Por Davi Pascale
Em 1976, o Kiss começava a
crescer. Depois de fracassarem em 3 lançamentos, os álbuns Kiss Alive!, lançado um ano antes, e Destroyer tiveram boa repercussão. Contudo, Gene e Paul não
estavam seguros se queriam passar por tudo aquele pesadelo novamente. O LP
produzido por Bob Ezrin, embora trouxesse seu maior sucesso até então (a balada
Beth), havia sido produzido de maneira desgastante. Os músicos queriam fazer as
coisas de maneira mais simples e, para isso, trouxeram de volta ao estúdio o
antigo parceiro Eddie Kramer.
Destroyer era um álbum quase experimental, contando com
orquestrações, corais e efeitos sonoros entre as músicas. Para o álbum
seguinte, queriam retornar ao básico. A idéia era trazer o som da banda no
palco para o vinil. É por essa razão que o vocalista Paul Stanley diz que
acredita que não atingiram seus objetivos em Rock n Roll Over. O cantor gosta das músicas, mas acha o som limpo
demais. Ele queria o som das guitarras mais pesadas, queria que o disco soasse
mais cru.
Agora não dá para dizer que a
metodologia tenha sido errada. Pelo contrario, na gravação do LP, não
foi utilizado o método de gravar um instrumento por vez. Foi utilizado o método
de se gravar tocando ao vivo. O local escolhido foi o The Star Theater, em Nova
Iorque. Não, você não leu errado. Não foi em um estúdio, foi em uma casa de
shows. Segundo Gene Simmons, o local comportava um publico entre 2.000 e 3.000
pessoas. Para a gravação, eles montaram todo o set no palco, como se fossem
fazer um concerto realmente. A única diferença é que Peter Criss não estava nesse
palco. A bateria foi gravada dentro do banheiro da casa (por conta da acústica)
e o músico se comunicava com os demais integrantes através de vídeo.
Não concordo com Stanley.
Gosto muito da sonoridade desse álbum. Talvez o músico acredite que o som tenha
soado magro porque ainda tinha em sua mente a sonoridade das primeiras demos,
gravadas 3 anos antes. Aliás, os músicos sempre a citavam como referencia para
o produtor. Agora... Devemos lembrar que nessa altura do campeonato, os caras
já tinham um pouco mais de experiência, equipamentos melhores... Isso tira um
pouco dessa crueza naturalmente.
Álbum foi gravado em um teatro vazio |
Para compor o disco, foram
utilizadas músicas escritas durante a turnê de Destroyer. Algumas demos de trabalhos anteriores foram reaproveitadas
também. Algumas vezes, duas canções foram juntadas em uma. Caso de “Calling Dr.
Love” que nasceu de uma mistura entre “Bad Bad Lovin´” e “High and Low”. Uma
curiosidade bacana é da faixa ainda inédita “Queen for a Day”. Ainda não
consegui encontrar nenhum bootleg que tenha ela. Essa é a estréia de Ace
Frehley nos vocais. A música acabou não indo para o disco porque o Spaceman não se sentia
confiante para cantar ao vivo. “Hard Luck Woman”, imortalizada na voz de Peter
Criss, foi composta por Stanley. The Starchild a escreveu pensando em entregá-la
para Rod Stewart, mas de ultima hora acabou entregando para o baterista porque
acreditava que ela poderia se tornar a segunda “Beth”.
Para aumentar a curiosidade do
lançamento do novo trabalho do Kiss, o grupo gravou uma participação no
televisivo “Paul Lyndes Halloween Special”. No programa, contudo, não houve
nenhuma prévia do novo LP. O quarteto resolveu atacar 3 musicas do Destroyer: “Beth”,
“Detroit Rock City” e “King Of The Knightime World”. Embora tenha ido ao ar na
noite de Halloween (31 de Outubro), o programa foi gravado dois dias antes. Na
noite da famosa festa, Simmons e Stanley resolveram assistir um show em uma
famosa casa de Los Angeles, o Gazzarries. A atração daquela noite era o The Boyz.
Esse não foi a única vez que The Demon os assistiu. Alguns meses antes, esteve em uma apresentação deles no
Starwood, em Hollywood, quando dividiram o palco com Bebe Buell. Naquela noite,
havia um artista convidado que chamou a atenção de Gene Simmons e o levou a
produzir a primeira demo dos rapazes. O nome dessa atração? Van Halen! Quando o
vocalista dos The Boyz, Michael White, foi contar essa história ele falou de
uma apresentação onde eles estavam dividindo o palco com o Van Halen, mas que a
banda dele havia feito uma má apresentação, enquanto o grupo de David Lee Roth
havia brilhado. Essa, entretanto, não é a versão contada por Gene. E as datas
dadas por White também não batem com a agenda do Van Halen. O grupo tocou com
os The Boyz, mas não no período afirmado pelo musico. O grupo de Michael White
não fez sucesso, mas dois de seus músicos conquistaram fama na década seguinte:
o guitarrista George Lynch e o baterista Mick Brown. Para quem não se lembra,
eles atingiram o sucesso ao lado do Dokken.
Capa da rara edição argentina |
O LP foi bem nas paradas, mas
não repetiu o sucesso do trabalho anterior. Rock n Roll Over atingiu disco de ouro, enquanto Destroyer atingia disco de platina. Esse
trabalho existe com pelo menos 4 capas diferentes. No Mexico existem duas
edições alternativas (Com Todo El Poder De La Musica e 30 Anos de Musica: Rock
Salvat), editadas em 1984, cada uma com uma imagem. Na Argentina, também foi
lançada uma outra capa, mantendo seu título original. Como curiosidade, vale lembrar que foi na turnê desse
álbum que o guitarrista Ace Frehley foi eletrocutado durante uma apresentação
em Georgia, em 24 de Novembro. O guitarrista pisou em um fio não aterrado
enquanto descia as escadas do palco. O show, entretanto, não foi cancelado. A
apresentação foi interrompida até que o músico se recuperasse. Logo depois, os mascarados retornaram ao Lakeland Civic Center para entregar aos seus fervorosos fãs o show mais quente do mundo. Pelo visto, nada, nem ninguém poderia apagar a chama do Kiss.
Faixas:
01) I Want You
02) Take Me
03) Calling Dr. Love
04) Ladies Room
05) Baby Driver
06) Love ´Em Leave ´Em
07) Mr. Speed
08) See You In Your Dreams
09) Hard Luck Woman
10) Makin´ Love