Por Davi Pascale
Ícones do thrash metal brasileiro lançam seu sétimo disco de inéditas.
Gravado no estúdio da banda e produzido pelos próprios músicos, o grupo segue à
risca a fórmula que seguem à tantos anos e entregam um dos melhores álbuns
nacionais do ano.
Sempre que se comenta sobre thrash brasileiro, a primeira coisa que vem
à mente é o Sepultura em sua fase Max Cavalera. Beneath the Remains, Arise
e Chaos A.D. atualmente são
considerados clássicos do metal nacional. Entretanto, essa mesma cena entregou
outros nomes de altíssima qualidade que são super manjados por quem a frequenta,
mas constantemente esquecidos pela grande mídia. Entre essas, poderia citar,
sem medo de errar, o Dorsal Atlantica e o Korzus.
O começo do Korzus foi exatamente como o começo de qualquer banda de
metal brasileira dos anos 80. Cheio de garra, ideologia, contavam com um público
fiel. Investimento zero (no sentido de empresários e gravadoras). Tudo era suado. Os caras ralavam para manter o projeto
em pé e para conseguir colocar um LP no mercado. Os discos, quase sempre, eram
mal gravados. Não era raro uma banda gravar tocando ao vivo como se fosse um
ensaio. O primeiro trabalho do Korzus, inclusive, era um EP ao vivo com o áudio
extraído de uma gravação em fita k7. Conforme iam crescendo, iam se
profissionalizando.
Em 2014, com uma carreira de mais de 30 anos de estrada, essa fase mais
amadora já ficou para trás há um bom tempo. A banda amadureceu em todos os aspectos.
Nos arranjos, nas letras, no trabalho vocal e, é claro, na sonoridade do álbum.
Já faz um tempo que o guitarrista Heros Trench e o vocalista Marcello Pompeu
tem atuado nessa área de produção de discos. Recentemente, se destacaram pelo trabalho realizado com o trio Nervosa (já
resenhado nesse blog) e são eles quem estão por trás desse CD. Pompeu
atacando como engenheiro de som e Trench atuando como produtor. O resultado não
poderia ser mais positivo. Pesado e bem definido. É possível distinguir com
clareza o que cada músico está tocando e compreender cada palavra que Pompeu
canta.
Grupo entrega álbum thrash old school com canções inspiradas |
O grupo não inventa moda. Segue fazendo aquilo que sabe de melhor.
Thrash old-school. A dupla Heros Trench e Antonio Araujo entregam riffs poderosos.
Rodrigo Oliveira é um verdadeiro monstro na bateria. Sempre gostei do estilo de
Marcello Pompeu cantar. Lembro que o primeiro contato que tive com o grupo foi
em sua apresentação no festival Monsters of Rock 1996 e um dos fatores que me
chamou a atenção foi o trabalho vocal. Agressivo, mas sem ficar urrando. Sem dúvidas,
um belo diferencial em relação à tantos outros grupos que têm por aí (muitos,
talentosos até). O baixo continua a cargo do lendário Dick Siebert.
A influência de Slayer continua a todo vapor. Para quem acha que é
perseguição por conta da interpretação de “Evil Has No Boundaries” no EP ao
vivo, recomendo escutar com atenção faixas como “Lamb”, “Die Alone” e “Purgatory”.
Tente escutar essas faixas e não se lembrar do grupo de Tom Araya. Legion traz composições inspiradas
alternando arranjos agressivos com cadenciados em um trabalho empolgante. Os
grandes destaques ficam por conta de “Die Alone”, “Bleeding Pride” e a faixa-título.
Vale destacar também a participação especial de Edu Ardanuy (Dr. Sin) em “Time
Has Come”.
O quinteto iniciou sua carreira cantando em português. Os velhos tempos
são revividos em “Vampiro”. Sonho Maníaco
é cultuado entre os fãs, mas o grupo não guarda boas recordações. Pouco após o
lançamento, o baterista Zema cometeu suicídio. Um choque e tanto para os
rapazes. O LP de estreia continha letras satânicas e isso mexeu com a cabeça
dos integrantes. Desde então, pararam de escrever sobre o assunto. “Six Seconds”
é uma música feita para levantar a plateia. “Bleeding Pride” reflete os
conflitos da Síria, mas muitas músicas refletem sobre nosso país. “Broken” é
meio que uma crítica ao governo e o modo como funciona. O tema ‘morte’ continua
presente, mas de forma menos fantasiosa. Não se fala sobre diabo e, sim sobre
guerras.
Korzus pode demorar a lançar um novo trabalho, mas quando lança faz
valer a pena. Mais uma vez, o alto nível foi mantido. Quem é fã, pode comprar
sem medo. Quem não conhece, favor correr atrás.
Nota: 9,0 / 10,0
Status: Empolgante
Faixas:
01)
Lifeline
02)
Lamb
03)
Six
Seconds
04)
Broken
05)
Vampiro
06)
Die Alone
07)
Apparatus
Belli
08)
Time Has
Come
09)
Purgatory
10)
Self Hate
11)
Bleeding
Pride
12)
Devil´s
Head
13)
Legion