quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Kiss: Por trás de Rock n Roll Over



 

Por Davi Pascale

Em 1976, o Kiss começava a crescer. Depois de fracassarem em 3 lançamentos, os álbuns Kiss Alive!, lançado um ano antes, e Destroyer tiveram boa repercussão. Contudo, Gene e Paul não estavam seguros se queriam passar por tudo aquele pesadelo novamente. O LP produzido por Bob Ezrin, embora trouxesse seu maior sucesso até então (a balada Beth), havia sido produzido de maneira desgastante. Os músicos queriam fazer as coisas de maneira mais simples e, para isso, trouxeram de volta ao estúdio o antigo parceiro Eddie Kramer.

Destroyer era um álbum quase experimental, contando com orquestrações, corais e efeitos sonoros entre as músicas. Para o álbum seguinte, queriam retornar ao básico. A idéia era trazer o som da banda no palco para o vinil. É por essa razão que o vocalista Paul Stanley diz que acredita que não atingiram seus objetivos em Rock n Roll Over. O cantor gosta das músicas, mas acha o som limpo demais. Ele queria o som das guitarras mais pesadas, queria que o disco soasse mais cru.

Agora não dá para dizer que a metodologia tenha sido errada. Pelo contrario, na gravação do LP, não foi utilizado o método de gravar um instrumento por vez. Foi utilizado o método de se gravar tocando ao vivo. O local escolhido foi o The Star Theater, em Nova Iorque. Não, você não leu errado. Não foi em um estúdio, foi em uma casa de shows. Segundo Gene Simmons, o local comportava um publico entre 2.000 e 3.000 pessoas. Para a gravação, eles montaram todo o set no palco, como se fossem fazer um concerto realmente. A única diferença é que Peter Criss não estava nesse palco. A bateria foi gravada dentro do banheiro da casa (por conta da acústica) e o músico se comunicava com os demais integrantes através de vídeo.

Não concordo com Stanley. Gosto muito da sonoridade desse álbum. Talvez o músico acredite que o som tenha soado magro porque ainda tinha em sua mente a sonoridade das primeiras demos, gravadas 3 anos antes. Aliás, os músicos sempre a citavam como referencia para o produtor. Agora... Devemos lembrar que nessa altura do campeonato, os caras já tinham um pouco mais de experiência, equipamentos melhores... Isso tira um pouco dessa crueza naturalmente.

Álbum foi gravado em um teatro vazio

Para compor o disco, foram utilizadas músicas escritas durante a turnê de Destroyer. Algumas demos de trabalhos anteriores foram reaproveitadas também. Algumas vezes, duas canções foram juntadas em uma. Caso de “Calling Dr. Love” que nasceu de uma mistura entre “Bad Bad Lovin´” e “High and Low”. Uma curiosidade bacana é da faixa ainda inédita “Queen for a Day”. Ainda não consegui encontrar nenhum bootleg que tenha ela. Essa é a estréia de Ace Frehley nos vocais. A música acabou não indo para o disco porque o Spaceman não se sentia confiante para cantar ao vivo. “Hard Luck Woman”, imortalizada na voz de Peter Criss, foi composta por Stanley. The Starchild a escreveu pensando em entregá-la para Rod Stewart, mas de ultima hora acabou entregando para o baterista porque acreditava que ela poderia se tornar a segunda “Beth”.

Para aumentar a curiosidade do lançamento do novo trabalho do Kiss, o grupo gravou uma participação no televisivo “Paul Lyndes Halloween Special”. No programa, contudo, não houve nenhuma prévia do novo LP. O quarteto resolveu atacar 3 musicas do Destroyer: “Beth”, “Detroit Rock City” e “King Of The Knightime World”. Embora tenha ido ao ar na noite de Halloween (31 de Outubro), o programa foi gravado dois dias antes. Na noite da famosa festa, Simmons e Stanley resolveram assistir um show em uma famosa casa de Los Angeles, o Gazzarries. A atração daquela noite era o The Boyz.

Esse não foi a única vez que The Demon os assistiu. Alguns meses antes, esteve em uma apresentação deles no Starwood, em Hollywood, quando dividiram o palco com Bebe Buell. Naquela noite, havia um artista convidado que chamou a atenção de Gene Simmons e o levou a produzir a primeira demo dos rapazes. O nome dessa atração? Van Halen! Quando o vocalista dos The Boyz, Michael White, foi contar essa história ele falou de uma apresentação onde eles estavam dividindo o palco com o Van Halen, mas que a banda dele havia feito uma má apresentação, enquanto o grupo de David Lee Roth havia brilhado. Essa, entretanto, não é a versão contada por Gene. E as datas dadas por White também não batem com a agenda do Van Halen. O grupo tocou com os The Boyz, mas não no período afirmado pelo musico. O grupo de Michael White não fez sucesso, mas dois de seus músicos conquistaram fama na década seguinte: o guitarrista George Lynch e o baterista Mick Brown. Para quem não se lembra, eles atingiram o sucesso ao lado do Dokken.

 
Capa da rara edição argentina

O LP foi bem nas paradas, mas não repetiu o sucesso do trabalho anterior. Rock n Roll Over atingiu disco de ouro, enquanto Destroyer atingia disco de platina. Esse trabalho existe com pelo menos 4 capas diferentes. No Mexico existem duas edições alternativas (Com Todo El Poder De La Musica e 30 Anos de Musica: Rock Salvat), editadas em 1984, cada uma com uma imagem. Na Argentina, também foi lançada uma outra capa, mantendo seu título original. Como curiosidade, vale lembrar que foi na turnê desse álbum que o guitarrista Ace Frehley foi eletrocutado durante uma apresentação em Georgia, em 24 de Novembro. O guitarrista pisou em um fio não aterrado enquanto descia as escadas do palco. O show, entretanto, não foi cancelado. A apresentação foi interrompida até que o músico se recuperasse. Logo depois, os mascarados retornaram ao Lakeland Civic Center para entregar aos seus fervorosos fãs o show mais quente do mundo. Pelo visto, nada, nem ninguém poderia apagar a chama do Kiss.  

Faixas:

01) I Want You
02) Take Me
03) Calling Dr. Love
04) Ladies Room
05) Baby Driver
06) Love ´Em Leave ´Em
07) Mr. Speed
08) See You In Your Dreams
09) Hard Luck Woman
10) Makin´ Love