quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Anjos da Noite: Sonhos Perdidos



Por Davi Pascale

Tendo à frente o cantor Marco Sergio (filho de Sergio Reis), o grupo paulista Anjos da Noite é um dos típicos exemplos daquele conjunto que tinha de tudo para dar certo e acabou não acontecendo. Além de Marco, fazia parte da primeira formação, o guitarrista Edu Ardanuy (atualmente no Dr Sin). Na minha opinião, um dos melhores do país. Completavam o time; o guitarrista Atila Ardanuy, o baixista Paulo Mádio e o baterista Gerson Abbamonte.
Ainda não consigo entender o que aconteceu para esses caras não decolarem. O nível dos músicos era ótimo, Marco é um bom cantor, as composições eram excelentes e a sonoridade estava de acordo com a época. Seu primeiro LP foi lançado em 1989, época em que o hard rock de grupos como Europe e Bon Jovi estava em alta. E a sonoridade deles ia exatamente por esse caminho. Com refrões marcantes, as letras todas em português e arranjos marcados por excelentes riffs de guitarra, tinha de tudo para agradar os amantes do gênero. Faixas como "Eu Quero É Mais" e "Anjos da Noite" tinham de tudo para terem se tornado grandes hits. 

Aliás, é curioso pensar que na década de 80, tida como a década do rock brasileiro, não tenha existido nenhum grupo de grande expressão que fosse por esse caminho. Quem mais se aproximou disso foi o Taffo (que além do guitarrista Wander Taffo, tinha em sua formação os irmãos Busic, baterista e baixista do já citado Dr. Sin) com o álbum Rosa Branca, em 1990. O grupo do ex-Radio Taxi conseguiu emplacar "Me Dê Suas Mãos" nas rádios e dois videoclipes nas emissoras: "Olhos de Neon" e a já cita "Me Dê Suas Mãos". Mesmo assim, durou pouco. Teve ainda o Yahoo que usava influencias do hard rock em algumas canções. Chegou até a fazer versões em português para hits de bandas como Def Leppard, Aerosmith e Kiss. Mesmo assim, estavam muito mais para um grupo pop do que para um grupo hard. 
Edu Ardanuy gravou primeiro disco do grupo
A década de 80 foi a época em que o rock brasileiro teve maior expressão na mídia. Desde a explosão da Jovem Guarda que não se via um cenário tão forte, comercialmente falando. Embora seja odiada pelo pessoal mais velho, muita gente de talento surgiu nesse período. Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Lulu Santos, Lobão, Titãs, RPM... Mas como disse, ninguém com essa pegada mais hard anos 80. Curioso...
Sem o apoio da grande mídia, os músicos não conseguiam manter o projeto a todo vapor. O segundo trabalho foi lançado somente em 1997. Muito já tinha acontecido. A cena musical já tinha mudado. O hard rock tinha caído no esquecimento e o pop brasileiro ganhava uma nova linguagem. Mais do que isso, o mercado havia mudado. O vinil não existia mais. O mercado era totalmente dominado pelos CDS. E foi nesse formato que o Anjos da Noite fez seu segundo, e ultimo, álbum.
A mudança de sonoridade foi mínima. Os violões ganharam um pouco mais de destaque, mas a fórmula era praticamente a mesma. Se o debut que foi lançado quando o segmento estava em alta não aconteceu, não precisa ser um grande gênio para saber que o compact disc passou batido. Nesse disco, Edu não estava mais na banda. Da formação original, apenas Marco Sergio e Atila Ardanuy continuavam firme e forte. Eu, particularmente, acho o LP muito mais inspirado, mas não dá para dizer que o álbum seja ruim. Há ótimas faixas ali. Cada vez que escuto coisas como Luan Santana e Lepo Lepo, me lembro desses talentos perdidos por aí e fico deprimido. Acorda, Brasil!