Por Davi Pascale
Publicado originalmente no Consultoria do Rock
Considero Paul McCartney um dos músicos mais talentosos que existem dentro do rock n roll. Compositor de mão cheia, criativo, profissional, excelente músico. Dono de uma discografia interessantíssima, como esse trabalho aqui.
Em 1998, Paul tomou uma das maiores porradas de sua vida. O músico viu sua amada esposa Linda McCartney, com quem esteve casado por quase 30 anos, perder uma batalha contra o câncer. O músico, que vinha em um excelente momento de sua carreira, tendo lançado à pouco, Flaming Pie, um de seus melhores álbuns e um dos melhores álbuns dos anos 90, resolveu se afastar um pouco do cenário por conta do baque. A retomada viria no ano seguinte com um o álbum Run Devil Run.
Disposto a recomeçar, resolveu retornar ao básico. Empunhou seu baixo hofner, se trancou no lendário Abbey Road Studios e resolveu reviver algumas músicas que marcaram sua juventude. Não era a primeira vez que fazia algo do tipo. Em 1988, Macca havia lançado Choba B CCCP. Álbum onde revivia clássicos de Eddie Cochran, Sam Cooke e afins. A ideia aqui era parecida.
A grande diferença é que, dessa vez, não focou em hits para criar o tracklist. Muitas dessas músicas são clássicos para quem conhece bem a cena. Para quem conhece mais de longe, apenas por escutar faixas nas rádios de classic rock, uma boa parte dessas canções era novidade.
Paul não queria modernizar as musicas. Queria manter a simplicidade e a magia das canções. Para acompanha-lo nas gravações, recrutou um verdadeiro dream team. A bateria ficou a cargo de Ian Paice (Deep Purple) e Dave Mattacks (Fairport Convention). Os teclados ficaram por conta de Pete Wingfield e Geraint Watkins. Enquanto as guitarras ficaram nas mãos de, nada mais, nada menos, do que David Gilmour (Pink Floyd) e Mick Green (Johnny Kidd & The Pirates). O baixo, obviamente, foi gravado pelo ex-beatle.
Run Devil Run demonstrava que o rapaz não estava para brincadeira. Mais uma vez, fez um dos grandes álbuns de sua carreira. Suas versões de “She Said Yeah”, “Lonesome Town”, “Brown Eyed Handsome Man”, “Honey Hush” e “Shake a Hand” são tão boas quanto as originais. Os momentos menos empolgantes são as faixas que ficaram famosas na voz do rei do rock, Elvis Presley. É muito difícil se igualar ao rapaz de Tupelo. Por mais brilhante que você seja. O garoto tinha um estilo único de cantar e é muito difícil se desligar desse fator durante a audição. Principalmente em faixas como “I Got Stung” e “All Shook Up”. É verdade que as versões estão longe de serem ruins, mas…
Por falar em originais, o baixista não se acomodou e entregou três novas canções, escritas no mesmo pique das homenageadas. “Run Devil Run” trata-se de um rock n´ roll divertidíssimo àla Chuck Berry, mas as melhores mesmo são o boogie-woogie “What It Is” e a bluesy “Try Not To Cry”. Faixas que colocaria facilmente entre os grandes destaques do disco. Isso não é uma tarefa fácil quando se está revivendo Little Richard, Chuck Berry e Carl Perkins, mas Paul McCartney é Paul McCartney.
Se Choba B CCCP sempre ficou dividido na opinião dos fãs, Run Devil Run, de outro, sempre foi muito aclamado. Álbum apresenta McCartney cantando como nunca, qualidade de gravação impecável e arranjos extremamente bem resolvidos. Audição obrigatória!
Nota: 10,0 / 10,0
Status: Impecável
Faixas:
- 01) Blue Jean Bop
- 02) She Said Yeah
- 03) All Shook Up
- 04) Run Devil Run
- 05) No Other Baby
- 06) Lonesome Town
- 07) Try Not To Cry
- 08) Movie Magg
- 09) Brown Eyed Handsome Man
- 10) What It Is
- 11) Coquette
- 12) I Got Stung
- 13) Honey Hush
- 14) Shake a Hand
- 15) Party