domingo, 9 de março de 2014

Penelope: Rock Meteorico




Por Davi Pascale

Encerro a nossa semana em homenagem às mulheres falando de uma banda brasileira. Inicialmente, tinha pensado em fazer um artigo falando das vozes femininas mais relevantes de cada década, mas me dei conta de duas coisas. A primeira é que a voz feminina mais importante dessa geração já recebeu um artigo em sua homenagem.  Escrito por mim, inclusive. O outro fator que me fez desistir foi perceber que havia nomes muito fortes ali que mereceriam algo muito maior do que algumas poucas linhas. Portanto, preferi guardar algumas balas. Entretanto, acho que seria injusto dar o assunto por encerrado sem recordar alguma artista brasileira. Quis sair das homenagens óbvias, como Rita Lee, e resolvi trazer um grupo que, apesar de ter tido algum destaque, poderia ter ido muito mais longe: o Penélope.

Assim como a artista já previamente homenageada, a Pitty, o grupo de Erika Martins surgiu em Salvador. Embora a Bahia seja conhecida atualmente por ser a ‘terra do axé’, alguns nomes bem singulares vieram de lá como Raul Seixas, Camisa de Vênus e Cascadura, só para citar alguns. Atendendo inicialmente pelo nome de Penélope Charmosa, o grupo fazia um rock básico, com forte apelo popular, deixando nítido suas influencias brasileiras como o rock dos Mutantes e da Jovem Guarda.

Surgida em 1995, o grupo demorou 4 anos para conseguir gravar seu primeiro álbum Mi Casa, Su Casa. Já vinham chamando a atenção da mídia especializada, no entanto, desde 1997 quando venceram o festival Abril Pro Rock (festival de musica independente que acontecia no Recife e que, apesar de ter durado pouco, ajudou revelar grandes nomes dos anos 90 como Chico Science & Nação Zumbi, Mundo Livre S/A e Los Hermanos). Quando lançaram seu debut, encontraram como solução encurtar o nome já que a empresa Hanna Barbera não autorizou a utilização de Penelope Charmosa e o conjunto já tinha uma certa fama no circuito underground.

Os três discos lançados pela Penélope
 
Seu trabalho de estréia emplacou duas faixas nas rádios. Curiosamente, uma delas -“Namorinho de Portão” – era uma musica de Tom Zé e a outra – “Holiday” – foi composta nitidamente tendo “Telefone” da Gang 90 como base. Entretanto, 90 % do publico que os acompanhou, pelo menos em um primeiro instante, não se ligou nesse detalhe. O restante do disco trazia guitarras intercalando som limpo e distorcido, algumas faixas contando com uma psicodelia à La Mutantes, e o vocal sempre adocicado e inocente de Erika que nos remetia aos tempos de ouro do rock n roll. Completavam o time nessa época; a baixista Erika Nandes, a tecladista e flautista Constanza Scofield (esposa do falecido produtor musical Tom Capone), o guitarrista Luizão e o baterista Mario Jorge (do cultuado Uteros em Furia)

As três garotas eram bonitas e logo, passaram a chamar atenção dos marmanjos, mas esse fator não atrapalhou a carreira. Elas nunca exploraram esse lado sexual, sempre foram muito discretas. Portanto, a atenção não foi desvirtuada.

Mantendo o mesmo lineup, colocaram nas lojas o CD Buganvilia em 2001. A chance das garotas se consagrarem foi para o ralo depois que a gravadora Sony Music dispensou o grupo pouco após o seu lançamento. Realmente, uma pena. Aqui, davam um passo à frente. As composições tinham amadurecido muito, as letras saíam um pouco daquele universo feminino que insistia em rodear o primeiro álbum. Sem duvidas, seu melhor trabalho. No disco, temos a participação de uma cantora que foi um marco na Jovem Guarda. Wanderléa faz uma divertida participação em “Não Vou Ser Má”. A faixa lembra um pouco as músicas daquela época e as brincadeiras da ternurinha nos remete ao seu velho sucesso “Pare o Casamento”. É certeza que se inspiraram em seu antigo hit para criar as falas dela aqui.

Wanderléa participa de "Não Vou Ser Má"
 
Buganvilia foi lançado na mesma época de Bloco do Eu Sozinho. Aconteceu com esse disco, exatamente o mesmo que aconteceu com o dos Los Hermanos. A crítica enalteceu, o publico o considerou infinitamente superior ao debut e a grande mídia torceu o nariz. O grupo de Marcelo Camelo não se abalou, seguiu em frente e conseguiu dar a volta por cima, conquistando fãs extremamente fieis. Já o grupo de Erika Martins, se abalou com a situação e a coisa começou a degringolar.

Acho que erraram um pouco na escolha das canções de trabalho também. Não sei se foi opção delas ou imposição da gravadora, mas não considero “Caixa de Bombom” e nem “Ciranda da Bailarina” como faixas com potencial para hits. Teria apostado em “Nada Melhor Pra Mim”, “A Menor Distancia Entre Dois Pontos” ou até mesmo na já citada “Não Vou Ser Má”. Outra opção seria a balada “Continue Pensado Assim”. É triste, mas a soma de uma escolha errada com um certo desprezo da gravadora fez com que o álbum não ganhasse o destaque merecido.

Imagem da última formação

Em 2003, lançaram seu ultimo disco: Rock, Meu Amor com Fifi substituindo Erika Nande. Trata-se de um CD de covers onde os grandes destaques ficam por conta da releitura de “Fórmula do Amor” e “Sem Você” (versão em português que fizeram para o sucesso “Inbetween Days”, da banda The Cure). Um trabalho divertido, alegre, mas não tinha a mesma intensidade dos anteriores. Um pouco da magia havia se perdido. Já dava indícios de que a chama começava a se apagar.

Não demorou muito e foi divulgado um comunicado no inicio de 2004 anunciando a separação. Não explicavam o motivo, mas acredito que elas tenham desanimado com tudo que estava ocorrendo. Gravadora abandonando o barco, mídia desprezando e integrantes trocando... Com a mesma intensidade em que apareceram, sumiram. Não sei muito o que aconteceu com os músicos. A única que tenho acompanhado de perto é a vocalista Erika Martins, que lançou um álbum auto-intitulado bacana em 2009 e no finalzinho do ano passado soltou um novo CD chamado “Modinhas”. Tive dificuldades para encontrá-lo, mas consegui. Estou para receber meu disco. Assim que isso ocorrer, faço uma resenha aqui no blog. Quem gosta, fica esperto.