Por Davi Pascale
Imagens: Christopher Polk (Getty Images), Marcon Antonio Teixeira (Uol) e Diorio (Agencia Estado)
Sim, fui até o Rock In Rio! Muitos fãs de heavy metal gostam de tirar sarro do
evento e fazer as mesmas acusações de sempre. Gostem ou não da idéia, o evento
é um marco em nosso país, um marco para diversos artistas que participaram e um
marco para quem acompanhou de perto as edições com algo mais do que rebeldia
barata.
Minhas primeiras memórias do Rock In Rio,
remetem à edição de 1991. Quando rolou a histórica edição de 85 era muito
criança. Claro que como fã de música, acabei correndo atrás dos vídeos daquela
época e busquei informações sobre. Mas o primeiro que acompanhei de perto foi o
de 91 mesmo. Ficava com a fita dentro do equipamento de VHS, controle remoto na
mão gravando as apresentações de meus artistas preferidos, imaginando se um dia
conseguiria ver aquilo de perto. Demorou 24 anos, mas consegui. Na última
sexta-feira, embarquei para o Rio de Janeiro para finalmente ver essa festa com
meus próprios olhos.
Com certeza, uma festa com uma estrutura mais
legal do que a de 1991. Afinal, naquela segunda edição não tivemos a tão famosa
Cidade do Rock. Os shows eram realizados no Estádio do Maracanã.
Ok, local emblemático, mas agora que vi de perto, entendi quando diziam que o
impacto não era o mesmo. Claro que a cena musical que rolava na época das duas
primeiras edições eram muito mais fortes, mas vários shows que assisti no
último sábado ficarão na memória.
Embarquei para o Rio de Janeiro um dia antes. Já
sabia que o evento seria cansativo e queria estar inteiro para curtir o máximo
possível do festival. Já havia participado de alguns festivais que rolavam
shows desde cedo. Alguns que começavam até mais cedo, para dizer a verdade. Participei de Monsters of Rock,
Hollywood Rock, Lollapalooza, Live n´ Louder... Tinha
noção do que estava por vir. Já sabia que o evento era disputado, portanto, fiz
minhas reservas de hotel e vôo na mesma semana que comprei meu ingresso. Já
estava com tudo garantido. Sexta-feira não inventei moda. Fiquei no quarto do
hotel assistindo aos shows pelo televisor. Só saí do quarto para jantar e nada
mais.
Minhas recordações |
No dia seguinte, vesti minha roupa, almocei e fui
para o festival. Para chegar lá, peguei um ônibus que a prefeitura fornecia
para levar as pessoas até o evento. O transporte era gratuito, saía de hora em
hora e um dos pontos era de frente para o hotel onde estava hospedado. Cheguei
lá, fiquei debaixo de um sol de lascar esperando os portões abrir. As atrações
já começavam na fila. Do lado de fora do evento, havia dois músicos se
apresentando. Um saxofonista e um baterista interpretavam hits para animar os
presentes. Os caras tocavam bem até, mas confesso que presenciar o duo
interpretando “Final Countdown” (Europe) naqueles trajes, um com uma cabeça de
cavalo e outro com uma cabeça de urso, me rendeu altas risadas.
Meu plano inicial era chegar mais cedo, conhecer
o local e me preparar para a maratona de shows. Infelizmente, os caras abriram
o portão perto do início do show. Só tive tempo de ir na lojinha oficial e
correr para o palco Sunset. Assim que pisei na frente do palco, a galera do
Noturnall surgiu em cena. Ainda não estava abarrotado de gente, então consegui
ver bem de perto. Embora os músicos sejam experientes, a banda ainda é nova.
Possuem apenas dois Cds, nenhum hit, nenhum clássico. Mesmo assim, a galera
respondeu bem. Os músicos demonstraram empolgação na performance e tiveram a
preocupação de criar alguns números visuais. Nada que não tenha visto antes,
mas funcionou legal. Deu um ar de diversão. Entretanto, a galera só animou de
verdade quando o Michael Kiske (Helloween) se juntou aos músicos para uma jam,
especialmente no clássico “I Want Out”. O ponto baixo ficou por conta de “Woman
In Chains” (Tears For Fears). Gosto da música, mas não gostei da interpretação
vocal. Nem do Thiago Bianchi, nem da Maria Odette.
