Por Davi Pascale
Em sua autobiografia, musico carioca revela detalhes de sua trajetória.
Em uma narrativa rica de informações, cantor comenta sobre sua infância, sua experiência
com as drogas e, é claro, sua carreira no rock n´ roll..
Livro extremamente surpreendente. Mesmo! Quando fiquei sabendo que Lobão
iria lançar sua autobiografia, fiquei me questionando se a ideia era das
melhores. O cara tem história para contar aos montes, mas será que teria
coragem de passar a limpo as suas polêmicas? Porque, um artista que nem ele, se
lança um livro passando as polemicas por cima, frustra. João Luiz Woerdenbag Filho ficou conhecido por seu talento na música e, principalmente, por não ter papas na língua. Suas entrevistas são como rajadas de metralhadora. Não sabemos em quem vai acertar.
Está tudo aqui. O casamento com sua prima, sua prisão por porte de
drogas, sua fuga para os Estados Unidos, a briga que terminou com o musico
quebrando um violão na cabeça de seu pai, os problemas de sua mãe, suas
primeiras experiências com a música, seu romance com a mulher de Julio Barroso,
a ideia de lançar disco na banca, sua ida para o mercado independente, sua
proximidade com Cazuza, os tempos de Vímana, sua saída da Blitz... A primeira
parte de sua carreira é extremamente detalhada.
Lobão nos brinda com detalhes sobre a construção de suas músicas, quem
gravou o que, quem escreveu o que, o que pretendia com aquele álbum. E soa
honesto em suas colocações. O musico afirma que acha estranho o LP Vida Bandida ter vendido apenas 350.000
cópias, com todo o estouro que as faixas estavam tendo nas FM´s, do mesmo jeito
que afirma que Cuidado foi um disco
precipitado e com uma qualidade abaixo de seus demais trabalhos. Segundo ele, salvam-se umas 3 músicas.
Durante sua narrativa, há histórias curiosas como a vez em que foi
expulso de sua própria banda, Os Ronaldos. O musico comenta que foi ao Baixo
Leblon para encher a cara quando se deparou com Cazuza, também abalado. E
quando comentou o que havia ocorrido, Cazuza havia lhe dito que havia
acontecido o mesmo com ele. Ou seja, havia sido expulso do Barão. A história é
curiosa porque sempre foi vendida a versão de que o rapaz havia abandonado o
grupo por sua própria vontade. Curiosíssimo! Um momento divertidíssimo é quando
ele comenta sobre ter destruído uma sala dos estúdios RCA, mas não entrarei em
detalhes para não estragar a surpresa.
Essa fase inicial está muito bem detalhada. Não faltam comentários sobre
suas aventuras na Gang 90, na banda de Marina Lima, assim como os atritos com
Hebert Vianna. Narra aqui como e porque começou a ficar puto com o líder dos
Paralamas. A história é interessante. Além disso, arranca gargalhadas quando comenta sobre os shows dos anos 80, especialmente os que subia bêbado no palco. Histórias, no mínimo, surreais.
O único senão, não sei se pelo tamanho do livro (próximo de 600 páginas),
é que a segunda etapa de sua carreira é contada de maneira mais corrida.
Gostaria de ter lido um pouco mais sobre os álbuns Nostalgia da Modernidade e, especialmente, Noite. Dois bons trabalhos que foram comentados um pouco superficialmente.
Em relação ao emblemático A Vida É Doce,
contudo, narra em detalhes a busca por gravadora, a ideia de distribuir
material nas bancas, a construção das músicas, a briga da numeração de discos e
sua tentativa de suicídio.
50 Anos a Mil está muito bem escrito e demonstra que Lobão está de bem com a vida e buscando um caminho, cada vez mais, honesto. O material, certamente, irá
divertir seus velhos fãs com histórias de bastidores e resgate de situações que
vamos nos esquecendo com o tempo, enquanto ajudará aos novos fãs à entender
melhor quem é aquela emblemática e polêmica figura. Vários capítulos, trazem ao
final, uma parte chamada Lobão na Mídia, onde resgata trechos de reportagens
históricas sobre aquele período. De boa, belíssimo livro. Decadence avec elegance!
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