Por Davi Pascale
No inicio dos anos 90, o vocalista Dinho Ouro Preto brigou com seus amigos do Capital Inicial e abandonou o barco. O motivo alegado foi o mesmo de sempre: divergências musicais. Como todos sabem, essa é apenas uma desculpa criada para não lavar roupa suja em publico. Todo artista que lança essa é porque não quer discutir o assunto com a mídia. Essa é a verdade. Enquanto não for publicada uma biografia sobre a banda, não saberemos a real.
Tudo
o que sabemos é que, nessa fase, o Capital fez dois álbuns sem o Dinho e
o cantor fez dois álbuns sem a banda. O primeiro trabalho dele longe
dos rapazes foi o Vertigo. Talvez o álbum mais pesado que já tenha
lançado em sua carreira. E o segundo foi esse trabalho auto-intitulado
que chegou às lojas em 1995.
Lançado
pelo extinto selo “Rock It” e tendo o ex-Legião, Dado Villa Lobos, como
diretor musical, o vocalista não vivenciava uma fase muito boa. Longe
dos seus dias de glória e mergulhado em ecstasy (conforme revelou em
algumas entrevistas após seu retorno ao Capital em 1998), o rapaz voltou
a se apresentar em lugares minúsculos e caiu no esquecimento. Estava
cada vez mais distante do grande publico e da mídia.
Para
a realização deste trabalho, Dinho manteve os ex-Vertigo, Kuaker e
Mingau (atualmente no Ultraje a Rigor), e adicionou à banda o baterista
Alja. Se o disco anterior trazia como foque principal, guitarras cheias
de distorção e músicas rápidas, esse por outro lado trazia um rock mais
leve flertando com eletrônica.
Existe
um ponto em comum com o álbum anterior, contudo, os dois CD´s possuem
músicas curtas e duram um pouco mais de 30 minutos cada. Entre os
autores, além dos colegas de banda e da já esperada contribuição de
Alvin L, também temos outros dois grandes nomes da cena BRock entregando
canções inéditas: Roberto Frejat (Barão Vermelho) e Renato Russo
(Legião Urbana). O disco conta ainda com uma releitura de “Castles Made
of Sand” do guitarrista de Seattle, Jimi Hendrix.
Renato Russo contribuiu com faixa inédita |
O álbum começa com um clima soturno
contando apenas com alguns efeitos sonoros, uma percussão de fundo e
Dinho cantando quase como se estivesse falando. Aos poucos a música vai
crescendo com os arranjos de teclado e o baixo marcando em determinados
momentos. A letra acompanha esse clima tenso, quase sombrio, com versos
como “eu achava que eu tinha o direito, orgulho com um ponto de
exclamação”, “imaginava uma medalha no peito, em exemplo pra minha
geração”. Os versos soam quase como um arrependimento. Será que ele
tinha se arrependido de ter deixado o Capital? Tenho a impressão que
sim...
Na sequência, a
primeira música de trabalho, “Marcianos Invadem a Terra”, a composição
até então inédita de Renato Russo. Os fãs da Legião só conheceriam essa
faixa na voz do líder da Legião Urbana, no álbum póstumo “Uma Outra
Estação”, lançado em 1997. Essa é a que mais se aproxima da sonoridade
do Capital Inicial com uma roupagem mais direta, sem tantos
experimentos. “Ácido” traz de volta a sonoridade “U2 Zooropa”, em um dos
melhores momentos do CD. Depois de uma fraca versão de “Catles Made of
Sand”, o rapaz volta à boa forma em “Ela Morde” e “Alguém Como Eu”, segunda e última música de trabalho do disco.
“La
Costa Del Creme” inicia a segunda parte com uma pegada totalmente tecno
e com vocais cheios de efeito. Interessante, mas abaixo do nível.
“Kuala Lumpur” é uma vinheta instrumental, um elo para a boa faixa
“Storms”. Aqui, as guitarras voltam a aparecer em cheio em um
interessante contraste com as batidas eletrônicas que permeiam a música.
“Echo” deixa claro mais uma vez a influencia U2 anos 90, na marcação de
baixo e programação de bateria que me remete muito à canção “Numb” do
já citado Zooropa. Mais uma faixa contando com “sexo” como tema
principal e mais um dos pontos baixos, na minha opinião. O CD fecha com
“Ao Som de um Tambor”, uma boa parceria do ‘barão’ Roberto Frejat com a
‘sempre livre’ Dulce Quental. Uma balada pop rock. Aqui o eletrônico
entra apenas costurando a canção que tem o violão como grande destaque.
Ela me lembra um pouco a balada “Inverno” do álbum Vertigo.
Comprei esse CD na época em que foi lançado. Naquela ocasião, não compreendi muito bem. Tinha escutado o grupo tocando ao vivo em uma estação de rádio as faixas desse disco e os arranjos eram bem rock n roll, bem pesados. Quando ouvi esse trabalho flertando com a eletrônica, me confundi. Alguns anos depois, peguei esse trabalho para reescutar e acabei entendendo melhor. E para dizer a verdade não é tão distante assim de sua historia. O álbum “Eletricidade” do Capital já contava com alguns elementos eletrônicos de fundo. Aqui, a mistura ganhou apenas uma roupagem mais moderna. Se você curte aquela sonoridade que o grupo de Bono Vox apostou no inicio da década de 90 e que foi reproduzido posteriormente por grupos como The Cult e Simple Minds, ou até mesmo se você curte aquele som que apesar de ser um pouco mais pesado, mantém essa essência como Prodigy, Ministry ou até mesmo Nine Inch Nails, pode ser uma boa pedida .
Cena do clipe "Alguém Como Eu" |
Comprei esse CD na época em que foi lançado. Naquela ocasião, não compreendi muito bem. Tinha escutado o grupo tocando ao vivo em uma estação de rádio as faixas desse disco e os arranjos eram bem rock n roll, bem pesados. Quando ouvi esse trabalho flertando com a eletrônica, me confundi. Alguns anos depois, peguei esse trabalho para reescutar e acabei entendendo melhor. E para dizer a verdade não é tão distante assim de sua historia. O álbum “Eletricidade” do Capital já contava com alguns elementos eletrônicos de fundo. Aqui, a mistura ganhou apenas uma roupagem mais moderna. Se você curte aquela sonoridade que o grupo de Bono Vox apostou no inicio da década de 90 e que foi reproduzido posteriormente por grupos como The Cult e Simple Minds, ou até mesmo se você curte aquele som que apesar de ser um pouco mais pesado, mantém essa essência como Prodigy, Ministry ou até mesmo Nine Inch Nails, pode ser uma boa pedida .
Pena
que no Brasil exista a cultura mais do mesmo, ao contrario de outros
países que esperam constante renovação de seus artistas. Porque se fosse
o contrario, esse trabalho não teria passado batido. Bem gravado e
fazendo um som que trazia o que estava rolando na gringa e ninguém fazia
por aqui, Dinho Ouro Preto fez um trabalho maduro e à frente de seu
tempo. Um trabalho que merece ser redescoberto pela nova geração!
Tracklist:
01. Irresistível
02. Marcianos Invadem a Terra
03. Ácido
04. Castles Made of Sand
05. Ela Morde
06. Alguém Como Eu
07. La Costa Del Crime
08. Kuala Lumpur
09. Storms
10. Echo
11. Ao Som De Um Tambor