Por Davi Pascale
Livro passa a limpo a trajetória de
um dos nomes mais fortes da cena gaúcha. Escrito de maneira jornalística,
publicação demonstra uma banda íntegra e bem administrada.
O auge comercial do rock n roll,
no Brasil, foi a década de 80. Embora as cenas de São Paulo e do Rio de Janeiro
tenham dominado as rádios, havia uma galera que conseguia furar a barreira.
Surgiram grandes nomes de Brasília, da Bahia e também do Rio Grande do Sul. Um
desses nomes foi o Nenhum de Nós.
Nos primeiros anos, dava a
impressão de que ninguém derrubaria os caras. “Camila, Camila” e “Astronauta de
Mármore” (versão em português de “Starman” do camaleão David Bowie) tocavam a
exaustão nas rádios. Com o tempo, a mídia foi se afastando dos caras. Existem
casos que são compreensíveis, como quando o líder da banda pula fora do barco
ou quando insistem em se desligar do som e da imagem que os consagrou. Só que
isso nunca aconteceu no universo do Nenhum de Nós e os rapazes conseguiram
manter a qualidade dos seus álbuns com o passar dos anos. Dessa galera que faz
um som mais comercial, é uma das bandas mais interessantes que temos.
Realmente, uma pena...
Marcelo Ferla escreve toda a
trajetória dos garotos de Porto Alegre. Contando com uma linguagem simples e
diversas ilustrações, a leitura corre fácil. Tendo contado com o apoio dos próprios
músicos, o livro traz vários depoimentos interessantes. Desde as gravações dos
discos até curiosidades da estrada.
Explicam o porquê de muitos torcerem
o nariz para os garotos e os acusarem de ser uma armação de estúdio (o que, de
fato, nunca foram). Comentam a chegada
ao mercado independente, explicam as letras de “Camila, Camila” e “O Astronauta
de Mármore”, seus maiores sucessos. Enfim, material bem bacana...
Durante a leitura fica claro que
as gravadoras não tinham a menor preocupação artística com seus contratados, somente
com as vendas. Algo que diversos artistas declararam ao longo dos anos e que os
executivos sempre negavam. Por mais de uma vez, declaram que mostravam o disco
empolgados para a gravadora e viam os responsáveis desprezando o material
alegando que não tinha uma nova “Camila, Camila”.
Mesmo longe dos holofotes da
grande mídia, os músicos conseguiram criar uma boa leva de seguidores e criaram
uma carreira íntegra. Até hoje, se mantêm soltando álbuns e fazendo shows.
Souberam se reinventar também na questão de estrutura. E isso torna a história
ainda mais intrigante.
Os músicos se demonstram bem pé
no chão, mostram que nada foi por acaso. Em cada disco, sabiam exatamente o que
queriam passar e mantinham seus ideais, mesmo quando o produtor torcia o nariz.
Livro altamente recomendado para aqueles que querem conhecer um pouco mais da
historia do grupo de Thedy Corrêa e também para aqueles que querem ter uma
noção de como funciona os bastidores da indústria musical (a historia da pisada
de bola do músico Seu Jorge é realmente lamentável). Recomendadíssimo!