Não demorou muito e surgiu o Angra no palco.
Fiquei por lá para conferir os rapazes. Cheguei a assistir os músicos com o
Andre Matos, com o Edu Falaschi, mas ainda não havia assistido com o Fabio
Lione. Certamente, é o melhor cantor que o Angra já teve. Além de possuir uma
ótima presença de palco, possui uma boa técnica vocal, é bem seguro. A banda
estava bem entrosada. Fizeram um setlist bem dosado. Assim como o Noturnall,
trouxeram dois convidados especiais: a cantora alemã Doro Pesch e o vocal do
Twisted Sister, Dee Snider. Achei que a Doro foi mal explorada. Poderiam ter
feito mais uma música com ela. Vários fãs de metal conhecem bem o trabalho dela
com o Warlock. Se fizessem alguma música do grupo, levantariam os presentes.
Dee Snider, por outro lado, levantou o público geral ao interpretar seus dois
grandes hits: “I Wanna Rock” e “We´re Not Gonna Take It”. Ao contrário da
edição de 2011, os músicos fizeram um bom show e acabaram com os boatos de vez.
O novo guitarrista do Angra não é o Edu Ardanuy (Dr. Sin) e sim, o Marcelo
Barbosa (Almah). Gosto do rapaz, mas não fiquei muito confiante com sua
participação. Tenho meus pezinhos atrás.
Korn: primeiro grande show da noite |
Ao final do show, cheguei à conclusão que não
poderia ir até o Rock In Rio e não
conhecer a Cidade do Rock. Assim que
os músicos encerraram a apresentação fui dar uma volta no local. Simplesmente
genial! Não parecia que estávamos em um festival de música. Palcos e mais palcos.
Lojas e mais lojas. Montanha russa. Roda gigante. Diversas lanchonetes, mas
tudo com um ar meio de rua. Parecia um parque. Tinha de tudo que você pode
imaginar. E tudo extremamente bem organizado. No caminho de volta, comprei uma
mini pizza Domino´s, já que não
planejava sair da área de shows novamente. Minha caminhada fez com que eu
perdesse metade da apresentação do Ministry. Sim, o local é grande assim. O
pouco que vi, gostei. Músicos competentes, preocupação visual. Não foi algo que
me fizesse arrepender ter saído dali, mas sem duvidas, são bem profissionais.
Eis que chega o momento de correr até o Palco
Mundo. Primeira atração era o Gojira. De boa, puta banda chata! Assisti 4
músicas dos caras e voltei para o Sunset para esperar o show do Korn. Melhor
coisa que fiz. O grupo de Jonathan Davies fez, conforme esperado, uma
apresentação super competente, super profissional, recheada de clássicos do
conjunto. Canções como “Blind”, “Got The Life”, “Somebody Someone” e “Freak On
a Leash” levaram o público ao delírio. Primeiro grande show da noite. E, a
partir daí, seria só alegrias. Corri de volta ao Palco Mundo para assistir o
Royal Blood. Os caras possuem apenas um álbum, mas que showzaço! Por ser uma
banda ainda não muito conhecida, a platéia estava meio apática. Os músicos,
contudo, são muito bons. E as músicas também! É impressionante o som que
conseguem tirar tendo apenas duas pessoas no palco. Momentos de destaque: “Come
On Over”, “Cruel”, “Little Monster” e “Out of The Black”. Conseguiram a difícil
tarefa de ganhar o respeito do público.
Infelizmente, o público não teve o mesmo respeito
com o Motley Crue. E os caras mereciam! Fizeram um dos melhores shows da noite.
