Por Davi Pascale
No ano passado, os Rolling Stones retornaram ao Hyde Park para mais duas
apresentações durante a turnê que celebrava os 50 anos de banda. Ao contrário
de sua primeira apresentação no local, os músicos esbanjavam alegria e
profissionalismo. Esse registro pode ser conferido agora em LP, CD, DVD e
Blu-ray.
Em 1969, os Rolling Stones fizeram uma apresentação gratuita no Hyde
Park, atraindo mais de 500.000 pessoas ao local. Entre elas, estava o beatle
Paul McCartney, inclusive. A apresentação que celebrava a volta dos Stones ao
palco depois de um hiato de dois anos, e a estreia do musico Mick Taylor,
acabou sendo marcado por um acontecimento trágico. Brian Jones, primeiro
guitarrista do conjunto, demitido há algumas semanas, era mais um dos que se
juntava à maldição do 27. O garoto morreu afogado na piscina de sua própria
residência. Os laudos apontaram ingestão de álcool e drogas, mas há quem
sustente que ele teria sido assassinado pelo empreiteiro Frank Thorogood que
estava fazendo reformas no local. A tragédia ocorreu no dia 3 de Julho, 2 dias
antes da apresentação.
Chocados com a notícia da morte de Brian, os músicos decidiram dedicar o
show ao colega. Antes de começarem a tocar, Mick Jagger leu um poema em
homenagem ao garoto e soltou várias borboletas no palco, fato que ajudou com
que a performance ficasse conhecida como ‘O Show das Borboletas’ aqui no
Brasil. Juntou o choque dos músicos, entrada do novo integrante, o fato de
estarem bastante tempo longe dos palcos e a falta de tecnologia da época, o
resultado não poderia ser diferente. Os Rolling Stones fizeram uma de suas
piores apresentações. Guitarras fora de afinação e músicos, por vezes,
dessincronizados, marcaram o evento. A plateia, entretanto, parecia não se
importar. Talvez estivessem felizes por assistir um grande nome do rock de
graça. Talvez estivessem felizes por seu retorno. Talvez estivessem
compreensivos com a morte de Brian Jones. Talvez um pouco de cada, por que não?
Músicos estavam a vontade em nova apresentação no Hyde Park |
O fato é que em 2013 foi exatamente o oposto. Durante 2 horas, os
músicos recordaram clássicos de diferentes fases de sua carreira, onde curtiram
cada minuto em cima do palco. Fizeram 2 shows. O primeiro no dia 6 de Julho. E
o segundo no dia 13. Ambos, com ingressos vendidos e esgotados. Depois de meio
século juntos (tudo bem, teve algumas idas e vindas), seria estranho se o
conjunto não estivesse sincronizado. Se por um lado não existe mais aquela
espontaneidade toda, de outra o entrosamento é muito maior. A plateia, é claro,
mais uma vez foi ao delírio.
Mick Jagger nunca foi um cara de cantar notas altíssimas. Portanto, mesmo aos 70 anos de idade, consegue interpretar todo o repertorio do show, sem deixar a desejar. Aliás, o pique dele é impressionante. Continua fazendo os mesmos movimentos, as mesas dancinhas, as mesmas corridas de palco de quando os assisti em 1995. Charlie Watts sempre com sua batida reta e precisa ajuda a manter a magia. É inegável que seu estilo de tocar é uma das marcas dos Stones. Keith Richards e Ron Wood continuam encantando todos com seu jeito desleixado e único.
O clima de festa não foi a única diferença. Mick Jagger está certo quando diz no início do filme que não teria como o evento ser igual ao de 69 porque os tempos eram outros. A primeira grande mudança que notamos é justamente na plateia. Se na primeira vez, seus espectadores eram formados praticamente por hippies, dessa é formado por um ambiente quase familiar. Há ainda aqueles mais velhos que tentam manter a ideologia hipponga. Mas também há, entre as 65.000 pessoas, inúmeros jovens com seus cabelos perfeitamente penteados, sua roupa devidamente moldada. Há grupos de amigos. Mãe e filha. Criança, adolescente, adulto. Tudo misturado. No filme Stones In The Park tinha uma cena onde o narrador falava que estava feliz porque até aquele momento não havia ocorrido incidentes, o que ajudava a demonstrar para as pessoas que shows de rock também era um lugar onde as pessoas iam para curtir a música. É nítido de que era uma resposta à imprensa, igrejas e classes conservadoras que consideravam a banda e o gênero uma má influência aos jovens. Isso agora é passado. Ao menos para os Stones, já que de tempos em tempos, o pessoal decide pegar um artista para Cristo.
Mais de 500.000 pessoas compareceram ao show de 1969 |
E não para por aí. Se no trágico concerto, os Stones tocavam em um palco
quase amontoados com o Mick gritando em vários momentos para que pudesse ser
ouvido e público invadindo, agora trazem um espetáculo de primeira grandeza. A
produção atual conta com palco secundário, rampas, enormes telões, equipamentos
de primeira geração, vários músicos de apoio. Sim, Stones também é um megashow.
A parte de segurança também evoluiu. Na primeira vez, a banda havia contratado os motociclistas Hell´s Angels para cuidarem da segurança. Os rapazes simplesmente carregavam cada pessoa que tentava invadir o palco em seus ombros, literalmente. Agora havia uma equipe profissional no local. Mas há um momento de revival no espetáculo. Em “Midnight Rambler” e no hino “(I Can´t Get No) Satisfaction” o mesmo Mick Taylor que fazia sua estreia em 69, junta-se aos rapazes no palco para relembrar os velhos momentos. Sem dúvidas, um marco não apenas na história da banda, como na história do rock. Um vídeo que irá agradar tanto os novos quanto os velhos fãs. Imperdível!
Status: Histórico
Nota: 10/10
Faixas:
01)
Start Me Up
02)
It´s Only Rock n´ Roll
03)
Street Fightin´ Man
04)
Ruby Tuesday
05)
Doom and Gloom
06)
Honky Tonk Women
07)
You Got The Silver
08)
Happy
09)
Miss You
10)
Midnight Rambler
11)
Gimme Shelter
12)
Jumpin´ Jack Flash
13)
Sympathy For The Devil
14)
Brown Sugar
15)
You Can´t Alwas Get What You
Want
16)
(I Can´t Get No) Satisfaction
17)
Emotional Rescue (Extra)
18)
Paint It Black (Extra)
19)
Before They Make Me Run (Extra)