sábado, 24 de maio de 2014

Deep Purple: Perfect Strangers Live (2013)




Por Davi Pascale


Um dos momentos mais difíceis de um artista é quando ele retoma sua carreira depois de uma longa pausa. Vários questionamentos começam a rondar sua cabeça. “Será que ainda há interesse no que fazemos?”, “Será que conseguiremos causar o mesmo impacto?”, “Será que a nova geração irá se ligar no nosso trabalho?”, “Será que conseguiremos nos reinventar?”. Essas são as perguntas mais frequentes, ainda mais quando você teve um passado glorioso. Em 1984, o Deep Purple soltava nas lojas o LP Perfect Stangers. A prova viva de que é possível sim, olhar para frente e conquistar um novo público, mesmo depois de uma férias de 9 anos, e entregar um grande álbum. No final do ano passado, o grupo britânico soltou pela primeira vez o show desta turnê nos formatos LP, CD e DVD

Nove anos, aliás, levando em conta o registro que até então era o único sem o guitarrista Ritchie Blackmore: Come Taste The Band, gravado com Tommy Bolin. Perfect Strangers marcava não apenas a volta da banda, quanto o retorno da famosa MK II. Se formos contar o último registro com essa formação havia uma diferença de 11 anos entre um trabalho e outro. Hoje, Gillan e Blackmore são inimigos mortais, mas nessa época os dois se davam bem. Ian Gillan solta vários sorrisos para o guitarrista no palco e chega até a brincar com o musico em determinados momentos.

Interessante notar a diferença de mentalidade daquele tempo para os dias atuais. O DVD além de trazer a apresentação na íntegra, traz um curto documentário com imagens de entrevistas da época. Em um determinado momento, a repórter dispara: “Desculpe-me fazer essa pergunta. Sei que pode soar ofensiva. Vocês não acham que estão velhos para isso?”. As imagens focavam os anos de 84 e 85 (ou seja, o período do lançamento do disco). Nessa época, os músicos estavam próximos dos 40 anos de idade. Alguns um pouco mais, outros um pouco menos. Hoje, um musico nesse faixa de idade é considerado jovem ainda.

Registro marca a volta da lendária Mark 2 aos palcos
Outro depoimento interessante é o momento onde os músicos comentam a diferença da geração dos anos 70 para a dos anos 80. Diziam que não se identificavam com o heavy metal que estava sendo feito naquela época e que não entendiam essa mentalidade do cara que ouve heavy metal não poder frequentar shows de outros estilos, que 10 anos antes isso não existia. Sempre com aquela mentalidade da década passada como sendo algo distante. Parece aquele conversa de avós. “No nosso tempo...”. De todo modo, concordo com a critica dos músicos em relação ao publico.  Já em relação ao estilo, não concordo muito, não...

O registro serve para demonstrar também o quão incômodo continuavam sendo. Há imagens de pessoas de igreja dizendo que a música que eles faziam era diabólica e logo em seguida Gillan pedindo, no meio de uma apresentação, para que os policiais fossem embora porque eles estavam criando tumulto onde não havia. No decorrer dos anos, infelizmente, veríamos essa perseguição com mais alguns artistas. Não foram os primeiros, nem os últimos.

É impressionante o poder de fogo que tinham nessa época. Energia realmente incrível. Muitos gostam de dizer que Steve Morse é melhor do que Blackmore, como se musica fosse competição e como se técnica fosse tudo. Mas já que o assunto é inevitável, prefiro 1.000 vezes Ritchie ao exímio músico do Dixie Dregs. Steve pode ser mais técnico, mas considero Blackmore muito mais criativo (que digam os memoráveis e inúmeros riffs criados pelo rapaz durante sua trajetória com o grupo) e me passava mais emoção nas interpretações. Sua performance aqui é espetacular. Pode ser maluco, egocêntrico, o que for, mas fazia a diferença.

Músicos estavam em ótima fase


Ian Gillan também estava em uma fase brilhante. Com a voz em plena forma, o rapaz canta com confiança, solta vários agudos, estava com a voz extremamente forte. Atualmente, tenho lido nos fóruns e grupos de Facebook da vida, garotos dizendo que Gillan não é um bom cantor. Muito provavelmente essas pessoas não ouviram os registros que ele fez nessa época e na década de 70. Sério. O que ele canta naquele vídeo Machine Head Live In Japan não é brincadeira. Quem conhece sua performance apenas na fase Steve Morse, por favor, corra atrás. Voces ainda não ouviram Ian Gillan. Sério mesmo!

Gravado em Melbourne, o set misturava canções do seu até então mais recente álbum com canções clássicas. Todas as marcas registradas estão aqui. A bateria de Ian Paice tocada com alma, o baixo pulsante de Roger Glover, os teclados únicos de Jon Lord, os números solos, os improvisos. Tudo aquilo que o fã espera em uma apresentação do grupo. Os grandes destaques ficam por conta de “Highway Star”, “Perfect Strangers”, “Knocking At Your Back Door”, “Child In Time”, “Space Truckin´” e “Speed King”. O entrosamento entre os músicos era tanto que nem parecia que estavam sem tocar juntos há mais de uma década. 2 horas que passam voando...


Nota: 10/10
Status: Essencial


Faixas:

      01)   Highway Star
      02)   Nobody´s Home
      03)   Strange Kind of Woman
      04)   A Gypsy´s Kiss
      05)   Perfect Strangers
      06)   Under The Gun
      07)   Knocking At Your Back Door
      08)   Lazy
      09)   Child In Time
      10)   Difficult to Cure
      11)   Jon Lord Solo
      12)   Space Truckin´
      13)   Black Night
      14)   Speed King
      15)   Smoke On The Water