domingo, 29 de dezembro de 2013

Temple Of The Dog: Histórica Homenagem





Por Davi Pascale

No inicio da década de 90, o Grunge invadiu as rádios. Seus maiores expoentes eram o Nirvana, o Pearl Jam, o Soundgarden e o Alice in Chains. Aqui no Brasil, o movimento chegou alguns meses depois. Quando o álbum do Temple of the Dog chegou às lojas por aqui, o Pearl Jam e o Soundgarden já eram grandes expoentes. E como as informações demoravam um pouquinho para chegar, muita gente ficou confusa. O que seria esse Temple of the Dog, afinal? Por que o Eddie Vedder só canta em 2 músicas do disco? Essas eram perguntas que os fãs faziam todo o tempo.


O Temple of The Dog é e sempre foi encarado como um projeto. Nunca existiu a idéia de seguirem enquanto banda. A idéia nasceu da mente do vocalista do Soundgarden, Chris Cornell. Em Março de 1990, o vocalista (e amigo) Andy Wood morreu de overdose de heroína. Aqui no Brasil, poucos conheciam seu trabalho. Em Seattle, por outro lado, o conjunto do rapaz era bem popular. Andy cantava em uma banda chamada Mother Love Bone, de onde saíram o baixista Jeff Ament e o guitarrista Stone Gossard, ambos atualmente no Pearl Jam.


Chris Cornell recebeu a informação da morte do rapaz pelo telefone enquanto fazia uma turnê européia com o Soundgarden. O amigo estava sobrevivendo ligado por aparelhos, mas os médicos decidiram desligar o equipamento porque viram que não havia mais chance de retomar a consciência. Xana, namorada de Andy, pediu para que aguardassem a chegada de Chris para que ele pudesse se despedir do amigo. Imediatamente, o cantor pegou um avião e foi vê-lo. 

O clássico "Hunger Strike" por pouco não ficou de fora.


Cornell teve que retornar à Europa para concluir a tour do Soundgarden. Nesse período, escreveu duas músicas em homenagem à Wood: “Reach Down” e “Say Hello to Heaven”. Para a primeira ele imaginou um dialogo entre ele e o amigo que lhe dizia que tudo estava ok. Fazia citações do maior sonho de Wood que era o de fazer um show nos Estados Unidos para um publico tão grande quanto o do U.S. Festival. Chris gostava das musicas, mas não se imaginava gravando elas com sua banda, achava que não combinava com a proposta do grupo. Resolveu então gravar um single e resolveu mostrá-las à Jeff Ament. Sua idéia inicial era usar o Mother Love Bone nas gravações.

Jeff Ament adorou o material e deu a idéia de gravar um disco todo, concluindo com canções inéditas do líder do Mother Love Bone. Um presente aos fãs. Uma ultima chance de ouvir material inédito do rapaz. E também uma homenagem à Wood, já que daria vida à canções suas obscuras. O cantor do Soundgarden adorou a sugestão, mas Stone Gossard ficou amedrontado. Tinha receio de que as pessoas encarassem tal atitude como um ato comercial e até mesmo que a família do falecido cantor entrasse na justiça contra eles. Por conta disso, resolveram escrever mais musicas e fazer um álbum inteiro em homenagem ao rapaz. Somente com canções inéditas!


Para completar o projeto, vieram o guitarrista Mike McReady (sugestão de Jeff Ament) e Matt Cameron (na época, baterista do Soundgarden). Cornell ficou com receio de gravar com McReady. No inicio, não foi muito com a cara dele. Cameron já era esperado porque havia gravado as primeiras demos do projeto.


Era comum ocorrer jam sessions com músicas do Temple Of The Dog

Enquanto gravavam o álbum, o trio Gossard/McReady/Ament aproveitavam para testar o vocalista da nova banda que estavam criando, o hoje cultuado Pearl Jam. Na noite em que Eddie Vedder voou até Seattle para fazer sua primeira audição com a banda, Cornell marcou um ensaio do Temple of the Dog. Vedder ficou em pé, assistindo. Quando chegou o momento de “Hunger Strike”, Chris Cornell não conseguia achar um jeito que fizesse o refrão soar bacana. Depois de ver o cantor fazer várias tentativas sem sucesso, o garoto Eddie Vedder pegou o microfone e fez uma sugestão. Não apenas Cornell aprovou sua idéia, como achou que sua voz trazia um novo sentimento para a música. Dizia que Vedder havia dado um ar gospel para a faixa. Por conta disso, resolveu convidá-lo para cantar no disco. Para o vocalista do Pearl Jam, esse foi um presente e tanto. Afinal, era sua primeira gravação profissional.


Pela primeira vez, Chris Cornell se sentiu confiante com a faixa. Desde o inicio ele sentia que faltava algo e não estava contente com a canção. Tinha resolvido que ela entraria no disco, somente porque achava que o CD tinha que ter dez canções, ainda que nunca tenha explicado a razão do numero 10. Depois da parceria com Eddie Vedder, passou a considerá-la como um dos pontos altos do trabalho. Por pouco, que a musica mais lembrada deles não fica engavetada. Embora o disco tenho sido realizado sem grandes pretensões, a faixa tornou-se um grande hit, além de ter marcado toda uma geração.


O grupo chegou a fazer uma única apresentação, ocorrida em 13 de Novembro de 1990, em Seattle. Depois de do lançamento do disco, os músicos costumavam fazer jams um no show do outro tocando alguma coisa do Temple of the Dog, mas show que é bom, nunca mais. Quem viu, viu! Chris Cornell já comentou algumas vezes sobre a vontade de fazer uma reunião com o Temple of The Dog, mas até agora somente planos e mais planos. Enquanto isso, os fãs continuam torcendo para que um dia se repita essa histórica homenagem...