terça-feira, 22 de setembro de 2015

Rock In Rio: 19/09/2015





Por Davi Pascale
Imagens: Christopher Polk (Getty Images), Marcon Antonio Teixeira (Uol) e Diorio (Agencia Estado)

Sim, fui até o Rock In Rio! Muitos fãs de heavy metal gostam de tirar sarro do evento e fazer as mesmas acusações de sempre. Gostem ou não da idéia, o evento é um marco em nosso país, um marco para diversos artistas que participaram e um marco para quem acompanhou de perto as edições com algo mais do que rebeldia barata.

Minhas primeiras memórias do Rock In Rio, remetem à edição de 1991. Quando rolou a histórica edição de 85 era muito criança. Claro que como fã de música, acabei correndo atrás dos vídeos daquela época e busquei informações sobre. Mas o primeiro que acompanhei de perto foi o de 91 mesmo. Ficava com a fita dentro do equipamento de VHS, controle remoto na mão gravando as apresentações de meus artistas preferidos, imaginando se um dia conseguiria ver aquilo de perto. Demorou 24 anos, mas consegui. Na última sexta-feira, embarquei para o Rio de Janeiro para finalmente ver essa festa com meus próprios olhos.

Com certeza, uma festa com uma estrutura mais legal do que a de 1991. Afinal, naquela segunda edição não tivemos a tão famosa Cidade do Rock. Os shows eram realizados no Estádio do Maracanã. Ok, local emblemático, mas agora que vi de perto, entendi quando diziam que o impacto não era o mesmo. Claro que a cena musical que rolava na época das duas primeiras edições eram muito mais fortes, mas vários shows que assisti no último sábado ficarão na memória.

Embarquei para o Rio de Janeiro um dia antes. Já sabia que o evento seria cansativo e queria estar inteiro para curtir o máximo possível do festival. Já havia participado de alguns festivais que rolavam shows desde cedo. Alguns que começavam até mais cedo, para dizer a verdade. Participei de Monsters of Rock, Hollywood Rock, Lollapalooza, Live n´ Louder... Tinha noção do que estava por vir. Já sabia que o evento era disputado, portanto, fiz minhas reservas de hotel e vôo na mesma semana que comprei meu ingresso. Já estava com tudo garantido. Sexta-feira não inventei moda. Fiquei no quarto do hotel assistindo aos shows pelo televisor. Só saí do quarto para jantar e nada mais.

Minhas recordações

No dia seguinte, vesti minha roupa, almocei e fui para o festival. Para chegar lá, peguei um ônibus que a prefeitura fornecia para levar as pessoas até o evento. O transporte era gratuito, saía de hora em hora e um dos pontos era de frente para o hotel onde estava hospedado. Cheguei lá, fiquei debaixo de um sol de lascar esperando os portões abrir. As atrações já começavam na fila. Do lado de fora do evento, havia dois músicos se apresentando. Um saxofonista e um baterista interpretavam hits para animar os presentes. Os caras tocavam bem até, mas confesso que presenciar o duo interpretando “Final Countdown” (Europe) naqueles trajes, um com uma cabeça de cavalo e outro com uma cabeça de urso, me rendeu altas risadas.

Meu plano inicial era chegar mais cedo, conhecer o local e me preparar para a maratona de shows. Infelizmente, os caras abriram o portão perto do início do show. Só tive tempo de ir na lojinha oficial e correr para o palco Sunset. Assim que pisei na frente do palco, a galera do Noturnall surgiu em cena. Ainda não estava abarrotado de gente, então consegui ver bem de perto. Embora os músicos sejam experientes, a banda ainda é nova. Possuem apenas dois Cds, nenhum hit, nenhum clássico. Mesmo assim, a galera respondeu bem. Os músicos demonstraram empolgação na performance e tiveram a preocupação de criar alguns números visuais. Nada que não tenha visto antes, mas funcionou legal. Deu um ar de diversão. Entretanto, a galera só animou de verdade quando o Michael Kiske (Helloween) se juntou aos músicos para uma jam, especialmente no clássico “I Want Out”. O ponto baixo ficou por conta de “Woman In Chains” (Tears For Fears). Gosto da música, mas não gostei da interpretação vocal. Nem do Thiago Bianchi, nem da Maria Odette.

