Por Davi Pascale
Bom... Vocês devem se
lembrar de quando escrevi o artigo comentando sobre a canção “Suicide Solution”
do Ozzy Osbourne onde o cantor foi atacado de incentivar o suicídio de um jovem,
certo? Então vocês devem se lembrar também do meu comentário sobre artistas de
rock serem constantemente perseguidos. De todos os ataques que os músicos sofreram,
com certeza, esse foi o maior de todos.
O rock n roll sempre foi mal
visto pela sociedade. Portanto, não é nenhum espanto que quando ele se tornou
moda nos Estados Unidos na década de 80 (sim, o Brasil não foi o único país a
ter seu momento roqueiro nessa época), ele voltou a ser atacado. Sim, voltou.
Logo no inicio, as igrejas acusavam o rock de despertar interesse sexual na
juventude e perseguiam os músicos por isso. Jerry Lee Lewis e Elvis Presley foram
atacados nesse sentido. Não sei se vocês sabem, mas o rei do rock foi proibido
de ser filmado da cintura para baixo nos programas de televisão porque sua
dança era considerada obscena.
Estados Unidos, o berço do
rock, é um país com forte base religiosa. E foi por isso que o depoimento de
John Lennon causou tanto estardalhaço (o depoimento foi feito para uma publicação
inglesa, mas somente se transformou em um circo após começar a aparecer
estampado nas publicações norte-americanas). E, para dizer a verdade, o cantor
foi mal-interpretado. As pessoas costumam citar o caso como se ele estivesse se
achando superior à Jesus, mas na verdade, estava dizendo apenas que o interesse
dos jovens pelo cristianismo não era mais o mesmo. Até fez uma brincadeira na
ocasião: “Não sei o que irá desaparecer antes: o rock ou o cristianismo”. A
resposta foi tão exagerada que chegaram, inclusive, a queimar discos dos Beatles
em praça publica em forma de protesto. Isso para não citar o Kiss, onde um
grupo de mães evangélicas inventou que o nome da banda significava Knights In
Satan´s Service, na tentativa de impedir um concerto que fariam na cidade.
Tipper Gore queria controlar o que as crianças ouviam |
Em 1985, foi a vez de Tipper
Gore (esposa do vice-presidente Al Gore) se colocar contra o gênero. Tipper,
formada em psicologia, lutava contra as imagens de violência que eram expostas
para as crianças na mídia. E eis que ela resolveu expandir sua luta até a
música, com a ajuda das esposas de alguns senadores. Exigiam
que discos com conteudos sobre drogas, ocultismo, sexo e que tivesse
mensagens satanicas quando rodados ao contrario (lembram-se da história
de Ozzy), fossem banidos do mercado. Como o rock n roll era a febre do momento, não precisa ser um grande
gênio para descobrir quem foi o alvo principal. No filme de 2002, Warning: Parental Advisory, a moça
comenta: “resolvi me envolver porque vi os tipos de letras de rock que meus
filhos estavam sendo expostos. Fiquei chocada. Falavam sobre masturbação, sexo
oral...”
Com grande influencia política,
a garota conseguiu travar uma guerra contra as gravadoras. Nas reuniões,
sugeriu que os discos tivessem classificações como acontece com os filmes ou
ainda que viessem com as letras expostas nas capas dos LP´s. Os executivos
explicaram que essas praticas não eram possíveis. Eram milhares de musicas que
recebiam por mês, não tinham como analisar a letra de cada uma delas
detalhadamente. E quanto às letras na capa, envolvia questão de direitos
autorais dos compositores, não poderiam serem expostas em todo lugar. O
controle era pesado. Queriam banir qualquer coisa que estivesse contra os ditos
bons costumes. Até artistas inofensivos como Michael Jackson e Peter, Paul
& Mary correram o risco de serem banidos.
Os músicos travaram uma
batalha contra. Sentiam-se censurados. “Músicos, bandas e compositores mudarem
suas palavras para que pudessem ter seu LP vendido no supermercado? O que é
isso?”, questionava Rob Halford (vocalista do Judas Priest). Os músicos Frank
Zappa, John Denver e Dee Snider (cantor do Twisted Sister) compraram a briga e
resolveram bater de frente com Gore e a turma do PRMC. Além de se sentirem
censurados, sentiam seu futuro ameaçado. “Queriam colocar um adesivo nas capas
para impedirem que o disco chegasse às lojas”, afirmava Dee Snider. Zappa
concordava com ele. Os músicos foram discutir a questão em um tribunal para
defender a liberdade de expressão e mostrar como tudo era exagerado. “Tudo isso
que é dito nas letras, é demonstrado na CBS News de manhã, o que é mais
prejudicial?”, disse Zappa. O cantor do Twisted Sister foi mais além. “A
senhora Gore disse que “Under The Blade” fala sobre sadomasoquismo, estupro...
Pelo contrário, fala sobre cirurgia e sobre o medo que ela causa nas pessoas. Afirmo
categoricamente, que se enxerga outra coisa é obra de sua mente”. Varias bandas
foram atacadas na ocasião: Judas Priest, W.A.S.P. e, mais uma vez, Kiss eram
atacados por suas letras de conteúdo sexuais.
Dee Snider foi um dos músicos que deu a cara para bater |
A solução para que os discos
pudessem continuar sendo circulados foi a criação do selo Parental Advisory que
servia como um alerta aos pais. Uma demonstração de que ali haveria conteúdo falando
sobre drogas, sexo e violência. Diziam que não havia censura, mas a orientação era de que os discos com esse selo
não poderiam ser vendidos à menores de 18 anos. Claro que os lojistas não
levaram isso à sério. Caso contrário, suas vendas cairiam significativamente. O
controle, alías, é tão mal feito que o disco instrumental de Frank Zappa, Jazz
From Hell, recebeu o adesivo.
Durante os anos, artistas norte-americanos
tiveram capas censuradas (o Rafael fez um post recentemente aqui comentado
sobre discos com capas alternativas), clipes e shows com áudio cortado nos
palavrões, artistas foram proibidos de se apresentarem no pais por declararem
que não concordavam com as atitudes de seu governo (o grupo country Dixie Chics
sofreu com isso). No Brasil, já tivemos algo parecido por aqui com LPs com
dizeres estampados na capa alertando que era proibida a venda para menores de 18 anos,
buzina nas rádios, vinil sendo recolhido e tendo faixa riscada para que o consumidor não ouvisse a musica etc. Com essa onda de politicamente correto, torço para que
essa palhaçada não volte.