terça-feira, 19 de abril de 2016

Magnéticos 90: A Geração do Rock Brasileiro lançada em fita cassete (2016):



Por Davi Pascale

Algo bem interessante acaba de chegar às livrarias. Magnéticos 90 traz um retrato da cena brasileira dos anos 90. Daquelas bandas que vendiam fitinhas cassetes nos seus shows (quando isso era uma necessidade e não um objeto cult) e que participavam dos festivais independentes.

A leitura é rápida, matei o livro em 2 horas. A razão disso é que foi escolhida uma narrativa não muito usual nesse tipo de projeto: a linguagem em quadrinhos. Exatamente, o que temos aqui não é um texto recheado de depoimentos de músicos e jornalistas. É a linguagem de gibi.  As ilustrações, por sinal, são muito bacanas, muito bem feitas.

Quem narra a história é Gabriel Thomaz, que nessa época pertencia ao Little Quail And The Mad Birds. Gabriel vai narrando a sua história artística e vai misturando com a da cena da época. Da galera que foi conhecendo no caminho, das amizades que foram sendo construídas, dos festivais que participavam, de fazer rock em Brasília...

Os músicos dessa geração trocavam fitas demos entre eles. Faziam shows juntos, montavam bandas paralelas com músicos de outras bandas. Um tipo de brothagem que faz toda a diferença no fortalecimento da cena e que hoje em dia, infelizmente, é cada vez mais raro.

Alguns desses grupos se tornaram grandes nomes do rock brasileiro. Alguns exemplos? Raimundos, Planet Hemp, Mundo Livre, Pato fu, Los Hermanos... Não falta por aqui comentário das criações dos selos que foram responsáveis por lançar essas bandas como o Rock It!, o Banguela e o Super Demo. Nem as bandas que bombaram na cena underground, mas nunca tiveram o merecido reconhecimento como Graforreia Xilarmonica, Acabou La Tequila, Filhos de Mengele e Pin Ups.

Gabriel Thomaz e Daniel Juca lançam livro sobre cena independente dos anos 90

Para quem acha que rock n roll é luxo e que as bandas acontecem do nada, esse livro demonstra uma boa dose de realidade. Retrata o esforço para fabricar, divulgar e distribuir as fitas demos. Da dificuldade de conseguir shows, dos perrengues que passam pela estrada, etc etc etc. Glamour é só depois que você se torna um verdadeiro astro do rock. Até lá, é porrada atrás de porrada.

O texto conta com um tom bem descontraído, como se fosse um bate-papo, a linguagem é bem simples e é repleto de histórias curiosas. Existem várias histórias sobre presepadas dos músicos envolvidos que rendem altas gargalhadas.

Magnéticos 90 foi um trabalho de muito suor, onde o músico demorou quase 10 anos para conseguir finaliza-lo. Reeditou cada uma das fitas demos que tinha (segundo ele, mais de 400), sempre que possível fazia um breve comentário sobre como era o som daquela banda, qual música mais agitava, os refrãos que a galera cantava nos shows. O livro apresenta um bom panorama do que foi a cena independente da época.

Como sou colecionador de discos, alguns desses nomes eu já conhecia como Pravda, Killing Chainsaw, Ultramen, Tequila Baby, Virna Lisi... Mas outros, confesso que nunca tinha ouvido falar. Para aqueles que tiverem a curiosidade de conferir um pouco da sonoridade desses grupos, a equipe do livro criou um blog, onde disponibilizam várias das fitinhas demos que eles citam na historinha. O endereço do blog é www.magneticos90.com.br. Projeto divertido e bacana que deveria ser conferido por qualquer pessoa que tenha um mínimo de interesse pelo rock fabricado no Brasil.