Não demorou muito e surgiu o Angra no palco. Fiquei por lá para conferir os rapazes. Cheguei a assistir os músicos com o Andre Matos, com o Edu Falaschi, mas ainda não havia assistido com o Fabio Lione. Certamente, é o melhor cantor que o Angra já teve. Além de possuir uma ótima presença de palco, possui uma boa técnica vocal, é bem seguro. A banda estava bem entrosada. Fizeram um setlist bem dosado. Assim como o Noturnall, trouxeram dois convidados especiais: a cantora alemã Doro Pesch e o vocal do Twisted Sister, Dee Snider. Achei que a Doro foi mal explorada. Poderiam ter feito mais uma música com ela. Vários fãs de metal conhecem bem o trabalho dela com o Warlock. Se fizessem alguma música do grupo, levantariam os presentes. Dee Snider, por outro lado, levantou o público geral ao interpretar seus dois grandes hits: “I Wanna Rock” e “We´re Not Gonna Take It”. Ao contrário da edição de 2011, os músicos fizeram um bom show e acabaram com os boatos de vez. O novo guitarrista do Angra não é o Edu Ardanuy (Dr. Sin) e sim, o Marcelo Barbosa (Almah). Gosto do rapaz, mas não fiquei muito confiante com sua participação. Tenho meus pezinhos atrás.

Korn: primeiro grande show da noite

Ao final do show, cheguei à conclusão que não poderia ir até o Rock In Rio e não conhecer a Cidade do Rock. Assim que os músicos encerraram a apresentação fui dar uma volta no local. Simplesmente genial! Não parecia que estávamos em um festival de música. Palcos e mais palcos. Lojas e mais lojas. Montanha russa. Roda gigante. Diversas lanchonetes, mas tudo com um ar meio de rua. Parecia um parque. Tinha de tudo que você pode imaginar. E tudo extremamente bem organizado. No caminho de volta, comprei uma mini pizza Domino´s, já que não planejava sair da área de shows novamente. Minha caminhada fez com que eu perdesse metade da apresentação do Ministry. Sim, o local é grande assim. O pouco que vi, gostei. Músicos competentes, preocupação visual. Não foi algo que me fizesse arrepender ter saído dali, mas sem duvidas, são bem profissionais.

Eis que chega o momento de correr até o Palco Mundo. Primeira atração era o Gojira. De boa, puta banda chata! Assisti 4 músicas dos caras e voltei para o Sunset para esperar o show do Korn. Melhor coisa que fiz. O grupo de Jonathan Davies fez, conforme esperado, uma apresentação super competente, super profissional, recheada de clássicos do conjunto. Canções como “Blind”, “Got The Life”, “Somebody Someone” e “Freak On a Leash” levaram o público ao delírio. Primeiro grande show da noite. E, a partir daí, seria só alegrias. Corri de volta ao Palco Mundo para assistir o Royal Blood. Os caras possuem apenas um álbum, mas que showzaço! Por ser uma banda ainda não muito conhecida, a platéia estava meio apática. Os músicos, contudo, são muito bons. E as músicas também! É impressionante o som que conseguem tirar tendo apenas duas pessoas no palco. Momentos de destaque: “Come On Over”, “Cruel”, “Little Monster” e “Out of The Black”. Conseguiram a difícil tarefa de ganhar o respeito do público.

