Por Davi Pascale
Continuamos com a semana em
homenagem à mulher. Hoje, resolvi falar sobre duas irmãs que sempre fizeram um
rock n roll de qualidade e que não possuem, na minha visão, toda a notoriedade
que deveriam ter. Ao menos no Brasil, já que o grupo delas já foi homenageado
pelo Rock n Roll Hall of Fame. Estou falando das irmãs Nancy e Ann Wilson da
banda Heart.
O pessoal mais velho certamente já
se deparou com algum trabalho delas por aí. Seja com números clássicos da
década de 70 como “Barracuda” e “Crazy On You” ou com alguma canção radiofônica
dos anos 80 como a balada “These Dreams. Já os mais novos, é bem capaz que
nunca tenha ouvido falar sobre as garotas. Não os culpo. Somente as revistas
especializadas costumam falar sobre o Heart. Já a grande mídia...
Meu primeiro contato com o trabalho
delas foi com o LP que lançaram em 1985. Era o disco que trazia o Heart de
volta ao estrelato. A música que mais me chamou a atenção quando descobri o
disco lá por 1989, 1990, revirando a coleção de discos de casa, foi "If Looks Could Kill". A canção tinha aquela sonoridade bem 80´s e era dona de um
refrão cativante. Impossível não se encantar. Depois teve outra faixa com
as irmãs Wilson que me chamou a atenção em 1992, na trilha sonora do filme Singles.:
Vida de Solteiro. Esse disco bateu forte na minha geração. O CD foi lançado em
meio à euforia grunge e trazia material inédito de bandas como Alice In Chains,
Soundgarden e Pearl Jam. Uma faixa que sempre me chamou a atenção foi a versão matadora
de “Battle of Evermore” (Led Zeppelin) na voz de um grupo chamado The Lovemongers,
que mais tarde vim a descobrir que se tratava justamente de Ann e Nancy Wilson.
Capa do LP lançado em 1985 |
Muitos acharam estranho a escolha do
grupo para a trilha. Lovemongers era um projeto paralelo das irmãs e nem sequer
tinha um álbum lançado ainda. O único disco desse projeto foi lançado em 1997,
5 anos depois do longa. Verdade seja dita, nessa vida, nada acontece por acaso. Singles, que
contava com as atuações de Bridget Fonda e Matt Dillon, foi dirigido por
Cameron Crowe, marido da guitarrista Nancy Wilson. Alguém continua achando estranho a inclusão? Claro que isso não tira o valor delas. Afinal, como eu disse, sempre considerei a faixa delas um dos destaques do CD. Como curiosidade,
vale citar que esse filme inspirou a criação de uma das series mais populares
dos EUA. A Warner Bros acreditava que a história renderia
em um formato televisivo e quis transformar Singles em uma série. Crowe, que
também era o roteirista, negou. A empresa, contudo, não desistiu do projeto. Mudou o time
e o nome. A serie agora atendia pelo nome de “Friends”. Embora, o longa não tenha sido um recorde de bilheterias, o CD deu o que falar. Por conta do sucesso da
trilha, o grupo resolveu lançar um EP de 4 faixas no final de 1992 incluindo a
faixa do filme e uma releitura do hit “Crazy On You”, mas passou batido.
Se o projeto Lovemongers não atingiu
o estrelato, o mesmo não podemos dizer do grupo principal das irmãs. O Heart
fez muito sucesso. Por falta de uma, duas vezes. O primeiro momento de ascensão
do grupo foi ainda nos anos 70. O trabalho de estreia fez um sucesso moderado.
Mesmo assim foi forte o suficiente para gerar brigas entre gravadoras.
Depois de ter um gostinho do sucesso
com músicas como “Crazy On You” e “Magic Man” aparecendo nas paradas da
Billboard, a banda resolveu quebrar seu contrato com a Mushroom Records e
assinar com a Portrait Records, uma subsidiária da CBS (atual Sony). Os músicos não
estavam felizes com os pagamentos dos direitos autorias e justamente por não
entrarem em acordo, resolveram partir para outra. Os proprietários da Mushroom
chegaram, inclusive, a dizer ao grupo que eles não tinham interesse em lançar um
novo álbum naquele momento. Ao ficar sabendo que eles estavam para
lançar seu segundo trabalho, Little
Queenie, pela CBS, a antiga gravadora pegou um
monte de material inédito, montou um LP e colocou no mercado com o nome de
Magazine.
