Por Davi Pascale
Cantor e compositor Lobão chega
ao seu terceiro livro. Em Busca do Rigor
e da Misericordia traz o musico comentando sobre o processo de seu novo
álbum e tudo que aconteceu com ele nesse período. Muito bem escrito, material
se torna leitura necessária entre seus admiradores.
Desde que sua auto-biografia 50 Anos
a Mil se tornou um best seller, Lobão pegou gosto por escrever além de
letras de canções. Tornou-se colunista da Veja,
lançou O Manifesto do Nada Na Terra do
Nunca. Livro que foi repleto de ataques e mal entendidos. Isso não fez com
que o artista abaixasse a cabeça, contudo. Além de seu método de composição e
temática das letras, musico volta a se posicionar sobre os ataques sofridos
durante esse período.
Está tudo registrado aqui. Sua
participação nas passeatas, sua aproximação com Olavo de Carvalho, sua suposta
mudança à Mimai, sua visita à Brasília. Comenta das dificuldades enfrentadas em
seu âmbito familiar e no impacto que todos esses fatores tiveram em sua
carreira recentemente.
Para quem é músico ou compositor,
o livro é um prato cheio. O músico comenta dos instrumentos que utilizou em
cada faixa, das afinações, das inspirações. Nas ideias para mudanças de
andamento. O que sentia, o que tentou transmitir. Tanto nos arranjos, quanto
nas letras. Ao final de cada explicação, vem a letra na integra. Claro, somente
das canções de seu novo álbum. A ideia é refletir o hoje, o período atual. O
passado já está retratado em seu primeiro livro.
Autógrafo do Lobão na minha cópia de Em Busca do Rigor e da Misericórdia. Valeu Lobão! |
Todas as situações políticas ou
familiares são contadas no inicio de cada capítulo, com a ideia de fazer o
leitor compreender, o que o levou a retratar aquele tema daquela forma em que
aparece no disco. Compreender o que acontecia em seu mundo. Suas vivencias
interferem diretamente no seu processo de composição. Ao menos, neste álbum.
Lobão fez em O Rigor e a Misericórdia tudo aquilo que esperamos de um artista
sério. Uma obra honesta, sem preocupação inicial com viés comercial. Musicas
que reflitam seu estado de alma. Total entrega na concepção e produção do
disco. Enquanto muitos gastam fortunas com produtores renomados e estúdio de
ponta, o musico fez diferente. Montou um estúdio no quintal de sua casa,
aprendeu a manusear os equipamentos e foi em busca daquilo que considerava a
sonoridade perfeita.
A ideia de solidão se estendeu à
criação do álbum. Lobão não gravou apenas os instrumentos esperados por ele
(guitarra, voz e bateria), gravou absolutamente tudo. Baixo, teclado, backing,
tudo. Tarefa corajosa e ingrata.
A leitura é intrigante. Escrita
em primeira pessoa, o musico relata passo-a-passo todo o processo, todos os
ataques reais e cibernéticos mantendo seu estilo de fala. Ou seja, debochado,
irônico, irreverente, reflexivo, provocativo e, acima de tudo, com enorme inteligência.
Essencial entre os admiradores do velho lobo.