Por Davi Pascale
Álbum de estreia do grupo carioca
é a grande surpresa do rock brasileiro desse ano. Formado por jovens garotos,
conjunto resgata sonoridade dos anos 70, fazendo uma mistura do rock com MPB
como há muito não se via.
O rock brasileiro dos anos 70 é
algo que sempre me deixou dividido. Por um lado, é um celeiro de grandes
músicos. Sério mesmo, a qualidade musical dos grupos daquela época é de fazer
se ajoelhar diante dos alto-falantes. De outro, sentia falta de algo brasileiro
em vários daqueles artistas. O que apareceu de neguinho querendo copiar o Yes e
o Genesis naquele período não é brincadeira. Claro que haviam suas exceções como
o Novos Baianos, o Secos & Molhados ou O Terço. Esses eram grupos que
resolveram dar uma cara brasileira para o rock da época. O Dônica parece ter
nascido no meio desse turbilhão. Os rapazes fazem um rock progressivo, repleto
de poesia. Como se fosse uma mistura de O Terço com Clube da Esquina, se é que
isso é possível. Muito bacana saber que temos novos grupos indo por esse
caminho...
Curiosamente, o músico mais
comentado desse conjunto não dá as caras. Tom Veloso, filho caçula de Caetano,
é considerado um integrante do grupo. Entretanto, atua apenas como letrista.
Não canta, não toca e não mostra a cara nas apresentações. Portanto, se você é
um daqueles que não vai com a cara dos músicos tropicalistas ou tem raiva de
Caetano, por qualquer motivo que seja, não precisa torcer o nariz de imediato.
Quem você verá nos shows por aí será Zé Ibarra (piano e voz), Lucas Nunes
(guitarra), André Almeida (bateria) e Miguel Guimarães (baixo).
Grupo se destaca em álbum de estréia com rock progressivo de alta qualidade |
A influência MPB aparece nas
linhas vocais e na forma em que as letras são apresentadas. Mas, isso está
longe de ser um ponto negativo. Se Caetano, Gil e Chico me frustraram
recentemente por conta de algumas de suas atitudes, não dá para dizer o mesmo
sobre a habilidade dos rapazes enquanto letrista. Nesse quesito, sempre foram
motivo de aplausos. Em termos de arranjos, as influências brasileiras aparecem
em maior destaque no trabalho de percussão de “É Oficial” ou no violão de “Assuntos
Bons”. Outro momento brasileiríssimo é a participação de bituca em “Pintor”.
Por conta do rock progressivo não
ter sido criado no Brasil, é óbvio que em determinados momentos, iremos
recordar de alguns gigantes do rock internacional. O solo de guitarra de “Praga”
traz forte influência de David Gilmour (Pink Floyd), enquanto o instrumental de
“Bicho Burro” demonstra uma grande referência de Yes.
Também é preciso ressaltar a
habilidade dos rapazes enquanto instrumentistas. A cozinha formada por Miguel e
André se destaca em “Retorno Para Cotegipe” e também na instrumental “Inverno”.
Os maiores destaques, contudo, são o teclado de Zé e a guitarra de Lucas, onde
vale destacar o belíssimo solo de “Carrossel”. Quem quiser ter uma noção, é
possível conferir o videoclipe da ótima “180” no Youtube. Se curtir, não deixe
de ouvir o disco. Ali está apenas uma pequena demonstração do que se pode esperar de uma
belíssima viagem sonora.
Nota: 9,0 / 10,0
Status: Inspirado
Faixas:
01) É
Oficial
02) Casa
180
03) 904
04) Bicho
Burro
05) Pintor
06) Macaco
No Caiaque
07) Carrossel
08) Retorno
Para Cotegipe
09) Praga
10) Inverno
11) Assuntos
Bons
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