Por Rafael Menegueti
Na primeira parte da
minha analise sobre a evolução do rock, eu falei sobre como a música precisa
evoluir para conseguir sobreviver e se manter em evidencia. Mas é claro
que apenas isso não explica os rumos que o rock, e também outros gêneros
musicais, tomaram ao longo dos anos. Um outro fator também é fundamental para
inspirar mudanças e criar novas vertentes e estilos dentro da música: a própria
sociedade.
A cultura no mundo
sempre foi inspirada pelos momentos político-sociais, pelas religiões e pelos
ambientes que a rodeiam. Tomemos como exemplo os inúmeros movimentos culturais
que surgiram através dos tempos e que foram influenciados pelos acontecimentos
e pela forma como a sociedade se comportava, como o renascimento, o iluminismo
etc. Com a música ao longo dos tempos nunca foi diferente.
Bom, você deve estar
pensando “isso eu já sabia”, imagino eu. Então vamos tratar agora de como esses
mesmos fatores foram definindo os rumos do rock. Quando o estilo surgiu, ele
era a nova forma de rebeldia. Sua mistura de gêneros, a atitude dos músicos, a
inovação e irreverência das musicas, tudo era uma grande novidade naquele
momento na década de 50. Porem, conforme o tempo passou, a música passou a ter
um papel um pouco mais contestador.
Na década de 60, as
guerras e a situação política em que o mundo se encontrava causaram um grande
impacto na juventude. O rock passou a pedir paz, a protestar contra a violência
e o abuso de poder. O “poder das flores” dos hippies foi uma resposta a esses
problemas. O rock pedia paz e amor. Usava a psicodelia e um discurso todo
voltado a levar esse pedido em suas músicas. Beatles, Jimi Hendrix, Jefferson
Airplane, Janis Joplin, entre outros, criaram um estilo que moveu a juventude e
influenciou a música de uma maneira impressionante, até os dias de hoje.
Os Beatles e a Psicodelia |
O punk também tinha
uma origem contestadora. Diferente dos hippies, a inspiração na política levou
o punk rock a criar uma atitude mais áspera e contundente. A anarquia que o
estilo prega era obviamente algo que tinha como origem uma insatisfação com os
rumos que a política dava ao mundo. Não à toa, na Inglaterra, os Sex Pistols
atacavam a coroa britânica nas suas músicas, como a irônica “God Save the
Queen” e “Anarchy On the UK”. Até hoje pode se dizer que o punk tenha criado as
mais potentes formas de se rebelar contra os governos. É só ver o caso das
garotas russas do Pussy Riot, presas por protestarem contra o governo de
Vladmir Putin, usando mascaras em uma igreja.
Falando em igrejas, na
década de 70 surgiu o heavy metal, um estilo que sempre buscou usar o universo
que o rodeia como uma inspiração para sua sonoridade e letras. A própria
essência do heavy metal tem sua origem como uma resposta aos mesmos problemas
que originaram o movimento hippie, mas com a religião como um elemento a mais
em sua influência. Para alguns, é possível afirmar que ele surgiu como uma
reação oposta ao Flower Power. O metal era mais realista, e de certa forma, mais
critico do que o movimento surgido década de 60. Ao longo do tempo o estilo foi
se dividindo com base nessas características, além das contestações religiosas
com as quais ele sempre se deparou. O metal foi perseguido e censurado inúmeras
vezes por ser extremamente envolvido com coisas que a sociedade queria
esconder: Ocultismo, violência, sexo e drogas. Tudo isso e muito mais fez do
movimento um dos mais ramificados do mundo do rock.
Os adolescentes
incendiários do black metal norueguês evidenciaram que o rancor contra o
cristianismo e a forma violenta como ele foi imposto em diversos países
europeus tinham espaço na evolução do heavy metal. Da mesma forma como o power
metal busca uma proximidade com as origens medievais e folclóricas dos povos
europeus. Nenhum outro estilo no rock valoriza tanto a preservação de seus
aspectos culturais mais antigos.
Mayhem: Religiâo e ocultismo influenciaram o black metal... |
... enquanto a era medieval influenciou o power metal, como nessa capa do Blind Guardian. |
No Brasil, a ditadura
e a sempre presente revolta com a política nacional ditaram os sons que as
bandas de rock brasileiras executavam nas décadas de 70 e 80. Basta lembrarmos
o movimento do rock de Brasília nos anos 80, com o surgimento de bandas como a
Legião Urbana e o Capital Inicial para termos um ótimo exemplo disso. O
discurso de indignação com os nossos lideres sempre foi um dos melhores
combustíveis de nosso rock. E ele rende até hoje, pois as musicas escritas
naquela época, como, por exemplo, “Que País É Esse” da Legião, seguem tão
atuais quanto na época que foram escritas.
É claro que com o
tempo novas formas da música se relacionar com o que ocorre no mundo vão
surgir. Por isso é importante ter em mente que, para estar atualizado com o que
ocorre na música, devemos estar atualizados com o que está rolando em nossa
sociedade. E assim será pelo resto da história.