sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Paula Toller – Transbordada (2014):




Por Davi Pascale

Paula Toller chega à sua terceira aventura solo. Com ótimas composições, cantora deixa inovação de lado e resolve explorar uma linguagem mais próxima à que os fãs do Kid Abelha estão acostumados.

A carreira-solo da loirinha começou de maneira despretensiosa. Em 1998, lançou seu debut misturando canções de samba com canções pop. Era um disco bem variado e despretensioso. mas era apenas uma maneira de gravar aquilo que tinha vontade e não cabia no pop animado do Kid. Depois, foi a vez de Só Nós mesclando seu lado pop com a MPB. Com um trabalho mais maduro e mais bem amarrado, seu show fez sucesso e rendeu o CD/DVD Nosso. Agora, em 2014, lança seu terceiro trabalho de inéditas com uma veia totalmente pop.

A notícia, para os fãs do trio carioca, é um misto de sentimentos. De um lado, sacia a vontade de ouvir um disco com a sonoridade do grupo que tanto gostam e que não lança nada de novo desde Pega Vida (2005). De outro, coloca em risco a carreira do conjunto. Se fizer um grande sucesso, as chances dela dar continuidade à sua carreira-solo e parar de vez com a banda é grande. Ela pode até dizer que não, mas já vi esse filme antes...

Novo álbum é o trabalho mais pop de sua carreira-solo

Produzido pelo icônico Liminha, o CD apresenta pouco mais de 30 minutos com uma sonoridade mais do que típica da cantora. Liminha foi um dos produtores mais requisitados da era BRock. Produziu trabalhos emblemáticos como Cabeça Dinossauro (Titãs), Selvagem (Paralamas do Sucesso) e Nós Vamos Invadir Sua Praia (Ultraje a Rigor), além de ter trabalhado com o próprio Kid Abelha. A escolha não poderia ter sido mais acertada.

Transbordada aposta na mesma estrutura dos discos do Kid. Canções pop com uma pegada dançante ("Timídos Românticos, "Já Chegou a Hora"), faixas pop/rock ("Seu Nome é Blá", "Ohayou"), além das famosas baladas ("O Sol Desaparece"). 

Além de produzir o novo material, o ex-baixista dos Mutantes divide os créditos de quase todo o álbum. Outros velhos nomes dão as caras por aqui. Beni Borja, mais lembrado entre os fãs por ter gravado a bateria no histórico compacto “Pintura Intima”, assina a parceria em “Seu Nome é Blá” e “À Deriva Pela Vida”. O titã Arnaldo Antunes contribui em “Será Que Vou Me Arrepender”. Nenung, que havia contribuído em Só Nós, volta a dar as caras na faixa-título. 

E não é somente na criação que ela buscou ajuda dos amigos. Os músicos Hélio Flanders (Vanguart) e João Barone (Paralamas do Sucesso) fizeram uma participação especial no disco. Dessas, a mais impactante é a de Barone.

Disco mergulha no som pop que a tornou famosa

Embora não seja muito recordada por esse aspecto, sempre gostei das letras de Paula Toller. Pode parecer fácil escrever letras de canções pop, mas certamente não é. E, mais uma vez, não decepciona. Há uma crítica aos haters, aquelas pessoas que ficam detonando o artista na internet ("Seu Nome é Blá"). A primeira faixa de trabalho, "Calmaí", também tem um pouco a ver com o universo cibernético. É um reflexo sobre essa era onde tudo é motivo de brigas e discussões infinitas. De querer impor sua opinião acima de tudo e de todos. Como não poderia deixar de ser, o tema amor também aparece em alguns momentos do disco. Oras em tom de alegria ("Tímidos Românticos"), oras em tom de desilusão ("O Sol Desaparece").

Embora ainda me questione se escolheu a canção certa como faixa de trabalho, ainda acho a faixa-titulo mais forte nesse aspecto, Paula Toller voltou com um trabalho consistente e que tem de tudo para agradar seus velhos fãs. Quem é fã do Kid Abelha, pode comprar sem medo.

Nota: 8,5

Status: Consistente

Faixas:

01) Tímidos Românticos
02) Calmaí
03) Já Chegou a Hora
04) O Sol Desaparece
05) Ele Oh Ele
06) Seu Nome é Blá
07) Será Que Vou me Arrepender (participação especial: Hélio Flanders)
08) À Deriva Pela Vida
09) Transbordada
10) Ohayou (participação especial: João Barone)