domingo, 26 de novembro de 2017

David Bowie – The Man Who Changed The World (2016):



Por Davi Pascale

Finalmente parei para assistir o documentário sobre o camaleão do rock. E, infelizmente, tenho que constatar: esperava muito mais. Sem músicas, poucos entrevistados, poucos depoimentos realmente interessantes. Para os velhos fãs de Bowie, um verdadeiro banho de água fria.

O filme não é muito longo. Pouco mais de 90 minutos. Então, não cansa assisti-lo, mas peca em diversos momentos. O áudio não é muito bem editado. O volume da narração está muito mais baixo do que o volume das entrevistas. Do jeito que o cantor era perfeccionista, se assistisse algo desse tipo, teria uma parada cardíaca nos primeiros 10 minutos.

O roteiro também não ajuda muito. E a desculpa de ser curto, não cola. O RockHistória da MTV durava pouco mais de 20 minutos e teve episódios onde aprendi muito mais sobre os artistas do que essa película aqui. Bowie é um artista que tem muita historia para se contar. Poderia se comentar sobre o fato dele sempre estar antenado com o novo universo musical, poderia se explicar com riqueza a criação do Spiders From Mars, falar sobre como ele ajudou a revolucionar o mercado de videoclipes, a influencia que sua obra teve em cima de artistas e movimentos musicais...

O que temos aqui é aquele típico documentário unauthorized sem musicas do artista, inúmeras fofocas e bastante comentário sobre seus dias pré-fama. Ok, aqui temos alguns momentos interessantes como sua admiração por Anthony Newley, suas aventuras na folk music e seus anos de David Jones.

O grande pecado é que o filme tenta vender a ideia do artista que revolucionou o mundo (daí o titulo brincando com o nome do clássico “The Man Who Sold The World”), o que não é nenhuma mentira, mas não explica como isso aconteceu. A parte musical é muito mal contada. Não me recordo nem de terem citado o nome de Brian Eno por aqui. Quando vão citar a trilogia de Berlim, comentam por cima sobre o Iggy Pop, mas não comentam sobre a influencia de krautrock, de Kraftwerk, etc. Se você que conhecer mais curiosidades sobre a música de Bowie, esquece.



O filme foca muito na questão visual. No lance de usar roupas e utensílios não usual para os padrões da época, o que realmente ocorreu, sobre o fato de acreditar em vida extra-terrestres e jurar, por mais de uma vez, ter visto discos voadores. Uma fofoca interessante foi o depoimento de seu amigo de escola que lhe deu um murro no rosto dilatando sua pupila para sempre. Ele explica que foi por uma garota, mas até isso está mal explicado. Quem era essa garota? Onde a briga aconteceu? Algum deles chegou, de fato, a namorar a garota?

O que deixa o longa um pouco mais interessante são os depoimentos do próprio David Bowie, extraído de arquivos, que conseguia responder com simpatia e inteligência perguntas nem sempre inteligentes. Há momentos interessantes quando ele diz que a música é o mais importante de tudo (escolha de depoimento um tanto estranha para um documentário com esse viés), o fato de que ele nunca quis ter um ‘som Bowie’ e o fato dele não gostar de alguns de seus discos mais famosos.


The Man Who Changed The World serve para passar o tempo, serve como uma distração, mas se você pretende compreender melhor suas transformações, descobrir como ele criou tal musica ou criou tal personagem, entender sua relação com músicos/produtores, sua visão de empreendedor, não será aqui que você terá essas respostas. Por sua conta e risco.

sábado, 18 de novembro de 2017

Melissa Etheridge – A Little Bit Of Me: Live In L.A. (2015):



Por Davi Pascale

Aula de rock n´ roll e profissionalismo. É exatamente isso o que temos aqui. Pode ser que alguns de nossos leitores nunca tenham ouvido falar de Melissa Etheridge. Realmente, aqui no Brasil, ela não é tão popular. Especialmente, entre a juventude. Nos Estados Unidos, contudo, ela é bem respeitada. A cantora, que já ganhou 2 grammys,  é conhecida por sua voz potente, suas letras confessionais e por seu lado ativista. Homossexual assumida, a artista luta pela causa LGBT desde 1993.

Contudo, é bom deixar claro. Ela não é aquela artista que gosta de chocar. Muito pelo contrário. No palco, rouba toda a atenção por sua musicalidade. Seja arriscando algumas notas no teclado em “Monster”, seja na sua voz rouca e potente, ou ainda na sua performance nas guitarras e violões. Utilizando-se quase sempre de instrumentos de doze cordas, chega a arriscar diversos solos durante o show. Não há espaço para beijo gay, discurso político, nem nada do tipo. A música fala por si.

A apresentação escolhida foi registrada no luxuoso Orpheum Theater (Los Angeles) em 12 de Dezembro de 2014, durante a divulgação de This Is M.E. Álbum que lançou de maneira totalmente independente e que trazia uma sonoridade mais pop, mais moderna. Nos shows, contudo, a pegada era a mesma de sempre. Arranjos roqueiros passando pelo folk e pelo blues.

