. A moça vai por esse caminho...

Baladas pop/rock marcam novo disco da cantora

Tô Na Vida é um álbum que tem bastante personalidade. O que acaba sendo incrível em um registro que inaugura uma nova etapa de sua carreira. Normalmente, os artistas demoram 2 ou 3 discos para definirem seu som.

“Existe” começa o disco de maneira forte com um bom refrão e um ótimo solo hendrixiano. “Tô Na Vida” conta com uma forte influência soul e gruda na memória por dias. “Hoje Nunca Mais” é uma balada que poderia estar presente em Volta. A faixa seguinte “O Som do Osso” já traz uma pegada mais rock n roll, com as guitarras crescendo no refrão. “Indivisível” mantém a pegada roqueira, ao mesmo tempo em que inova ao trazer um vocal declamado nos versos. “Coisa Deus” mantém o nível lá em cima com uma pegada electro-acústico e influência flamenca.

Depois da balada “Bandido”, a cantora volta a empolgar em “Feita de Fim”. Aqui traz a cantora mais solta, acompanhada de uma boa linha de baixo. Em “Um Dois Um Só” reduz, mais uma vez a pegada, em uma balada climática que poderia facilmente estar bombando na trilha de alguma novela Brasil afora. A artista mantém o clima mais relax na bonita “Amor e a Dor” para depois explodir no rock “Mulher”. Versos como “sou preta, sou branca, sagrada profana, sou puta, sou santa, mulher” e “sou gata de rua, noite na lua, fico na sua, nua” deixa escancarada a influência de Rita Lee em seu trabalho. O álbum segue forte com a ótima “Pra Machucar” e encerra com “Madrugada Quer Você”, mais uma vez chamando a atenção com um mais um ótimo solo de Lucio Maia. O CD ainda conta com o bônus de “O Amor Venceu”, uma balada com uma pegada folk que nos remete aos seus trabalhos iniciais.

Na imagem de capa, a bonita cantora está nua, pensativa. Reflete bem o disco. Desnuda, livre de amarras, começando um novo momento. Como disse anteriormente, a sonoridade do disco não é pesada, tem um q comercial, mas conta com várias faixas extremamente bem resolvidas. Para quem curte um som mais clean, o disco é uma ótima pedida.  

Nota: 8,0 / 10,0
Status: Bem definido

Faixas:
      01)   Existe
      02)   Tô Na Vida
      03)   Hoje Nunca Mais
      04)   O Som Do Osso
      05)   Indivisível
      06)   Coisa Deus
      07)   Bandido
      08)   Feita De Fim
      09)   Um Dois Um Só
      10)   Amor E Dor
      11)   Mulher
      12)   Pra Machucar
      13)   Madrugada Quer Você
14)   O Amor Venceu (Bonus CD)