sexta-feira, 3 de março de 2017

Lobão – 50 Anos a Mil (2010):


Por Davi Pascale

Em sua autobiografia, musico carioca revela detalhes de sua trajetória. Em uma narrativa rica de informações, cantor comenta sobre sua infância, sua experiência com as drogas e, é claro, sua carreira no rock n´ roll..

Livro extremamente surpreendente. Mesmo! Quando fiquei sabendo que Lobão iria lançar sua autobiografia, fiquei me questionando se a ideia era das melhores. O cara tem história para contar aos montes, mas será que teria coragem de passar a limpo as suas polêmicas? Porque, um artista que nem ele, se lança um livro passando as polemicas por cima, frustra. João Luiz Woerdenbag Filho ficou conhecido por seu talento na música e, principalmente, por não ter papas na língua. Suas entrevistas são como rajadas de metralhadora. Não sabemos em quem vai acertar.  

Está tudo aqui. O casamento com sua prima, sua prisão por porte de drogas, sua fuga para os Estados Unidos, a briga que terminou com o musico quebrando um violão na cabeça de seu pai, os problemas de sua mãe, suas primeiras experiências com a música, seu romance com a mulher de Julio Barroso, a ideia de lançar disco na banca, sua ida para o mercado independente, sua proximidade com Cazuza, os tempos de Vímana, sua saída da Blitz... A primeira parte de sua carreira é extremamente detalhada.

Lobão nos brinda com detalhes sobre a construção de suas músicas, quem gravou o que, quem escreveu o que, o que pretendia com aquele álbum. E soa honesto em suas colocações. O musico afirma que acha estranho o LP Vida Bandida ter vendido apenas 350.000 cópias, com todo o estouro que as faixas estavam tendo nas FM´s, do mesmo jeito que afirma que Cuidado foi um disco precipitado e com uma qualidade abaixo de seus demais trabalhos. Segundo ele, salvam-se umas 3 músicas.


Durante sua narrativa, há histórias curiosas como a vez em que foi expulso de sua própria banda, Os Ronaldos. O musico comenta que foi ao Baixo Leblon para encher a cara quando se deparou com Cazuza, também abalado. E quando comentou o que havia ocorrido, Cazuza havia lhe dito que havia acontecido o mesmo com ele. Ou seja, havia sido expulso do Barão. A história é curiosa porque sempre foi vendida a versão de que o rapaz havia abandonado o grupo por sua própria vontade. Curiosíssimo! Um momento divertidíssimo é quando ele comenta sobre ter destruído uma sala dos estúdios RCA, mas não entrarei em detalhes para não estragar a surpresa.

Essa fase inicial está muito bem detalhada. Não faltam comentários sobre suas aventuras na Gang 90, na banda de Marina Lima, assim como os atritos com Hebert Vianna. Narra aqui como e porque começou a ficar puto com o líder dos Paralamas. A história é interessante. Além disso, arranca gargalhadas quando comenta sobre os shows dos anos 80, especialmente os que subia bêbado no palco. Histórias, no mínimo, surreais.

O único senão, não sei se pelo tamanho do livro (próximo de 600 páginas), é que a segunda etapa de sua carreira é contada de maneira mais corrida. Gostaria de ter lido um pouco mais sobre os álbuns Nostalgia da Modernidade e, especialmente, Noite. Dois bons trabalhos que foram comentados um pouco superficialmente. Em relação ao emblemático A Vida É Doce, contudo, narra em detalhes a busca por gravadora, a ideia de distribuir material nas bancas, a construção das músicas, a briga da numeração de discos e sua tentativa de suicídio.

50 Anos a Mil está muito bem escrito e demonstra que Lobão está de bem com a vida e buscando um caminho, cada vez mais, honesto. O material, certamente, irá divertir seus velhos fãs com histórias de bastidores e resgate de situações que vamos nos esquecendo com o tempo, enquanto ajudará aos novos fãs à entender melhor quem é aquela emblemática e polêmica figura. Vários capítulos, trazem ao final, uma parte chamada Lobão na Mídia, onde resgata trechos de reportagens históricas sobre aquele período. De boa, belíssimo livro. Decadence avec elegance!