domingo, 13 de abril de 2014

Courtney Love – 10 Anos de America´s Sweetheart (2004)





Por Davi Pascale

Não parece, mas já se passaram 10 anos que Courtney Love soltou seu primeiro e – até agora – único trabalho solo. O resultado não poderia ser diferente. Não existe meio termo no mundo de Courtney Love. É o famoso ame ou odeie. E o resultado foi exatamente esse. Muitos amaram, muitos odiaram (inclusive, a própria cantora). Para variar, o disco veio cercado de polêmicas. E dava para ser diferente?

America´s Sweetheart começou a ser trabalhado em 2001, levando quase 3 anos para chegar às lojas. A sonoridade é como se fosse um best of de toda sua carreira. Oras pesado e veloz, oras mais lento com as guitarras alternando entre o som limpo e a distorção. Seus vocais continuavam os mesmos. Oras sutis e escorregadios, oras raivosos, berrados como se não existisse o amanhã.

Muitos olham com desdém para o seu trabalho por conta de sua fama de arruaceira. Há, inclusive, quem a acuse de ter assassinado Kurt. Como já havia escrito em um outro artigo por aqui, acho essa hipótese de envolvimento no suposto homicídio de seu ex-marido uma babaquice sem tamanho. Agora, essas figuras polemicas e cheias de mistério, muitas vezes são interessantes. Afinal... o que seria do rock n roll sem essas figuras emblemáticas? 

Courtney Love estava viciada em cocaína na época das gravações

 Courtney tem uma postura rock n roll, dentro e fora dos palcos, que para falar a verdade sinto falta nos artistas atuais. Lembro de ter comentado sobre essa postura apática das bandas, inclusive, enquanto assistia aos shows da última edição brasileira do festival Lollapalooza. Tudo bem, algumas bandas até tocavam direitinho. Mas onde está aquele cara que sobe aos palcos, pega o microfone e rouba a cena? Que faz você não querer desgrudar os olhos dele? A cena grunge tinha bastante disso, mas depois que os Strokes invadiram as rádios, isso tem se tornado cada vez mais raro. Sua postura no palco é imprevisível. Ela pode elogiar artistas pop, xingar artistas de rock, jogar a guitarra do nada e sair andando, levantar a blusa e mostrar os seios. Já teve até uma história de que ela havia gostado do boné que um fã estava usando em um de seus shows e fez uma troca pela calcinha que estava usando no dia. Enfim, tudo pode acontecer.

O mais legal de tudo é que ela é assim. Não é aquele personagem forjado para pagar de malvado em frente às câmeras que depois vai para casa comer sucrilhos, beber leite e comentar o programa da Oprah. Tanto que essas confusões já lhe renderam vários problemas pessoais como o fato de ter perdido a guarda de sua filha (há quem diga que ela chegou a sofrer uma overdose na frente da garota), inúmeros ataques públicos de artistas e ex-maridos. Teve ataques, inclusive, com o cara com quem estava nesse período, e que ajudou na produção do disco, Jim Barber.

As drogas também atormentaram à todos durante a gravação desse material. Um dos motivos dela não gostar do álbum se deve ao fato de que ela não acompanhou a produção do mesmo. Não acompanhou a escolha das músicas, a mixagem e nem mesmo a escolha da capa. Segundo ela mesma reconheceu mais tarde, por estar chapada de cocaína todo o tempo. A gravadora não quis ficar esperando ela se reencontrar e terminaram o álbum sem ela, atitude que deixou a cantora louca.

Courtney não gosta do álbum

Courtney Love gosta de dizer que o disco tem boas músicas, mas que a sonoridade ficou muito magra. Realmente não tem toda aquela sujeira de Pretty On The Inside, mas não é muito distante da sonoridade de Celebrity Skin, para dizer a verdade. Quem gostou daquele álbum, tem de tudo para gostar desse. Para falar a verdade, nem sei se ele pretendia voltar para aquela sonoridade suja e agressiva do debut do Hole. Eu acho que não, porque no time que ela escolheu para trabalhar nesse álbum tinham nomes que iam desde o guitarrista do MC5 Wayne Kramer até o letrista de Elton John, Bernie Taupin. Isso tudo sem citar a presença de Linda Perry (ex-cantora do 4 Non Blondes, que nesse momento já ganhava dinheiro produzindo Christina Aguilera e Pink) e de suas ex-companheiras Pet Schemel e Samantha Maloney. Ou seja, seus convidados iam do pop ao punk. Acredito que esse mistura de som pesado e, ao mesmo tempo, comercial era sua meta desde o princípio.

Entre as letras, a mais lembrada é certamente a de “But Julian, I´m a Little Older Than You”. Uma crítica à então nova cena de rock do momento. A cantora ironizava as bandas rock de garagem que ficavam desenhando visual, que subiam no palco todos engomadinhos. America´s Sweetheart é puro Courtney Love. Oras agressivo, oras calmo. Oras polêmicos, oras engraçado. E sempre espontâneo e cativante. Belo álbum!