quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Dônica – Continuidade dos Parques (2015):



Por Davi Pascale

Álbum de estreia do grupo carioca é a grande surpresa do rock brasileiro desse ano. Formado por jovens garotos, conjunto resgata sonoridade dos anos 70, fazendo uma mistura do rock com MPB como há muito não se via.

O rock brasileiro dos anos 70 é algo que sempre me deixou dividido. Por um lado, é um celeiro de grandes músicos. Sério mesmo, a qualidade musical dos grupos daquela época é de fazer se ajoelhar diante dos alto-falantes. De outro, sentia falta de algo brasileiro em vários daqueles artistas. O que apareceu de neguinho querendo copiar o Yes e o Genesis naquele período não é brincadeira. Claro que haviam suas exceções como o Novos Baianos, o Secos & Molhados ou O Terço. Esses eram grupos que resolveram dar uma cara brasileira para o rock da época. O Dônica parece ter nascido no meio desse turbilhão. Os rapazes fazem um rock progressivo, repleto de poesia. Como se fosse uma mistura de O Terço com Clube da Esquina, se é que isso é possível. Muito bacana saber que temos novos grupos indo por esse caminho...

Curiosamente, o músico mais comentado desse conjunto não dá as caras. Tom Veloso, filho caçula de Caetano, é considerado um integrante do grupo. Entretanto, atua apenas como letrista. Não canta, não toca e não mostra a cara nas apresentações. Portanto, se você é um daqueles que não vai com a cara dos músicos tropicalistas ou tem raiva de Caetano, por qualquer motivo que seja, não precisa torcer o nariz de imediato. Quem você verá nos shows por aí será Zé Ibarra (piano e voz), Lucas Nunes (guitarra), André Almeida (bateria) e Miguel Guimarães (baixo).

Grupo se destaca em álbum de estréia com rock progressivo de alta qualidade

A influência MPB aparece nas linhas vocais e na forma em que as letras são apresentadas. Mas, isso está longe de ser um ponto negativo. Se Caetano, Gil e Chico me frustraram recentemente por conta de algumas de suas atitudes, não dá para dizer o mesmo sobre a habilidade dos rapazes enquanto letrista. Nesse quesito, sempre foram motivo de aplausos. Em termos de arranjos, as influências brasileiras aparecem em maior destaque no trabalho de percussão de “É Oficial” ou no violão de “Assuntos Bons”. Outro momento brasileiríssimo é a participação de bituca em “Pintor”.

Por conta do rock progressivo não ter sido criado no Brasil, é óbvio que em determinados momentos, iremos recordar de alguns gigantes do rock internacional. O solo de guitarra de “Praga” traz forte influência de David Gilmour (Pink Floyd), enquanto o instrumental de “Bicho Burro” demonstra uma grande referência de Yes.

Também é preciso ressaltar a habilidade dos rapazes enquanto instrumentistas. A cozinha formada por Miguel e André se destaca em “Retorno Para Cotegipe” e também na instrumental “Inverno”. Os maiores destaques, contudo, são o teclado de Zé e a guitarra de Lucas, onde vale destacar o belíssimo solo de “Carrossel”. Quem quiser ter uma noção, é possível conferir o videoclipe da ótima “180” no Youtube. Se curtir, não deixe de ouvir o disco. Ali está apenas uma pequena demonstração do que se pode esperar de uma belíssima viagem sonora.

Nota: 9,0 / 10,0
Status: Inspirado

Faixas:
      01)   É Oficial
      02)   Casa 180
      03)   904
      04)   Bicho Burro
      05)   Pintor
      06)   Macaco No Caiaque
      07)   Carrossel 
      08)   Retorno Para Cotegipe
      09)   Praga
      10)   Inverno  
      11)   Assuntos Bons