Apresentação extremamente rock n roll. Fogos e mais fogos, garotas em trajes
sensuais, banda redonda, set list matador. Assim como o Korn, focaram nos
clássicos. Desde o início com “Girls, Girls Girls” até o final apoteótico com
“Home Sweet Home’, sem se esquecer de sons emblemáticos como “Dr. Feelgood”,
“Live Wire”, “Shout At The Devil”, “Looks That Kill” e “Wildside”. A platéia
não participava, não cantava as músicas quando Vince Neil estendia os braços e
ainda xingavam o cara de velho barrigudo e Joelma (e isso, meus amigos, é uma
ofensa forte). De boa, merecem se fuder.
Motley Crue: aula de rock n´ roll |
Deus estava olhando e a resposta veio no show da
atração principal. E o pior que tive que sofrer junto. Logo eu que me comportei direitinho. Para a raiva eterna dos
haters, o grupo de James Hetfield subiu com um som perfeito. A apresentação
começou com tudo com “Fuel” e “For Whom The Bell Tolls”. Logo de cara, o cantor
avisou: “Iremos tocar músicas de todos os nossos discos, ok?” Tudo ia
maravilhosamente bem até que o som começou a pipocar. Justo no classicão “Ride
The Lightning”. O som do grupo desapareceu do nada. A bola fora ocorreu, se não
me engano, três vezes na mesma musica. Sem maiores explicações, os músicos
deixaram o palco por alguns minutos. O publico ficou com o cu na mão. Está
vendo? Vai chamar o Vince Neil de Joelma agora...
Pouco tempo depois, o grupo retornou. Não
deixaram transparecer raiva, mas certamente mantiveram um ar de preocupação
durante o resto da apresentação. De toda forma, o show foi bem legal. O
setlist, ao contrário do que andam dizendo, foi muito bom. Clássicos de
diferentes períodos foram lembrados como “Battery”, “One”, “King Nothing” e
“Wherever I May Roam”. Não adianta vir com desculpa de musica nova, porque
quando assisti a banda em 2010, o publico agitou nos clássicos e ficou
extremamente apático nas músicas do Death
Magnetic, até então recém-lançado. E não adianta vir com papo de lado B
porque eu sei que vocês também vão ficar apáticos e sair por aí dizendo que o
show foi frio. Aceitem, tocaram o que a galera queria ouvir. E esse é o papel
de um grupo sério. Ainda mais como atração principal de um festival desse
porte.
Como sempre, o grupo esbanjou competência e carisma. A
execução das músicas demonstrou que grupos como Gojira, por exemplo, precisam
comer muito arroz com feijão para chegar no micróbio da unha do dedão do pé do
Metallica. É triste, mas essa galera está
à anos-luz de artistas icônicos como Iron Maiden, Metallica, AC/DC e afins. Antes de saírem do palco, os músicos deram um aviso: “Essa foi nossa última
apresentação de 2015. Agora nos trancaremos no estúdio para gravarmos nosso
próximo álbum”. Só quero ver se quando tocarem as músicas novas se a galera vai
agitar mesmo. Lembrem-se, papai do Céu está olhando...
Metallica: mesma com falha de som, grupo rouba cena |
Infelizmente, na saída não havia ônibus para
levar a galera de volta. A região estava cheio de desvios tanto por conta do festival,
quanto por conta de obras. Vários locais não podia transitar e não conheço bem
a cidade. Ao questionar um policial sobre um possível trajeto ouvi “amigo, se
você andar a pé até lá, sozinho, essa hora da noite e não for assaltado,
retorna aqui que te entrego minha farda. Nasceu para ser polícia”. Diante de
uma frase tão animadora, resolvi caminhar até um ponto de taxi para que
conseguisse retornar ao hotel. E qual não foi minha surpresa quando alguns se
recusaram a me levar justamente por conta de um possível transito? Isso que é
trabalhador! Dia seguinte, peguei um avião e retornei para casa. Um pouco
cansado, é verdade, mas felizão. Passei por ótimos momentos que não esquecerei
tão cedo. Valeu o cansaço! Valeu Rock in
Rio!
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