Infelizmente, o público não teve o mesmo respeito com o Motley Crue. E os caras mereciam! Fizeram um dos melhores shows da noite. Apresentação extremamente rock n roll. Fogos e mais fogos, garotas em trajes sensuais, banda redonda, set list matador. Assim como o Korn, focaram nos clássicos. Desde o início com “Girls, Girls Girls” até o final apoteótico com “Home Sweet Home’, sem se esquecer de sons emblemáticos como “Dr. Feelgood”, “Live Wire”, “Shout At The Devil”, “Looks That Kill” e “Wildside”. A platéia não participava, não cantava as músicas quando Vince Neil estendia os braços e ainda xingavam o cara de velho barrigudo e Joelma (e isso, meus amigos, é uma ofensa forte). De boa, merecem se fuder.

Motley Crue: aula de rock n´ roll

Deus estava olhando e a resposta veio no show da atração principal. E o pior que tive que sofrer junto. Logo eu que me comportei direitinho. Para a raiva eterna dos haters, o grupo de James Hetfield subiu com um som perfeito. A apresentação começou com tudo com “Fuel” e “For Whom The Bell Tolls”. Logo de cara, o cantor avisou: “Iremos tocar músicas de todos os nossos discos, ok?” Tudo ia maravilhosamente bem até que o som começou a pipocar. Justo no classicão “Ride The Lightning”. O som do grupo desapareceu do nada. A bola fora ocorreu, se não me engano, três vezes na mesma musica. Sem maiores explicações, os músicos deixaram o palco por alguns minutos. O publico ficou com o cu na mão. Está vendo? Vai chamar o Vince Neil de Joelma agora...

Pouco tempo depois, o grupo retornou. Não deixaram transparecer raiva, mas certamente mantiveram um ar de preocupação durante o resto da apresentação. De toda forma, o show foi bem legal. O setlist, ao contrário do que andam dizendo, foi muito bom. Clássicos de diferentes períodos foram lembrados como “Battery”, “One”, “King Nothing” e “Wherever I May Roam”. Não adianta vir com desculpa de musica nova, porque quando assisti a banda em 2010, o publico agitou nos clássicos e ficou extremamente apático nas músicas do Death Magnetic, até então recém-lançado. E não adianta vir com papo de lado B porque eu sei que vocês também vão ficar apáticos e sair por aí dizendo que o show foi frio. Aceitem, tocaram o que a galera queria ouvir. E esse é o papel de um grupo sério. Ainda mais como atração principal de um festival desse porte.

Como sempre, o grupo esbanjou competência e carisma. A execução das músicas demonstrou que grupos como Gojira, por exemplo, precisam comer muito arroz com feijão para chegar no micróbio da unha do dedão do pé do Metallica. É triste, mas essa galera está à anos-luz de artistas icônicos como Iron Maiden, Metallica, AC/DC e afins. Antes de saírem do palco, os músicos deram um aviso: “Essa foi nossa última apresentação de 2015. Agora nos trancaremos no estúdio para gravarmos nosso próximo álbum”. Só quero ver se quando tocarem as músicas novas se a galera vai agitar mesmo. Lembrem-se, papai do Céu está olhando...

Metallica: mesma com falha de som, grupo rouba cena

Infelizmente, na saída não havia ônibus para levar a galera de volta. A região estava cheio de desvios tanto por conta do festival, quanto por conta de obras. Vários locais não podia transitar e não conheço bem a cidade. Ao questionar um policial sobre um possível trajeto ouvi “amigo, se você andar a pé até lá, sozinho, essa hora da noite e não for assaltado, retorna aqui que te entrego minha farda. Nasceu para ser polícia”. Diante de uma frase tão animadora, resolvi caminhar até um ponto de taxi para que conseguisse retornar ao hotel. E qual não foi minha surpresa quando alguns se recusaram a me levar justamente por conta de um possível transito? Isso que é trabalhador! Dia seguinte, peguei um avião e retornei para casa. Um pouco cansado, é verdade, mas felizão. Passei por ótimos momentos que não esquecerei tão cedo. Valeu o cansaço! Valeu Rock in Rio!