Por Davi Pascale
Assim como aconteceu com o Charlie Brown Jr. e o Jota Quest, a cantora
soteropolitana Priscila Novaes Leone apanha do publico mais radical e de boa
parte da critica. As razões são as mesmas: linguagem jovem e fome de sucesso
sem medo de ser comercial. Entretanto, até o momento, é a única artista a
conseguir um nome realmente forte e uma carreira estável na cena rock
mainstream brasileira depois da era digital.
Quando atingiu a popularidade era
constantemente comparada à Alanis Morissette e Amy Lee (Evanescence), mais por
conta de seus cabelos compridos do que por conta da sonoridade. Porém, mesmo
que a artista não goste da comparação, há ao menos duas similaridades entre as
três: a influência do rock alternativo e as letras pessoais. Claro que cada uma
tem seu estilo, mas a essência é a mesma.
Em seus dois primeiros álbuns
solo, a influência do grunge era perceptível. Não apenas em seus discos, mas
também em seus shows. Principalmente nas apresentações de seu debut quando
ainda contava com a presença do guitarrista Peu Souza. Com o músico tocando com
o instrumento lá embaixo, sem camisa, bermuda xadrez e uma garota baixinha, se movimentando em círculo, correndo de um lado para o outro e gritando aos plenos
pulmões, nem precisaria dos trechos de “Lithium” (Nirvana) ou de “Would” (Alice
In Chains) no meio de “Máscara” para nos lembrarmos da cena que invadiu as
rádios no início da década de 90.
Cantora em apresentação no inicio da fama |
Embora suas canções sejam
comerciais, há uma honestidade ali. E, talvez, por essa razão tenha acompanhado
sua carreira tão de perto nos últimos 10 anos. Nunca curti muito esses caras
que são a cópia da cópia da cópia. Até tem alguns artistas assim que gosto e
acompanho, mas são poucos. E, de boa, essa mentalidade ‘quero viver de música,
mas não quero ser comercial e nem tocar na rádio’, tem que acabar. Até porque é
contraditória. Para viver de musica, você tem que ter público. Para ter público,
é necessário que tenham acesso ao seu trabalho. Para isso, é necessário estar
na mídia. E para estar na mídia, é necessário que você tenha um trabalho acessível,
caso contrario não irão investir em seu projeto. E é possível, sim, fazer um
som pesado e comercial, a já citada canção “Máscara” é uma prova disso. Se
pensarmos em mercado internacional poderia citar System of a Down, Faith No
More e até mesmo, Metallica como exemplos de um som pesado e vendável. Sem contar, que é necessário termos nomes fortes no mainstream para o estilo poder continuar vivo.
Antes de se tornar um ídolo para a garotada da
geração 00, trabalhou como recepcionista em um estúdio e participou de ao menos
duas bandas: She´s (onde tocava bateria) e Inkoma. Com essa ultima, passou a
assumir a postura de vocalista e começou a compor em português. Diferente do
seu trabalho atual, a banda de hardcore apostava em letras mais criticas. Foi
com eles que ela lançou seu primeiro CD, atualmente fora de catálogo, Influir.
Confundiu a cabeça de todos com Chiaroscuro.
A imprensa dizia que ela tinha tentado mudar, mas não tinha conseguido. O que
não era verdade. Surgiram novas influencias: de tango à Strokes. As guitarras
perderam um pouco do overdrive. As letras ganharam novas conotações. Claro que
não dá para dizer que ela fez um trabalho psicodélico, mas certamente está
longe de ser mais do mesmo. Os fãs a acusavam de ter se tornado uma artista
pop. O que também não é verdade. Não é pelo tanto de grito, nem pela quantidade
de distorção que se mede quão rock n´ roll é um álbum. E inovações são sempre
bem-vindas.
Quase sempre de cara fechada e
sem medo de falar o que pensa, muitas vezes, é vista como arrogante. Lembro
quando assisti a gravação de seu primeiro DVD ao vivo, (Des)Concerto, a vocalista
se irritou com o coro de “gostosa” da platéia e mandou “gostosa é o caralho” no
microfone, no meio do show. A molecada deve ter ficado sem graça. Nas
entrevistas sempre dispara “não quero ser exemplo pra ninguém”. Mal sabe ela
que seu mantra não funcionou. Perdi as contas de quantas meninas vi na platéia tentando
imitá-la nas roupas, nas tatuagens, nos cabelos... E, ainda bem, que ela não
escuta o que os meus amigos falam sobre ela. Senão, iria descer a mão em todo
mundo. Basta citar seu nome e sempre tem um para dizer que acha ela gostosa. É
só questão de tempo...
Embora tenha ganhado fama fazendo
um som pesado, com fortes influências de grunge, seu último trabalho foi
exatamente o oposto. Ao lado do guitarrista Martin, o ex-Cascadura que está ao
seu lado desde Anacrônico, o Agridoce foi um trabalho totalmente suave, leve,
quase folk. Gostei muito do trabalho, mas infelizmente, muitos fãs, mais uma vez, não
compreenderam.
Este ano, foi lançado uma edição
em LP de Admirável Chip Novo em comemoração aos 10 anos do disco.
Acompanhado de um pôster, o vinil foi prensado em cor roxa e vinha em formato
de capa dupla. Certamente, um investimento alto. Investimento que, com o
mercado atual, só é realizado com aqueles que já conseguiram se transformar em
uma marca. Tarefa difícil de concretizar nesse ‘admirável mundo novo’ em que
estamos vivendo. Nessa primeira década de existência, Pitty conseguiu muitas
conquistas, vejamos o que ela nos trará nos próximos anos...