domingo, 10 de maio de 2015

Kurt Cobain: Montage of Heck (2015)

Por Rafael Menegueti

Kurt Cobain: Montage of Heck
Foi exibido no ultimo dia 04 de maio na TV norte-americana o aguardado documentário “Kurt Cobain: Montage of Heck”, do diretor Brett Morgen, que conta a historia do músico mais importante dos anos 90. O filme de pouco mais de 2 horas contou com a produção-executiva de Frances Bean, filha do cantor, e traça um retrato da vida de Kurt de uma maneira única e extremamente íntima.

São inúmeras as obras que já buscaram mostrar e contar a historia de Kurt. A filmografia e bibliografia, tanto de obras autorizadas quanto não, é imensa de material que possui diferentes ângulos e objetivos ao tratar da vida e obra do músico de Aberdeen. No entanto, nenhum desses trabalhos até hoje foi tão fundo na busca de mostrar detalhes antes nunca vistos a respeito do músico. Mas creio que o mais importante a ressaltar seja o fato de o filme não ser exatamente uma biografia, mas um perfil detalhado de sua vida, e que parece tentar retratar com riqueza de detalhes sua cabeça e alma.

Filme possui imagens inéditas de Kurt em diversas fases de sua vida
Através de entrevistas com algumas das pessoas mais próximas na vida do cantor (seus pais Wendy e Don, sua irmã Kim, o amigo e baixista do Nirvana Krist Novoselic, sua primeira namorada Tracy Marander e, principalmente, Courtney Love), trechos de suas músicas, vídeos caseiros, desenhos e rascunhos feitos pelo cantor, arquivos de áudio e animações criadas especialmente para o documentário, o filme cria uma colagem que mergulha no universo de Kurt, de modo a nos mostrar muito de sua intimidade em diversos momentos de sua vida.

Uma das coisas que torna esse filme único é o fato de ele não buscar reafirmar aquilo que todos nós já sabemos sobre Kurt, e que já foi mostrado em tantas outras obras como eu já citei. Ao invés disso ele explora elementos nunca antes vistos e os relaciona aos fatos e acontecimentos que rodearam a vida do cantor. Esqueça todo o dramalhão que poderia ser explorado com a relação conturbada de Kurt com os pais, a trajetória do Nirvana, os constantes dilemas com a fama, drogas etc. Embora tudo isso seja abordado, a proposta não é discutir e reafirmar fatos já conhecidos por todos, mas sim mostrar como eles afetavam a mente do músico.

O universo pessoal e artístico de Kurt são mostrados através de sua intimidade
O filme busca mostrar todos esses pontos cruciais que definiram e fizeram parte da vida de Kurt como da perspectiva do músico. Um exemplo: uma das questões mais importantes da formação desse perfil cinematográfico se passa no momento em que Kurt forma sua família, com Courtney e Francis. O filme mostra como, em meio às constantes acusações de uso de drogas durante a gravides de Courtney (nunca provadas e sempre negadas por eles), Kurt buscou tirar dessa situação inspiração para seguir com seu trabalho, expondo seus sentimentos através de letras de música, ilustrações e ideias. Talvez até pelo motivo de querer mostrar mais o íntimo de sua vida e personalidade ao invés de enumerar fatos e acontecimentos em si, o filme tenha deixado de fora os meses finais de sua vida e sua morte, se limitando a retratá-lo até o incidente de Roma, quando Kurt quase morreu de overdose, em março de 1994.

Mas provavelmente o principal atrativo de toda essa produção seja a imensidão de imagens e objetos inéditos, conseguidos graças à colaboração de todas essas pessoas próximas do músico. É como se um baú repleto dessas singularidades particulares tivesse sido desenterrado e seu interior mostrado pela primeira vez. O que por si só já torna esse filme obrigatório para qualquer um que admire Kurt, por qualquer motivo. “Montage of Heck” é uma obra que tem mais o objetivo de impressionar do que debater e pontuar. É como uma pintura em exposição, para quem quiser ver e por a sua própria interpretação nela, mas de uma maneira inteligente e que, sem sombra de dúvidas, traça um retrato digno da mente de um músico que influenciou e mexeu com toda uma geração.