Por Davi Pascale
Como os leitores do blog já devem ter percebido, gosto bastante de rock
brasileiro, em especial o dos anos 80, o famoso BRock. Movimento amados por
milhares, odiado por milhares. Há extremos dos dois lados. Quem não gosta,
acusa os grupos de serem fracos. O que não é verdade! O que acontece é que a
cena anterior tinha lançado ótimos músicos, como Sergio Hinds (O Terço) e Luiz
Carlini (Tutti-Frutti), por exemplo, e tinham como base, na maior parte das
vezes, a complexidade do rock do Deep Purple, do Genesis e do Yes. Há algumas
exceções como Novos Baianos ou Secos & Molhados que sempre tiveram uma
sonoridade mais brasileira, mas na maior parte dos grupos era bem isso. E a
cena dos anos 80, não era focada em virtuosismo e trazia uma maior influência, na maioria das vezes, da new wave e do pós-punk. Era focada mais em melodias
e passar uma mensagem nas letras. A galera que ama os anos 80 tende a se
referir à ela como o início do rock no Brasil, o que também não é verdade. Já
se tocava rock no Brasil desde os anos 50. De todo modo, o movimento gerou
grandes nomes com estilos únicos e dois deles estão reunidos nesse especial que
foi transformado em DVD e colocado no mercado em 2009.
Exibido originalmente pela Rede Globo em 1988, o especial foi ao ar
somente uma vez e tornou-se um ítem disputado a tapas entre colecionadores.
Esse DVD foi um grande acerto. No mercado internacional é bem comum, os artistas
ou as emissoras, disponibilizarem shows de arquivo. No Brasil, dentro da cena
rock, é algo que anda a passo de tartaruga manca. Rede Bandeirantes, Rede
Globo, a extinta Rede Manchete, MTV Brasil e até mesmo TV Cultura possuem
registros simplesmente históricos da cena brasileira. E isso, não apenas do movimento BRock. Não entendo porque
não disponibilizam.
Dois ícones da cena BRock juntos no especial da Rede Globo |
Durante 50 minutos, são intercalados músicas da Legião Urbana, músicas
do Paralamas do Sucesso, músicas com os dois grupos juntos e depoimentos dos músicos
e de atores/atrizes da Rede Globo. Ambos os grupos, foram ícones da sua
geração. Renato Russo era considerado um dos melhores letristas da época, ao
lado de nomes como Arnaldo Antunes, Lobão, Cazuza e Humberto Gessinger. Esse último,
era questionado pelos críticos, mas abraçado pelo povo. Herbert Vianna e Lulu
Santos eram os grandes hitmakers da época. As bandas estavam no auge. Legião
lançando o LP Que País É Esse e os
Paralamas lançando o cultuado Bora Bora.
Embora, os conjuntos tivessem uma sonoridade bastante distinta um do outro,
havia uma semelhança nos temas de suas canções que oras falavam de amor, oras
faziam críticas de cunho político-social.
Renato Russo ainda não havia descoberto que era HIV positivo (fator que
se concretizaria dois anos depois) e seu grupo ainda era um quarteto com a
presença do baixista Renato Rocha. Os músicos ainda eram jovens, Renato estava
com sua voz mais forte do que nunca (provavelmente no seu auge). Com suas
danças desengonçadas e afinação praticamente impecável, o cantor roubava a
cena. O grupo esbanjava energia em faixas que hoje são consideradas clássicos
do rock nacional como “Será”, “Tempo Perdido” e “Tédio (Com Um T Bem Grande Pra
Você)”.
Renato Russo dá nova cara à hit de Paula Toller |
Herbert Vianna fazia de tudo para conquistar o público. Com sua mistura
de pop, rock, ska e música caribenha, os Paralamas fazem a plateia, literalmente,
dançar nessa apresentação gravada no Teatro Fenix, Rio de Janeiro. Era nesse
teatro que era gravado programas como Cassino do Chacrinha, Domingão do
Faustão e Os Trapalhões. João Barone já chamava a atenção com sua técnica.
Vale reparar que, embora não seja anunciado nos microfones, o músico George
Israel (Kid Abelha) se junta aos músicos de apoio para reforçar a parte dos
metais na jam de “Ainda É Cedo”. Para quem não sabe, o músico do Kid era bem próximo
da banda e já havia participado da faixa “Ska” no show de Montreux que rendeu o
Lp D.
Essas jam sessions, inclusive, são muito legais de assistir. A mais
bacana, contudo, foi a balada “Nada Por Mim”, composição de Herbert Vianna e
Paula Toller que havia feito enorme sucesso nas versões do Kid Abelha e da
cantora Marina Lima (naquela época, apenas Marina). Sem se incomodar com o
recente término do seu casamento com a Paula, o músico Herbert Vianna puxa a música
ao lado de Renato Russo. Exatamente isso. Apenas, voz e guitarra. Ao contrário das garotas que cantavam de maneira
suave, o líder da Legião rasgava a voz com vontade, mudando a cara do megahit. Como se não bastasse, há ainda apresentações dos dois grupos no extinto
programa Globo de Ouro (esse que vem sendo reprisado pelo Canal Viva). Belo
presente aos fãs! Continuo na torcida para que lancem o especial Barão Vermelho
& Titãs Juntos. Outro programa memorável!!!
Nota: 10/10
Status: Histórico
Faixas:
01)
Abertura
02)
Será
03)
Meu Erro
04)
Tédio (Com
Um T Bem Grande Pra Você)
05)
Depois Que
O Ilê Passar
06)
Tempo
Perdido
07)
Alagados
08)
O Beco
09)
Que País É
Este
10)
Nada Por
Mim
11)
Dois
Elefantes
12)
Eu Sei
13)
Ainda É
Cedo
Extras:
01)
Melô do
Marinheiro (Globo de Ouro)
02)
Tempo
Perdido (Globo de Ouro)
03)
Alagados
(Globo de Ouro)
04)
Soldados
(Globo de Ouro)
05)
Ska (Globo
de Ouro)
06)
Será
(Globo de Ouro)
07)
Óculos
(Globo de Ouro)
08)
Que País É
Esse (Globo de Ouro)