Os músicos são de primeira, com destaque para o excelente baixista Jerry Wonda. Extremamente seguro, o rapaz demonstra um feeling fora do comum. Melissa é um caso à parte. Na estrada há mais de 30 anos, sua voz não dá sinal de cansaço. Continua jogando a voz para cima durante todo o concerto, coloca uma emoção inacreditável em sua interpretação, além de ser uma boa instrumentista, conforme já citado. Parte desse conhecimento, certamente, veio da estrada. Na fase pré-fama, a moça fazia apresentações de voz/violão por 4 horas seguidas. Parte, veio por sua formação musical. Melissa não é curiosa. Ela é formada na Berklee College of Music. Ou seja, sabe exatamente o que está fazendo ali.




O repertório pode parecer curto em um primeiro momento, mas na verdade, não é. Embora sejam apenas 13 canções, várias músicas, especialmente na segunda metade, ganharam arranjos estendidos e improvisos. No show de quase 2 horas, foi apresentado 4 canções de seu, até então, mais novo álbum (“I Won´t Be Alone Tonight”, “Take My Number”, “A Little Bit Of Me” e “Monster”) e 9 músicas das antigas. Clássicos como “I Want To Come Over”, “Come To My Window”, “Bring Me Some Water”, “Like The Way I Do” e “I´m The Only One” não foram esquecidos.

Sua energia no palco segue intacta. A moça nunca se deixou abalar, para dizer a verdade. Nem mesmo quando enfrentou um câncer de mama em 2004. Aqui no Brasil ficou muito popular um vídeo dela cantando “Piece Of My Heart” (Janis Joplin) junto com a Joss Stone na edição do Grammy de 2005. Embora seja conhecida por sempre estar com cabelos compridos, Melissa aparecia ali totalmente careca. A razão era essa. Naquela época, estava enfrentando uma quimioterapia. Aqui, comemora o fato de estar livre do câncer há 10 anos. Melissa aparece alegre, falante e cheia de energia. Quem não conhece sua história, nem imagina os perrengues que já passou...

A Little Bit Of Me é extremamente bem gravado e apresenta um repertório certeiro. Quem já conhece e curte seu trabalho, ficará maravilhado com o vídeo. Quem não conhece sua obra e resolver se arriscar é bem provável que acabe se tornando fã. Show de altíssimo nível.

Nota: 9,0 / 10,0

Faixas:
      01)   I Won´t Be Alone Tonight
      02)   I Want To Come Over
      03)   Chrome Plated Heart
      04)   Take My Number
      05)   Come To My Window
      06)   Ruins
      07)   A Little Bit Of Me
      08)   If I Wanted To
      09)   Meet Me In The Black
      10)   Bring Me Some Water
      11)   I´m The Only One
      12)   Like The Way I Do
      13)   Monster
      14)   Entrevistas
      15)   Backstage Pass

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Motorhead – Under Cover (2017):



Por Davi Pascale

Under Cover é um album póstumo do Motorhead criado com a intenção de cobrir um buraco em sua discografia. Os músicos chegaram a comentar entre eles, diversas vezes, sobre a vontade de fazer um trabalho de covers, mas infelizmente, não deu tempo. Para realizarem um sonho antigo e, ao mesmo tempo, homenagear seu velho colega, o lendário Lemmy Kilmister, resolveram criar essa coletânea.

Embora traga gravações de diferentes fases, o álbum não soa como uma colcha de retalhos. A razão disso é apenas uma. Os rapazes nunca modificaram muito sua sonoridade no decorrer dos anos. A banda sempre se manteve fiel ao seu princípio. Portanto, salvo “Rockway Beach” (que saiu de uma demo), o restante do material mantém, não apenas a qualidade de gravação, quanto a sonoridade dos arranjos.

As musicas presentes aqui foram retiradas, em sua maioria, de discos e singles. E do mesmo jeito que não gostavam de inventar moda nas suas músicas, o trio obedecia a mesma logica na hora de prestar suas homenagens. Ou seja, não recriavam música nenhuma. Eles aprendiam a musica e tocavam como se fosse uma musica do Motorhead. Com a mesma pegada, a mesma porrada. Trabalho extremamente rock n´roll, no sentido literal da expressão.

“Shoot Em´ Down” e “Starstruck” foram retiradas de álbuns tributos que os rapazes participaram. O velho clássico do Rainbow contou com a ajuda vocal de Biff Byford, o lendário vocal do Saxon, por conta dos problemas de saúde que Lemmy já enfrentava na época. A parceria funcionou incrivelmente bem. Gravação extremamente mágica.




Lemmy sempre teve um estilo muito próprio de cantar, portanto, algumas escolhas podem parecer meio ousadas a principio. Entretanto, tudo conspirava ao seu favor, já que eles não ficavam preocupados em reproduzir a voz original. Os caras entravam no estúdio, sentavam o pau e acabou. Simples, direto, como uma boa banda de rock n roll deve ser.

“Hellraiser” foi uma canção que Lemmy escreveu para seu velho amigo Ozzy Osbourne. Difícil escolher qual versão é a mais forte. Se a de March or Die ou se a de No More Tears. “Cat Scratch Fever” (Ted Nugent) também soa magica na versão da banda.

