Por Davi Pascale
Não parece, mas já se passaram 10 anos que Courtney Love soltou seu
primeiro e – até agora – único trabalho solo. O resultado não poderia ser
diferente. Não existe meio termo no mundo de Courtney Love. É o famoso ame ou
odeie. E o resultado foi exatamente esse. Muitos amaram, muitos odiaram
(inclusive, a própria cantora). Para variar, o disco veio cercado de polêmicas.
E dava para ser diferente?
America´s Sweetheart começou a ser trabalhado em 2001, levando
quase 3 anos para chegar às lojas. A sonoridade é como se fosse um best of de
toda sua carreira. Oras pesado e veloz, oras mais lento com as guitarras
alternando entre o som limpo e a distorção. Seus vocais continuavam os mesmos.
Oras sutis e escorregadios, oras raivosos, berrados como se não existisse o
amanhã.
Muitos olham com desdém para o seu trabalho por conta de sua fama de
arruaceira. Há, inclusive, quem a acuse de ter assassinado Kurt. Como já havia
escrito em um outro artigo por aqui, acho essa hipótese de envolvimento no
suposto homicídio de seu ex-marido uma babaquice sem tamanho. Agora, essas
figuras polemicas e cheias de mistério, muitas vezes são interessantes.
Afinal... o que seria do rock n roll sem essas figuras emblemáticas?
Courtney Love estava viciada em cocaína na época das gravações |
Courtney tem uma postura rock n roll, dentro e fora dos palcos, que para
falar a verdade sinto falta nos artistas atuais. Lembro de ter comentado sobre
essa postura apática das bandas, inclusive, enquanto assistia aos shows da
última edição brasileira do festival Lollapalooza. Tudo bem, algumas bandas até
tocavam direitinho. Mas onde está aquele cara que sobe aos palcos, pega o
microfone e rouba a cena? Que faz você não querer desgrudar os olhos dele? A
cena grunge tinha bastante disso, mas depois que os Strokes invadiram as
rádios, isso tem se tornado cada vez mais raro. Sua postura no palco é
imprevisível. Ela pode elogiar artistas pop, xingar artistas de rock, jogar a
guitarra do nada e sair andando, levantar a blusa e mostrar os seios. Já teve até
uma história de que ela havia gostado do boné que um fã estava usando em um de
seus shows e fez uma troca pela calcinha que estava usando no dia. Enfim, tudo
pode acontecer.
O mais legal de tudo é que ela é assim. Não é aquele personagem forjado
para pagar de malvado em frente às câmeras que depois vai para casa comer
sucrilhos, beber leite e comentar o programa da Oprah. Tanto que essas
confusões já lhe renderam vários problemas pessoais como o fato de ter perdido
a guarda de sua filha (há quem diga que ela chegou a sofrer uma overdose na
frente da garota), inúmeros ataques públicos de artistas e ex-maridos. Teve
ataques, inclusive, com o cara com quem estava nesse período, e que ajudou na
produção do disco, Jim Barber.
As drogas também atormentaram à todos durante a gravação desse material.
Um dos motivos dela não gostar do álbum se deve ao fato de que ela não
acompanhou a produção do mesmo. Não acompanhou a escolha das músicas, a mixagem
e nem mesmo a escolha da capa. Segundo ela mesma reconheceu mais tarde, por
estar chapada de cocaína todo o tempo. A gravadora não quis ficar esperando ela
se reencontrar e terminaram o álbum sem ela, atitude que deixou a cantora
louca.
Courtney não gosta do álbum |
Courtney Love gosta de dizer que o disco tem boas músicas, mas que a
sonoridade ficou muito magra. Realmente não tem toda aquela sujeira de Pretty On The Inside, mas não é muito
distante da sonoridade de Celebrity Skin,
para dizer a verdade. Quem gostou daquele álbum, tem de tudo para gostar desse.
Para falar a verdade, nem sei se ele pretendia voltar para aquela sonoridade
suja e agressiva do debut do Hole. Eu acho que não, porque no time que ela
escolheu para trabalhar nesse álbum tinham nomes que iam desde o guitarrista do
MC5 Wayne Kramer até o letrista de Elton John, Bernie Taupin. Isso tudo sem
citar a presença de Linda Perry (ex-cantora do 4 Non Blondes, que nesse momento
já ganhava dinheiro produzindo Christina Aguilera e Pink) e de suas
ex-companheiras Pet Schemel e Samantha Maloney. Ou seja, seus convidados iam do
pop ao punk. Acredito que esse mistura de som pesado e, ao mesmo tempo,
comercial era sua meta desde o princípio.
Entre as letras, a mais lembrada é certamente a de “But Julian, I´m a
Little Older Than You”. Uma crítica à então nova cena de rock do momento. A
cantora ironizava as bandas rock de garagem que ficavam desenhando visual, que
subiam no palco todos engomadinhos. America´s Sweetheart é puro Courtney
Love. Oras agressivo, oras calmo.
Oras polêmicos, oras engraçado. E sempre espontâneo e cativante. Belo álbum!