As irmãs Ann e Nancy Wilson em ação |
O grupo ficou bravo e entrou com uma
ação judicial contra a Mushroom, pedindo para que os discos fossem
recolhidos das lojas. Os músicos achavam o material (que era uma mistura de
faixas inéditas de estúdio e ao vivo) muito crú. Os proprietários diziam que o
contrato assinado era de dois discos, então tinham direito ao lançamento. A corte de
Seattle determinou que o material deveria ser recolhido, mas que o conjunto
teria a obrigação de fazer um segundo LP para a gravadora. Em comum acordo,
decidiram que o mais fácil seria dar uma lapidada naquele material. O
disco foi remixado, teve alguns vocais regravados e sua ordem de faixas
alterada. Portanto, se existir algum colecionador de Heart por aí, corra atrás
da primeira tiragem porque as versões são diferentes...
De todo modo, o sucesso mainstream
chegou com o LP Little Queenie em
1977. Uma das faixas mais lembradas é a canção "Barracuda", que tem uma história
interessante. A letra nasceu após Ann Wilson ter ficado puta com um repórter da
Rolling Stone, que durante uma conversa com ela no camarim após um show, deu a
entender que acreditava que as irmãs Ann e Nancy viviam um romance. Da fúria de Ann nasceu a letra de um dos principais hits da banda.
O sucesso comercial durou até Bebe La Strange, lançado em 1980.
Os dois álbuns seguintes – Private Audition
e Passionworks foram não tiveram grande êxito. Não demoraria muito, contudo, para recuperarem seus dias de glória.
Em 1985, a banda lançou seu primeiro álbum pela Capitol Records. Trata-se
daquele disco que comentei lá no início do texto. Como disse lá em cima, o LP
trouxe a banda de volta ao estrelato. Contudo, a banda seguia um novo rumo. O
grupo apostava, nesse momento, em um som muito mais comercial do que aquele que
fazia nos anos 70. E isso assustou muitos dos seus antigos fãs. Até hoje há
quem olhe de cara feia para mim quando digo que gosto desse LP.
Embora tenha existido várias formações, as irmãs nunca abandonaram o grupo que ainda segue na ativa |
Bad
Animals e Brigade não ficaram
atrás. Tudo ia muito bem até que resolveram dar uma pausa em 1995. Nancy queria um tempo para se dedicar à família. O
grupo só retornaria à ativa em 2002, lançando um novo trabalho de inéditas somente em 2004. O (ótimo) Jupiters Darling trazia de volta aquele hard rock setentista com influencias de Led Zeppelin
e afins que seus fãs tanto gostam, mas a cena já era outra..
Esse era o primeiro de inéditas
desde Brigade, lançado em 1990. O último
registro, para dizer a verdade, tinha sido Road
Home em 1995. Mas não era um álbum inédito. Tratava-se de um projeto com
releituras acústicas - Vale lembrar que esse projeto contou com a produção do
lendário baixista John Paul Jones (Led Zeppelin) - Enfim, quando retornaram, o
mercado estava uma bagunça com mp3 dominando mercado, internet fazendo a cabeça
dos jovens no lugar das rádios e da televisão. Uma transição que elas,
infelizmente, não acompanharam. Com isso, acabaram perdendo espaço da
mídia, que a cada semana lançava um grupo chamando de ‘a nova revolução do rock’. Tentaram isso com Strokes, Hives, Artic Monkeys, The Vines etc etc etc. Para a tristeza dos fãs do segmento, nenhum deles conseguiu essa proeza. Ainda estamos esperando a próxima revolução do rock, para dizer a verdade.
Enquanto a
revolução não vem, não custa nada nos deliciarmos com algumas velhas e ótimas
canções. E isso o Heart sempre foi capaz de nos entregar...