As escolhas mais inusitadas, em se tratando de Motorhead, certamente são as duas gravações que fizeram do Rolling Stones – “Sympathy For The Devil” e “Jumpin´ Jack Flash” – e a grande surpresa desse CD, o cover de “Heroes” do camaleão David Bowie. A música é uma sobra de Bad Magic, ultimo álbum de inéditas do Motorhead. Foi uma das ultimas musicas gravadas pelo Lemmy. E embora possam parecer dois artistas extremamente distantes – e são – o resultado final ficou bem interessante.

Under Cover faz justiça ao legado da banda. Trata-se de um trabalho bem rock n roll, para cima, que soa despretensioso e empolgante. Uma ótima banda resgatando clássicos do rock n roll. Ideia bem sacada e trabalho extremamente divertido que nos coloca um sorriso no rosto ao ouvirmos, mais uma vez, o inconfundível timbre do Lemmy. Play it loud!

Nota: 9,0 / 10,0

Faixas:
      01)  Breaking The Law (Judas Priest)
      02)  God Save The Queen (Sex Pistols)
      03)  Heroes (David Bowie)
      04)  Starstruck (Rainbow)
      05)  Cat Scratch Fever (Ted Nugent)
      06)  Jumpin´ Jack Flash (The Rolling Stones)
      07)  Sympathy For The Devil (The Rolling Stones)
      08)  Hellraiser (Ozzy Osbourne)
      09)  Rockaway Beach (Ramones)
      10)  Shoot ´Em Down (Twisted Sister)
      11)  Whiplash (Metallica)

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Michael Jackson – Scream (2017):



Por Davi Pascale

Recentemente chegou ao mercado uma nova coletânea do Rei do Pop, Michael Jackson. A ideia da gravadora era brincar com o dia das bruxas, o famoso Halloween, e entregar uma compilação com músicas do astro onde este brinca com assuntos sobrenaturais, de fantasia, etc. A jogada é interessante porque o repertório foge do óbvio.

Sim, tem a ver. Michael Jackson foi um dos responsáveis por mudar a ótica do vídeo-clipe. De demonstrar que esses vídeos promocionais poderiam ser tratados como um mini-filme. Ele fez isso diversas vezes em sua trajetória e brincou com esse universo sobrenatural algumas vezes, como o “Ghosts” e, é claro, o lendário “Thriller”.

Michael era um bom compositor. Portanto, mesmo tendo vários lados B – como “Torture”, “Leave Me Alone” e “Xscape” – a audição é bem interessante. O tracklist foca em diversas fases do cantor, resgatando músicas dos tempos de Jacksons, inclusive. É possível notar o quão criativo esse cara foi. Você pega uma musica como “This Place Hotel” e outra como “Blood On The Dance Floor” e repara que são sonoridades totalmente distintas. Incrível imaginar que universos tão distantes possam ter saído da mesma mente.

O único senão é que a pessoa que ficou responsável por compilar esse material não teve o trabalho de ler as letras. Fez a seleção levando em consideração, unicamente, o título das faixas. Com isso, várias músicas que não têm a ver com a proposta do disco acabaram entrando na compilação. A exemplo da faixa-título “Scream”, que é uma canção onde Michael respondia as acusações de abuso sexual.  Bola fora total!


Nova coletânea foi lançada para explorar o Halloween

O CD não traz músicas inéditas, mas traz duas curiosidades. Uma é o que eles chamaram de smash-up. Apesar do novo rótulo, na prática, ele nada mais é do que o velho remix. Só que ao invés do cara pegar uma música e criar uma batida por cima, ele criou uma mixagem se utilizando de diferentes músicas do cantor. Não é de hoje que Dj´s misturam diferentes canções em um único título. O resultado final ficou interessante.

O mais bacana, entretanto, é realmente o efeito especial que vem em um insert dentro do encarte. Você baixa um aplicativo em seu celular, o Shazam, foca na imagem que está estampada no papel e você verá aquela imagem em uma tecnologia 3D. O projeto é super bem feito e a imagem é super bonita. Experiência realmente muito bacana.

O resultado final, mesmo com os deslizes, acaba sendo positivo porque Michael era um artista muito acima da média. Para quem viveu seu sucesso acaba sendo emocionante relembrar de faixas como “Dirty Diana” (na hora, me recordei do filme “Moonwalker” que tive a oportunidade de assisti-lo nos cinemas) e até mesmo a já citada “Scream”. É como se passasse um filme em sua cabeça. Para quem não conhece mais do que seus grandes sucessos, é uma boa maneira de descobrir canções diferentes e, quem sabe, se estimular à se aprofundar em sua obra.

Nota: 7,5 / 10,0
Faixas:

      01)   This Place Hotel
      02)   Thriller
      03)   Blood On The Dance Floor
      04)   Somebody´s Watching Me
      05)   Dirty Diana
      06)   Torture
      07)   Leave Me Alone
      08)   Scream
      09)   Dangerous
      10)   Unbreakable
      11)   Xscape
      12)   Threatened
      13)   Ghosts
      14)   Blood On The Dance Floor X Dangerous (The White Panda Mash-Up)