Por Davi Pascale
Depois de um hiato de seis anos,
grupo de Blackie Lawless solta novo álbum. Golgotha traz material extremamente sólido. Certamente, o melhor
trabalho do grupo em anos. Entretanto, o conteúdo das letras assustará boa
parte de seus fãs.
Vários fatores colaboraram com o
adiamento do novo disco: as cirurgias que Blackie Lawless passou (ombro e
perna), a turnê comemorativa de 30 anos (que deveria ter passado pelo Brasil,
mas teve seus shows cancelados), entre outros assuntos mais (a morte de seu
irmão também deu uma bela abalada no rapaz). O fato é que demorou, mas chegou.
É verdade que tem um tempo que não lançam um álbum de destaque na cena, mas também é verdade que a
qualidade de seus discos sempre foi alta. Lawless é um compositor de mão cheia. Foram
pouquíssimas vezes em que pisou na bola. Aqui, não é diferente. Golgotha traz, mais uma vez, arranjos
bem resolvidos com ótimos riffs de guitarra, a voz sempre potente de Blackie
Lawless e vários elementos que resgatam a sonoridade clássica do grupo.
Integrantes que seguem na ativa |
“Scream”, responsável por abrir o
álbum remete automaticamente ao início dos anos 90, quando o grupo lançou o
emblemático The Crimson Idol. “Last
Runaway”, “Shotgun” e “Fallen Under” resgatam a sonoridade clássica do grupo. “Shotgun”
traz aquele ar rock n´ roll, assim como haviam feito no clássico “Blind In
Texas”. “Fallen Under” traz um ar hard rock e um refrão altamente memorável. “Slaves Of The New World Order” resgata a
sonoridade dos tempos de “Murders In The New Morgue”. Provavelmente, as melhores composições dos rapazes em anos.
Mesmo sendo um grupo de heavy
metal, o W.A.S.P. nunca teve problema com baladas. Temos duas aqui: “Miss You”,
escrita em homenagem ao seu irmão que faleceu em 2012, e “Golgotha”. Nesta
última, temos algo que nunca imaginaríamos. O rapaz cantando frases como “Jesus,
I need you now. Show me your love somehow” (Jesus, eu preciso de você. Me
demonstre todo seu amor). Chegamos ao momento crucial do disco.
Enquanto os arranjos resgatam vários
elementos da sonoridade clássica do grupo, as letras adotam uma nova postura.
Blackie Lawless, líder da banda, declarou recentemente ter redescoberto sua
paixão em Cristo. As letras do novo disco são escritas com forte influência da bíblia. Babylon
já havia sido influenciado pela bíblia, na verdade, mas retratava o lado mais obscuro. Sua letras falavam sobre guerra, fome, peste e morte. Ou seja, os quatro cavaleiros do Apocalipse. Aqui, as letras estão mais clean.
Mais voltadas para fé. O próprio nome do disco já entrega a deixa. “Golgotha” seria o local onde Jesus
Cristo teria sido crucificado.
Blackie Lawless em ação nos anos 80 |
Muitos podem me perguntar: há
algo de errado nisso? Sim, e não. Na verdade, nunca me importei com isso e
gosto do trabalho de algumas bandas cristãs como Whitecross, Stryper e Holy Soldier. Entretanto, a mudança vem
dividindo a opinião dos fãs. E no caso do W.A.S.P. dá para entender. Nos anos
80, os caras foram aquela típica banda que os pais odiavam e a garotada amava.
Compraram brigas com censores por conta de capa de disco. Seus shows teatrais
eram repletos de imagens chocantes. Blackie bebia sangue de dentro de um crânio. Na turnê de Kill Fuck Die,
simulava uma cena de estupro com freiras grávidas. Diziam que a sigla de seu
nome significava “We Are Sexual Perverts” (Somos Sexualmente Pervertidos). Uma banda com essa postura ir por
esse caminho não é algo esperado entre seus seguidores, certo?
O disco, contudo, é excelente. As
faixas são acima da média. Acompanhando Blackie Lawless temos: o baixista Mike
Duda, o guitarrista Doug Blair e o baterista Mike Dupke. Sim, Dupke, abandonou
o grupo, mas quando o fez, o disco já estava gravado. Se você não se importa
com o novo caminho adotado por Lawless nas construções das letras, vá fundo!
Nota: 9,0 / 10,0
Status: Arranjos inspirados
Faixas:
01)
Scream
02)
Last Runaway
03)
Shotgun
04)
Miss You
05)
Fallen Under
06) Slaves
Of The New World Order
07) Eyes Of My Maker
08) Hero Of The World
09) Golgotha