sexta-feira, 23 de maio de 2014

Kiss: 35 Anos de Dynasty




Por Davi Pascale

Há exatos 35 anos, os quatro mascarados do Kiss lançavam o LP Dynasty. E pela primeira vez, enfrentaram varias acusações pesadas em relação à sonoridade que estavam seguindo. Acusados de flertarem com a disco music (gênero repudiado pelos roqueiros da época) na sua música de trabalho, a hoje clássica “I Was Made For Lovin´ You”, os músicos perderam bastante seguidores em seu primeiro trabalho após as férias da banda. A situação pioraria ainda mais com os dois trabalhos seguintes (Unmasked e Music From The Elder). Entretanto vamos deixar isso para o futuro. Vamos manter nosso foco aqui.

Vindo de uma extensa maratona de shows na época de Love Gun e constantes brigas internas, a banda foi aconselhada a tirar um ano de férias. Mas não sem antes deixar algum material para que a gravadora pudesse trabalhar o grupo. Foram lançados nesse período a coletânea Double Platinum, os 4 álbuns solo e o filme, realizado em parceria com a Hanna-Barbera, Kiss Meets The Phantom Of The Park (no Brasil ficou conhecido como Kiss E O Fantasma das Trevas). O material solo não obteve o sucesso esperado, entretanto a gravadora depositava confiança de que o próximo álbum feito em conjunto traria a atenção de volta. Acreditava que a força estava na união de seus integrantes. E esse álbum seria justamente o Dynasty.

De alguma forma, Ace Frehley ganhou um pouco mais de destaque nos últimos álbuns que esteve com a banda. Parece que o fato do LP solo do spaceman ter atraído um pouco mais de atenção do que a dupla Simmons/Stanley, ajudou a inverter um pouco o jogo a seu favor. Nos últimos trabalhos que fez com o conjunto, passou a emplacar mais composições e a cantar um pouco mais – tanto nos LP´s quanto nos shows (na tour de Unmasked ele costumava cantar 4 faixas por noite). Peter, por outro lado, continuava a reclamar de falta de atenção. E ficava chateado por não aceitarem com facilidade composições suas nos álbuns. Dizia que não entendia a razão, uma vez que a balada “Beth” tinha sido o maior sucesso do Kiss e era dele (o que não é mentira). Criss também acreditava que os músicos sentiam vergonha de seu LP solo. Para demonstrar ao rapaz que não tinham nada contra ele, nem contra o disco dele, o grupo resolveu convidar Vini Poncia para produzir o próximo álbum. O mesmo produtor que havia produzido o disco solo de Peter um ano antes.
 
Banda atravessava momento delicado

O que ninguém esperava é que esse mesmo Vini Poncia seria o responsável por afasta-lo do projeto. Sua primeira recomendação era que Peter não teria permissão para palpitar em qualquer música, em qualquer arranjo. O produtor o considerava um musico fraco e dizia que o musico não tinha ouvido musical. Referia-se a ele como tone deaf. Termo utilizado para quando um musico é incapaz de distinguir duas notas ou incapaz de manter o andamento. Peter Criss sempre foi um ótimo cantor, portanto é capaz que estivesse se referindo à permanecer no tempo. Peter, na verdade, não era um musico ruim. Ele realmente sempre foi limitado, mas era competente. O problema é que quando realizou esses dois projetos ao lado de Vini, estava no auge de sua dependência química, abusando do álcool e tinha seus movimentos debilitados graças à um grave acidente de carro que havia sofrido no ano anterior. Todos esses itens quando somados, prejudicava consideravelmente o nível de sua performance. Por conta de todas essas confusões, acabou gravando apenas a faixa “Dirty Livin´”. O resto do material foi gravado por Anton Fig que anos mais tarde se juntaria ao Ace no Frehley´s Comet. 

Peter obviamente não estava feliz com toda essa situação e mais uma vez teve 3 das 4 faixas que levou para as gravações vetadas. A já citada “Dirty Livin´” foi a única aceita. Outras duas – “Out Of Control” e “There´s Nothing Better” seriam gravadas em seu primeiro trabalho solo pós-Kiss, lançado em 1980, enquanto “Rumble” permanece inédita. Catman passava por um período delicado, estava se separando de Lydia Criss que, segundo dizem, estava tentando ganhar rios de dinheiro no divórcio, estava ficando cada vez mais debilitado fisicamente por conta do vício. Afastá-lo das gravações foi um choque para o músico e ajudou a deixa-lo ainda mais para baixo. Sua saída do conjunto era realmente uma questão de tempo.

Embora a turnê recebesse o nome de The Return of Kiss, os músicos estavam mais afastados do que nunca. O disco foi gravado como se fossem sessões solo, praticamente. Em “Sure Know Something”, foi Paul Stanley quem gravou a linha de baixo e também a guitarra solo. Em “Magic Touch” também tomou o lugar de Gene, assumindo as quatro cordas. Ace Frehley gravou a linha de baixo em “Save Your Love”, “Hard Times” e “2.000 Man” (cover dos Rolling Stones que seria regravado mais tarde no MTV Unplugged). Com isso, o baixo do the demon é ouvido apenas em “Charisma” (faixa que ele criou em cima de “Simple Type” do Wicked Lester), “X-Ray Eyes” e a música mais lembrada do trabalho, “I Was Made For Lovin´ You”.

I Was Made For Lovin´ You ainda é muito pedida nos shows

Inspirada em suas visitas ao Studio 54, Stanley quis escrever uma canção disco, mas que ainda mantivesse a essência do Kiss. No box set da banda, o musico explicou sua sacada “Eu percebi que todas aquelas músicas tinham o mesmo andamento. Você poderia mistura-las sem nenhum corte. Todas eram sobre o hoje. Sobre o agora. Sobre se divertir e não se preocupar com o futuro”. A ideia era pegar essa batida e misturar com a guitarra do rock Foi a última faixa a ser apresentada para o LP. Gene Simmons, embora não morresse de amores pela canção acreditava que ela tinha que estar no disco justamente por ser algo que não se esperava deles. Essa ideia de elemento surpresa o agradava.

Embora seja a mais popular do projeto, muitos fãs torceram o nariz para o grupo na ocasião por conta disso. Não sei se a ideia de utiliza-la como primeira faixa de trabalho foi inteligente, justamente por conta desse impacto no ouvinte. Sem dúvidas, tinha um grande potencial. Tanto que até hoje é pedida nos shows. Mas acho que se tivessem trabalhado uma canção rock antes, os fãs iriam se ligar que o grupo não havia feito um álbum flertando com a disco music (como outros gigantes do rock, como Rolling Stones e Rod Stewart, estavam fazendo). Haviam feito apenas uma faixa. A situação não estava fácil. A turnê não foi um sucesso. Shows cancelados, público diminuindo, as brigas aumentando... E com Unmasked não seria muito diferente.

Entretanto, embora o relacionamento deles não estivesse em um ótimo momento, o resultado do disco é ótimo. Os elementos principais estão ali somando algumas novas influencias. Algo que, para mim, é sempre interessante. O som é um pouco mais polido do que o de Love Gun, mas ainda assim longe de algo que possa ser considerado pasteurizado. LP muito bem feito. Diversão garantida.

Faixas:

01)   I Was Made For Lovin´ You
02)   2.000 Man
03)   Sure Know Something
04)   Dirty Livin´
05)   Charisma
06)   Magic Touch
07)   Hard Times
08)   X-Ray Eyes
09)   Save Your Love