Por Davi Pascale
Hoje, Arnaldo Dias Baptista completa 66 anos de idade. Para homenageá-lo,
resolvi escrever sobre esse disco. Clássico do rock brasileiro, porém
desconhecido por muitos garotos da nova geração. Lançado originalmente em 1974,
embora seja atualmente cultuado, na época suas vendagens foram inexpressivas. O
mutante Arnaldo Baptista vivia um momento de dor. Essa dor permeia todo o
álbum. Em seu primeiro trabalho solo, falava, principalmente, sobre o fim do
relacionamento com a cantora Rita Lee.
Quem não conhece a história do rapaz, pode achar algumas letras
estranhas. Quem conhece, considera-as autobiográficas. A canção que abre o
álbum “Será Que Vou Virar Bolor” é um ótimo exemplo disso. Fala sobre a
dificuldade de começar sua vida novamente do zero. A frase mais emblemática
talvez seja ‘não gosto do Alice Cooper’. Para muitos, essa frase pode soar
desconexa ou uma crítica à música do momento. Na verdade, a razão era outra. O
cantor americano havia se apresentado pela primeira vez no Brasil naquele ano e
sua ex-esposa (sim, a Rita) era acusada de ter tido um romance com um dos músicos
do conjunto.
Emocionalmente abalado, o musico canta várias faixas bastante
emocionado. Muitos questionam o (excelente) guitarrista Sergio Dias por
continuar o Mutantes após a saída de Arnaldo. Na verdade, eu questiono a volta.
Enfim, seja qual for sua crítica, a verdade é que isso já havia existido antes.
O Mutantes já havia gravado um disco sem Arnaldo e sem Rita nos anos 70. Em Tudo Foi Feito Pelo Sol, Sergio já era
o único integrante da formação clássica.
Arnaldo sofria com fim do casamento com Rita Lee |
Arnaldo Baptista, como já disse, estava em uma fase delicada.
Recém-separado de Rita Lee, brigado com seu irmão Sergio Dias (o que rendeu sua
saída dos Mutantes), além de estar viciado em drogas. Muitas histórias curiosas
envolvem esse período. Havia uma história de que na fase de Mutantes e Seus Cometas no Pais dos Baurets,
os músicos viviam em uma comunidade hippie na Serra da Cantareira, se
aprofundando cada vez mais nas drogas e nas práticas sexuais. Havia ainda uma outra
história de que Arnaldo havia inventado uma linguagem própria e falava sobre
construir uma nave. Como podem ver, os rapazes viviam o slogan ‘sexo, drogas e
rock n roll’ como ninguém.
Lóki é marcado pela ausência de guitarras, símbolo
máximo do rock n roll. Isso foi proposital. Queria fazer algo que tivesse a sua
marca, e não a marca dos Mutantes. Conhecido por ser perfeccionista, muitos
estranharam sua atitude de querer fazer um disco espontâneo, em pouquíssimos takes e gravado ao vivo.
Mas foi um acerto. Embora seja verdade que parte dessa decisão foi influenciada
por estar emocionalmente abalado. O ponto principal é seu piano, talento
herdado de sua mãe, Clarisse Leite. Essa influencia fica bastante nítida na instrumental "Honky Tonky"". Embora, não tivesse a intenção de soar como
os Mutantes, os músicos de sua ex-banda aparecem todos por aqui. Dinho Leme e
Liminha (sim, é esse mesmo que você está pensando. O produtor) da fase final. E
até mesmo Rita Lee aparece nos backing de algumas faixas. O único que não deu
as caras por aqui foi Sergio Dias. Agora... musicalmente falando, realmente é bem distinto de sua ex-banda. Mistura ao seu piano clássico influencias de blues, jazz, samba, funk... Os grandes destaques ficam por conta de "Não to Nem Aí", "Vou Me Afundar Na Lingerie" e "Desculpe".
O LP foi produzido por Roberto Menescal, exímio musico conhecido por seu
trabalho ligado à bossa nova. Na época, era presidente da gravadora Philips e
foi ele quem tomou a decisão de viabilizar o projeto. Quando mostrou as demos
em uma reunião com os engravatados, todos questionaram se ele tinha certeza que
queria gravar aquele disco. Os executivos não botavam fé no material, sem
contar que Arnaldo já havia criado sua fama de louco. No documentário de 2008, o produtor
declarou que teve o insight de que aquele poderia ser um disco histórico. E
foi! Sem dúvidas, o descaso da gravadora ajudou para que o material não
vingasse. Não teve show de lançamento, a divulgação foi bem fraquinha.
Entretanto, o material sobreviveu a prova do tempo.
Musico prova que era possível fazer rock sem guitarra |
Esse mesmo abalo que impulsionou a criação de Lóki, também colocou meio que um fim em uma carreira que poderia
ter sido interessantíssima. Além da dificuldade do fim de seu casamento com a
Rita e de sua relação com as drogas, o musico tinha que viver com o preconceito
da sociedade que insistia em taxa-lo como louco. Em vários momentos, o rapaz
ficava agressivo, por conta de seu vício, e isso fez com que fosse internado
algumas vezes. Tratado como louco mesmo, com camisa de força e tudo mais. Em
1982, na noite de Reveillon, cansado de tudo isso, Arnaldo Dias
Baptista se atirou da janela do Hospital do Servidor Publico de São Paulo.
Arnaldo Baptista não morreu, mas chegou perto. O musico que sofreu
traumatismo craniano, chegou a ficar em coma. O ‘acidente’ trouxe sequelas irreversíveis
afetando sua coordenação e sua fala. Desde essa época, o rapaz tem se dedicado
mais às pinturas do que à música. Embora seja verdade que parte disso ocorra
por falta de apoio. Arnaldo tem um novo disco pronto chamado Esphera, mas ainda
não conseguiu encontrar quem queira investir no projeto. Torcemos para que o
disco consiga chegar às lojas em breve. Essa é mais uma daquelas figuras que é
mais respeitada fora do Brasil do que dentro dele. Pena!
Faixas:
01)
Será Que
Vou Virar Bolor?
02)
Uma Pessoa
Só
03)
Não Estou
Nem Aí
04)
Vou Me
Afundar na Lingerie
05)
Honky
Tonky (Patrulha do Espaço)
06)
Cê Tá
Pensando Que Eu Sou Lóki?
07)
Desculpe
08)
Navegar de
Novo
09)
Te Amo
Podes Crer
10)
É Fácil