Por Davi Pascale
Há 25 anos perdíamos um dos
grandes nomes do rock brasileiro. Não apenas um dos grandes, mas um dos maiores
e mais influentes. Assim como acontece com todo grande artista, há a galerinha
do contra que vem com o papo de supervalorizado, que a voz dele não era isso,
que o cara não era aquilo. A verdade é que Raul Seixas ainda é um cara
influente e estava à frente de seu tempo. Goste você ou não.
Não sei como iniciou a
brincadeira do ‘toca Raul’, criada para provocar os grupos. A verdade é que
todo garoto que monta uma banda de rock no Brasil deveria parar para ouvir, ao
menos uma vez na vida, álbuns como Kring-Há,
Bandolo , Novo Aeon, Há 10 Mil Anos, Gita e Abre-te Sésamo.
Muito se fala de álbuns clássicos de rock internacional como Sgt Peppers e Dark Side Of The Moon, que realmente são grandes álbuns e de
aquisição obrigatória, mas em nosso país também temos nossos clássicos e não
devem ser menosprezados.
Raul gostava de dizer que o que
ele fazia não era rock, mas isso porque na convicção dele o rock n´ roll havia
morrido em 59. Já vi muito adolescente xingando o cantor por conta disso, mas
se pararmos para pensar há uma lógica. O gênero veio se transformando no
decorrer das décadas, acrescentando novas influências e criando novas
sonoridades. Aquele rock básico, por vezes até simplório (ainda que mágico) se
utilizando apenas das referencias iniciais, realmente começa a ser deixado de
lado já nos 60, quando os grupos começam a acelerar o ritmo e, em um segundo
momento, à utilizar distorções e trazer novos temas. Por isso, é tão difícil impor
um limite no rock. Aliás, a única certeza que temos na música, é que para ela não
há limites. Do mesmo jeito que o rock n roll foi se modificando trazendo
influencias de outros gêneros, os demais estilos fizeram o mesmo. Você também
encontra canções de rap, reggae, pop (entre outros) influenciados pelo rock.
Tem artista que até hoje tem neguinho discutindo se o que faz é ou não é rock. Como
se a discussão realmente fosse necessária...
Em apresentação em Caieiras, Raul foi confundido com um impostor |
Raul Seixas também tinha seus
ídolos. O maior deles era Elvis Presley. Foi daí que veio aquela performance
mais gingada que tinha nos primeiros anos. Antes de cantar em cassinos, o rei
do rock cantava se requebrando, se ajoelhando no chão... Outro de seus grandes ídolos
era Luiz Gonzaga, o rei do baião. Ainda acha estranha e forçada a mistura que
fazia entre os dois gêneros? Raulzito
era fiel à seus amigos. O cantor Jerry Adriani foi um dos grandes
incentivadores de sua carreira. A amizade durou até o fim de sua vida. Os dois se conheciam desde os tempos da Jovem Guarda. Inclusive, para quem não sabe,
alguns sucessos daquele período como “Doce, Doce Amor” e “Ainda Queima a
Esperança” eram do maluco beleza.
Muito antes de Ozzy escrever “Mr
Crowley”, o artista baiano já havia criado uma musica inspirado no místico
Aleister Crowler. A faixa em questão, “Sociedade Alternativa”, composta em
parceria com o escritor Paulo Coelho, trouxe um momento delicado ao musico
baiano. O Brasil vivia um período de ditadura militar e os oficias
encasquetaram que a canção era uma espécie de movimento contra o governo. Resultado
da história? O cantor foi preso, torturado e expulso do país em 74. Triste
imaginar que exista quem defenda a volta da ditadura em nosso país...
Raul gostava de beber. E muito! Por
vezes, seu vicio deixava ele em situações cômicas como quando ele foi preso por
ter subido bêbado ao palco em Caieiras. Estava tão louco que o publico não
acreditava que era ele, achavam que era um impostor. Os policiais resolveram
checar e pediram para que apresentasse seus documentos. Como não tinha, foi em
cana. Infelizmente, também teve o lado ruim. Depois de ter sido internado
diversas vezes para tratar de seu problema (nunca vencido) com o alcoolismo,
sofreu uma pancreatite aguda fulminante. Diabetico, não havia tomado insulina
na noite anterior, e não conseguia largar o álcool. Em 21 de Agosto de 1989, com
apenas 44 anos, Raul Seixas foi encontrado morto em sua cama por sua empregada.
No dia seguinte, chegava às lojas o LP Panela
do Diabo, que havia gravado junto com Marcelo Nova, um de seus discípulos (e
também amigo). O disco já deixava claro toda a sua fragilidade. Se no inicio de
sua carreira esbanjava energia, aqui soava debilitado, praticamente sem voz. Um
triste fim de um grande artista que ainda tinha muito à dizer.